A guerra

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Itaquê esperava sentado na cabana e cercado do carbeto dos anciões. Jurandir entrou; Araci ficou na porta, orgulhosa do esposo que a conquistara e da admiração que ele ia inspirar aos guerreiros da sua nação.

Itaquê falou:

— Quando o estrangeiro chegou à cabana de Itaquê, ninguém lhe perguntou quem era e donde vinha. O hóspede é senhor.

"Mas agora o estrangeiro saiu vencedor do combate do casamento e conquistou uma esposa na taba dos Tocantins.

"É preciso que ele se faça conhecer; porque a filha de Itaquê, o pai da nação dos Tocantins, jamais entrará como esposa na taba, onde habite quem tenha ofendido a um só de seus guerreiros."

O estrangeiro disse:

— Morubixaba, abarés, moacaras, e guerreiros da valente nação Tocantim, vós tendes presente o chefe dos chefes da grande nação Araguaia.

"Eu sou Ubirajara, o senhor da lança; e o maior guerreiro depois do grande Camacã, cujo sangue me gerou. Se quereis saber por que tomei este nome, ouvi a minha maranduba de guerra."

Ubirajara contou o seu encontro com Pojucã; o combate em que o venceu e a festa do triunfo, até o momento em que deixou a taba dos Araguaias.

Terminou dizendo que no seguinte sol partiria, para assistir ao combate da morte, como prometera ao prisioneiro.

Ninguém interrompeu a maranduba de guerra. Ubirajara ouviu um gemido; mas não soube que rompera do seio de Araci.

Itaquê arquejou como o rio ao peso da borrasca.

— Tu és Ubirajara, senhor da lança. Eu sou Itaquê, pai de Pojucã. Tenho em face o matador de meu filho; mas ele é meu hóspede!

"Chefe dos Araguaias, tu és um jovem guerreiro; pergunta a Camacã que te gerou, qual deve ser a dor do pai, que não pode vingar a morte do filho. "

O grande chefe vergou a cabeça ao peito, como o cedro altaneiro batido pelo tufão.

Pojucã tinha sua taba mais longe, na outra margem do rio. Ele partira na última lua para rastejar a marcha dos tapuias; e voltava senhor do caminho da guerra quando encontrou Ubirajara.

Seu pai e os guerreiros de sua taba pensavam que ele buscava na floresta o caminho da guerra. Mal sabiam que a essa hora esperava prisioneiro na taba dos Araguaias o combate da morte.

Anciões e guerreiros emudeceram. Todos respeitavam a dor do pai, e não ousavam perturbá-la.

Jacamim, a mãe de Pojucã, aproximara-se. O grande chefe ouviu seu gemido.

— A esposa de Itaquê não chora na presença do matador de seu filho. A voz do esposo, a mãe teve força para esconder no seio sua tristeza e mostrar-se digna do grande chefe dos Tocantins. Ubirajara falou:

— A vingança é a glória do guerreiro; Tupã a deu aos valentes. Ubirajara venceu Pojucã em combate leal e aceita o desafio de Itaquê e de todos os chefes Tocantins.

— Tu és meu hóspede; enquanto Itaquê brandir o grande arco da nação Tocantim, ninguém ofenderá o amigo de Tupã na taba de seus guerreiros. Dizendo assim, o grande chefe ergueu-se e trocou com o estrangeiro a fumaça da despedida.

— Parte. O sol que viu o estrangeiro na cabana hospedeira o acompanhará amigo; mas com a sombra da noite, mil guerreiros, mais velozes que o nandu, partirão para levar-te a morte. Ubirajara tomou suas armas e disse:

— O hóspede vai deixar tua cabana, chefe dos Tocantins; tu verás chegar o guerreiro inimigo.

Itaquê seguiu o estrangeiro até o terreiro; em torno dele se reuniram os abarés, os moacaras e os guerreiros para assistirem à partida.

Ubirajara (1874)Onde histórias criam vida. Descubra agora