Capítulo Quinze

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Todas as células do corpo de Ian estavam em completa rebelião contra o que tinha acabado de acontecer com ele. As mãos se abriam e fechavam e ele tinha ganas de esmagar alguma alguma coisa com os punhos, de preferência o próprio crânio. O desejo pulsava pelo seu corpo a cada batida do coração, e dentro dele o caos se instalara. "Que a praga carregue aquela mulher!", pensou, desesperado.
Fechando os olhos, ele se recostou no banco. Tentou tirá-la da cabeça, mas era inútil. Toda a sua autodisciplina não era suficiente para apagá-la da mente nem para pôr fim à necessidade que ele tinha dela. Depois de Tess, Ian sempre havia limitado as suas ligações com mulheres a casos discretos. Amantes, se o seu trabalho lhe permitisse ficar em um lugar o tempo suficiente para um arranjo desses. Caso contrário, as cortesãs tinha bastado. Mas nenhuma mulher - nem amante, nem cortesã, nem mesmo Tess - havia feito iam se sentir assim antes, como um mendigo, como um rei, como um louco.
Ele olhava fixamente para o banco à sua frente, vendo Lucia, linda, quente e desejosa. A cada respiração, ele inalava a fragrância de flores de macieira que se exalava dela. Aquele cheiro estava por toda parte - nas mãos e nas roupas dele. Impregnava a carruagem, e não o deixava pensar. Ian puxou as cortinas para o lado e abriu a janela, respirando fundo o ar quente do verão, em uma tentativa de clarear a cabeça, baixar a excitação à força, buscar sentido em uma situação em que nada fazia sentido.
"Por favor, oh, por favor, oh..."
Mesmo no meio do trânsito de Londres, mesmo no meio do ruído das rodas da carruagem e dos cascos dos cavalos, os gemidos suaves e os pedido incoerentes dela o chamavam, o provocavam e lhe davam vontade de voltar.
A carruagem desacelerou em um cruzamento e Ian notou um trio de mulheres andando de um lado para outro perto de um poste de luz próximo de um beco escuro. Prostitutas, naturalmente. Ele estava em uma área pouco respeitável, e havia prostitutas por toda parte.
Ian levantou o braço e bateu o pingo com força três vezes no teto. O corpo dele implorava por alívio. O veículo parou, o cocheiro puxou o breque e Ian desceu.
- Espere aqui -  ordenou ele, e caminhou até onde estava o grupo de mulheres.
As três sorriram enquanto ele se aproximava, posicionando-se para que ele as examinasse. Ele acenou para a de cabelo loiro. Ela sorria, mostrando os dentes, sem dúvida porque tinha todos. A tez dela era clara, sem sinais de varíola, e seu corpo era bonito. Ele sempre tivera mesmo preferência por loiras, afinal.
Ela se adiantou, o sorriso mais largo. - Quer um trato, doutor? - murmurou, pondo a mão no peito dele.
- Venha. - Ele a pegou pelo braço e se dirigiu para o beco sem saída. No beco ficava um estábulo particular, com um portão. Ian a levou para um canto escuro.
- É um xelim para o de praxe - ela lhe disse. - Qualquer coisa a mais, o preço depende...
- Do quê?
Ela sorriu afetadamente, tocando com os dedos a seda da sua gravata larga.
- Do que o patrão vai querer.
O de praxe lhe servia perfeitamente. Se ela tivesse dito em libras, ele lhe teria pago. Ele pôs a mão no bolso, tirou a moeda exigida e a colocou na mão dela. Ela se inclinou e enfiou a moeda dentro do sapato.
Quando ela se levantou, ele a pegou pelos ombros e a pressionou contra o muro de tijolos enegrecido do beco. Ele a beijou. Ela tinha gosto de gim. Ele não se importava.
Com aquele beijo encharcado de gim, todos os seus vestígios de raciocínio se dissolveram. Enterrando o rosto contra o pescoço da meretriz, ele puxou a saia dela para cima. Com a mão livre, começou a desabotoar as calças. Os apelos excitados de Lucia ecoavam na sua mente e ele fechou os olhos, tentando fazer de conta que era dela a pele que ele beijava, mas um som estranho intrometeu-se na fantasia dele. Ian voltou a cabeça e olhou pelo portão para dentro do estábulo.
À luz da lua ele viu, no pátio do estábulo, um cão montando em uma cadeia, corcoveando sobre ela com um fervor tão frenético que a força de seus impulsos a fazia guinchar.
Ian olhou fixamente para os animais, subitamente paralisado. Anos de trabalho e disciplina, anos de prudência e razão, anos sendo um honrado cavalheiro britânico com casos discretos e comportamento impecável, e ele agora estava reduzido a agir como um cachorro no cio.
Com dificuldade, Ian tirou os olhos dos animais e olhou para aquele rosto de menina virado cima à sua frente - e viu que ela era mesmo uma menina. À luz da lua, com os olhos fechados e os lábios abertos em uma imitação burlesca de paixão, era difícil adivinhar qual era exatamente a sua idade. Talvez dezessete.
Ele se encheu de aversão por si mesmo. Não era um cachorro, e não poderia fornicar em um beco como um cachorro.
- Esquece - resmungou ele, afastando, pela segunda vez naquela noite, o seu corpo agonizando de uma mulher pronta e com as saias levantadas. Prova irrefutável de que ele realmente havia perdido a sanidade. Virou-se é saiu andando a passos largos, abotoando as calças a caminho, deixando a prostituta para trás, sem dúvida feliz da vida por ter ganhado um xelim sem fazer absolutamente nada.
Duro como pedra e ainda sentindo uma fúria maior do que um cavalheiro deve se permitir, Ian saiu do beco e voltou para a carruagem de aluguel. Pagou o cocheiro, dispensou-o e saiu andando. Percorreu as ruas de Londres, tentando recuperar o juízo e se livrar do feitiço que Lucia tinha jogado sobre ele, fosse o que fosse.
A cada passo, tentava voltar a ter consciência da realidade. Ele queria Lucia, mas não poderia tê-la. Ela não era para o seu bico. Era moralmente errado corromper a inocência de qualquer mulher jovem. Nesse caso, era suicidio para a carreira dele, uma carreira construída durante catorze anos.
No entanto, por mais que se esforçasse, ele continuava ansiando por ela com uma ferocidade que ia além do desejo comum, e a selvagens de seu próprio apetite carnal era algo que ele não compreendia. Nunca se sentira assim, e isso o levava a fazer coisas desesperadas, coisas que faziam dele um homem irreconhecível, coisas que iam contra tudo aquilo que ele sempre pensara sobre si mesmo. Entretanto, se ela estivesse ali naquele momento, ele jogaria fora a carreira e a honra apenas para tocá-la novamente e ouvi-la exclamar o nome dele.
Ian andou, andou, andou, exaustivamente, desejando poder parar apenas quando chegasse ao fim do mundo.

Muito Mais Que Uma PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora