Capítulo 02- Ele, que sou eu. Nós, que são eles. A todos nós. Família.

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T R A B A L H A R

T, letra T, vigésima letra do alfabeto, fonema Tê, consoante que se puxar um pouco para cima representa a cruz. Cruz que meus pecados foram perdoados.

A, letra A, primeira letra do alfabeto, fonema doce e feminino, vogal forte e pronunciada de boca aberta tal qual minha expressão a ver tua doce face passar pelos meus olhos,a expressão do grito, do pavor, do amor, da dor. A! Que se gritada com força chama atenção; -socorre a que grita! A que grita alto a letra A, de boca aberta e olhos estufados.

B, letra B,segunda letra do alfabeto, fonema Bê, consoante com duas barriguinhas, barriguinhas fofinhas iguais a de um bebê, inocente, doce, puro, dependente da mesma forma que eu, mesmo sendo adulto, sou de você.

L, letra L, décima segunda letra do alfabeto, letra que enrola que nem trava língua esquisito, fonema que criança sabe falar e faz cosquinha na boca, no céu dela; como os anjos ácidos caindo ao mundo e pagando por suas ousadias.

H, letra H, oitava letra do alfabeto, uma letra diacrítica, sabe o que é isso? Ela sempre é a segunda letra, ela é dependente, ela não tem valor nenhum isolada no meio da palavra, sempre a segunda letra do dígrafo. O engraçado de tudo isso é que é a letra da palavra Honra, depois de algumas reflexões vi o quanto a língua é perfeita, veja bem: toda minha Honra, meu orgulHo ou meu ser Homem, não teve valor nenhum quando faltou a letra O, de origem! Minha origem que são vocês e sem ela não há honra alguma, sem vocês eu não sou homem nenhum.

R... eu não lembro de nada sobre o R sem ser sobre de ti, somente de ti! Ó doce Raíssa. Por ti todo o trabalho, todas as noites mal dormidas, por ti meu sangue, seu nome talhado no meu coração me faz ficar aqui sem viver para poder viver com ti. Mesmo que meus sonhos tenham sido rasos demais para o mistério fabuloso que és tu e que todo esses meus sonhos não passaram de fábulas que acalentaram minha insuficiência e meu ego, por eles lhe vi partir e me vi morrer aos pés de um dragão.

Doce Raissa, minha cruz a ser carregada, minha menina/mulher, minha luz, minha tudo. A mãe dos meus filhos, a que trouxe nossa luz a vida e fez resplandecer aos meus olhos o milagre dos dias. Doce Raissa, meus trabalhos não serão suficientes para conquistar o teu perdão, se fosse a alguns meses diria que não queria que voltasse por pena, porém, no desespero em que me encontro? Volte como quiser, quando puder e de preferência o mais rápido possível mas ,mesmo que indevido, me faça até mesmo o impossível, que eu não mereço, para retornar aos meu braços. Que seja por pena mas que seja para mim.

E saiba que acabou minha honra, que se dane ! Do que vale? Do que me valeu?! Se a noite não há o cheiro dos nossos corpos preenchendo o quarto, se de manhã meu braço dormente não está enrolado em teus cabelos comuns e se seus olhos comuns não se abriram para mim cansados, de um marrom tão comum quanto o barro frio que moldou a existência e toda sua excelência, e que na sua forma tão comum,  tão normal de ser fêmea, com seu corpo tão comum de uma mãe, és tão importante para mim. Teu jeito de ser como uma Maria qualquer, mesmo sem ser Maria, tampouco sou  José, e para  a minha  paixão é uma Raissa. Dorme e acorda como todas as outras mas está aos meus braços sendo minha, e de forma impressionante e tão especial que no seu modo mais banal me torna teu todos os dias, até mesmo me tomando pela lembrança do que já fomos um dia. Que sorte essa de ter em meu coração e  em minha memória uma mulher tão comum para ser especial somente para um homem tão comum como eu.

Por isso, mesmo com o dia chuvoso ameaçando entristecer ainda mais meus sentimentos, mesmo com todo o palácio que em nossa união não pude lhe dar, mesmo sofrendo pelos meus erros, e foram muitos, queria ter você aqui, queria te ver feliz pela chuva e me encostar na varanda para ver você brincar com Gabriela e Pedro no quintal da nossa casa, eu trocaria toda minha fortuna para ver a cena dos seus pés descalços apressados tirando a roupa do varal e da sua voz me chamando:

Nosso amar poético. Onde histórias criam vida. Descubra agora