Os tapuias voltaram; com eles vinha Agniná à frente de sua nação, para vingar a morte de Canicrã, seu irmão.
Era grande a multidão dos guerreiros; e maior a tornavam a sanha da vingança e a fama do chefe que a conduzia.
Não eram tantos os Tocantins; mas bastaria seu valor para igualá-los, se não lhes faltasse a cabeça, que rege o corpo.
A poderosa nação estava como o bando de caitetus que perdeu o pai e desgarra-se pela floresta, correndo sem rumo.
Os mais valentes moacaras, chefes das tribos, esperavam pelo grande chefe da nação para abrir-lhes o caminho da guerra.
Os abarés meditaram. Eles não podiam inventar um guerreiro capaz de suceder a Itaquê; mas não se resignavam a abater a glória da nação, trocando o arco invencível do grande Tocantim por outro arco mais leve, que Pojucã manejasse.
Também Pojucã anunciara que, não podendo brandir o arco de Itaquê, jamais empunharia outro arco-chefe, menos glorioso do que o do grande Tocantim.
Abarés, chefes, moacaras, guerreiros, toda a nação se reuniu em torno do herói cego.
Daquele que durante tantas luas defendera a nação com a força de seu braço e a protegera com o terror de seu nome, esperavam ainda a salvação.
O velho ouviu a voz dos abarés, a voz dos chefes, a voz dos moacaras, a voz dos guerreiros, e disse:
— Itaquê ainda pode combater e morrer por sua nação; mas sem a luz do céu, ele não pode mais abrir a seus filhos o caminho da vitória.
"O braço de Itaquê defendeu sempre a nação Tocantim; quer ela ser defendida agora pela palavra daquele, que não tem mais para dar-lhe senão a experiência de sua velhice?
"Pensem os abarés, os chefes, os moacaras e os guerreiros."
Guaribu respondeu:
— A nação pensou. Fala e todos obedecerão à tua palavra, como obedeciam ao braço de Itaquê.
— A voz do coração diz ao neto de Tocantim que a glória da nação que ele gerou não se pode extinguir. O sangue de Itaquê, passando pelo seio de Araci, se unirá a outro sangue generoso para brotar maior e mais ilustre.
"Assim a terra onde nasceu uma floresta de acajás, recebe o limo do rio e gera nova floresta mais frondosa que a outra.
"Jacamim, chama Araci, a filha de nossa velhice. E vós, abarés, chefes, moacaras e guerreiros, segui-me."
O velho herói atravessou a taba guiado por Araci.
A nação o seguia em silêncio.
Quando o guerreiro cego passava com a mão no ombro da virgem formosa que dirigia o seu passo incerto, os guerreiros lembravam-se do tronco já morto que a rama do maracujá ainda sustenta de pé junto ao penedo.
Os cantores iam adiante e entoavam um canto de paz.
Um mensageiro de Itaquê o precedera no campo dos Araguaias.
Ubirajara, cercado de seus abarés, chefes, moacaras e guerreiros, veio ao encontro do morubixaba dos Tocantins.
A alma do grande chefe Araguaia encheu-se da alegria de ver Araci; mas ele retirou os olhos da esposa, para que o amor não perturbasse a serenidade do varão.
— Ubirajara está em face de Itaquê; para combatê-lo, se trouxe a guerra; para abraçá-lo, se trouxe a paz.
— Nunca Itaquê pediu a paz ao inimigo que trouxe-lhe a guerra, antes de o vencer; nem teria vivido tanto para cometer essa fraqueza. Ele vem trazer-te a vitória para que tu a repartas com seu povo. O velho herói avançou o passo.