Caro Jorge,
Sou uma lâmina afiada, sou fina e perigosa. Sou como manhã e trovoada, calma e barulhenta. Meus pensamentos são serenos, meu coração nem tanto. Tenho um tambor no meu espírito, aquele que você conhece bem, a liberdade vibra em forma de melodia. Sou doce mas tente se lembrar, que mesmo um doce pode lhe matar e não se esqueça jamais, meu bem, não se esqueça de mim na noite de luar em que seus cantos me encantaram e nossos corpos se uniram, para meu espanto. Serei eternamente sua Julieta, serei eternamente proibida, serei eternamente sua, eternamente na eternidade do romance que é breve, não passa de trezentas páginas curtas, de um sentimento tão doce como o que compartilhei.
Mas um dia, talvez você não lembre, eu lhe avisei que que eu corto mesmo vergando. Eu corto, eu vergo, não aguento muito coisa sem vergar mas eu não quebro, me machuco, mas não me toro. Porém, não me bata, meu bem. Não me arranque dos olhos a beleza que eu encontrei nos nos seus, não tente me frustrar pois serei eternamente grata aos teus braços pelos muitos momentos de alento e sempre serei engasgada pelas feridas abertas no meu coração. Beija-me, abraça-me, rasga-me. Você me ensinou a amar e a me defender, primeiro e último, último e eterno! Rei, príncipe, embaixador, coronel em farda de servente e a ele todos os créditos do meu torpor, do meu rubor, da minha dor... Te amo, te amarei para sempre como louca alucinada, como fera enjaulada, como vivente de um amor jovial que trouxe aos meus dias cansados a mocidade dos seu lábios.
Hoje, mesmo separada pelo espaço e pela história que construímos juntos, me pego escrevendo cartas para você. Lembra das nossas cartas? Aquelas primeiras em que eu entregava a sua prima para meu pai não saber que nos correspondíamos? Ah, as nossas doces cartas. Quantas boas pessoas devemos gratidão pelo nosso desfecho, mesmo não estando mais juntos. As nossas cartas uniram nossas almas, as palavras que precisavam ser bem colocadas, transformando letras em momentos, deixando alguns garranchos vivos para sentirmos a felicidade de mesmo distantes estarmos unidos por algumas frases melosas e inocentes, por um sentimento tão arrebatador. E por isso eu sempre escrevo para você, não lhe envio nada, mas na minha cabeça eu sempre mando cartas para o homem que me casei, para o jovem ambicioso que me tratava de maneira especial, para o homem da sanfona que tinha braços bonitos e era completamente proibido para mim. Meu doce marido, sinto como se você estivesse morto, o que de fato está, o homem que eu me casei se escondeu em algum lugar, eu não tive mais o meu poeta. Você ainda é aquele que sempre habitou os meus sonhos, infelizmente, vive apenas nos meus sonhos. Te amarei com rancor, com dor de dizer que tudo acabou assim, que toda a nossa história se resume a algumas lágrimas e um punhado de arrependimentos.
Enquanto isso, tenho o prazer de dizer que estamos bem. Nossos filhos estão bem; Bia está uma menina linda e viro minha língua a dizer que irá se transformar em uma moça digna de todo seu ciúme maluco e Pedro é um homem em miniatura, também há o Gael que você não conhece, não deu tempo. Louro tá bem, na medida do possível, tenho sempre que tirá-lo de alguma enrascada, esse papagaio fala muito palavrão! Até hoje não entendo o motivo de você ter o ensinado tantos! Custava recitar algum versículo bíblico para ele ao invés de músicas de qualidade duvidosa dos anos 70? Bem, é isso.
Espero que essa seja a última carta que eu lhe escreva, sabe como é... eu sinto sua falta mas fico tão bem sem você, me dói. Lhe superarei um dia, talvez quando Bia crescer e pare de falar o seu nome como se fosse o super herói dela ou quando Pedro parar de tentar ser o homem da casa para nos proteger me expondo o quão machucado ele ficou com nossa partida, talvez quando o Gael não chorar mais de madrugada e eu fique me culpando por ele ser o único dos nossos que não conhecerá teu braço quentinho e não saberá da sua cara de bobo enquanto aninhávamos nossos pequenos, nossos orgulhos. Nunca irei esquecer do amor que tínhamos, tínhamos.
Atenciosamente, aquela que hoje tenta ser um pouco menos sua.
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Nosso amar poético.
Romansa🔞Não recomendado para menores de idade. Jorge é um homem obstinado e destemido. Depois de uma vida inteira de privações financeiras, de forma honrosa, ele conquista um império bilionário, mas... a qual custo? O custo foi todo o seu coração tê-lo a...