Não Posso Negar

O Ataque

Aquela conversa com Mikasa sobre a torta de maçã influenciou Levi a ter sonhos com a sua mãe que se assemelhavam a lembranças de seu passado de quando ela voltava para casa com uma sacola cheia de pães, exibindo um belo sorriso no rosto. Definitivamente era algo que mexia com suas emoções. Lembrava-o da dor de quando ela morreu e o deixou sozinho, e que dias bons também tinham o seu fim.

Despertou do seu sono apreciando um suave sabor de torta de maçã na sua boca devido ao teor do conteúdo do sonho, e embora sonhar com torta de maçã lhe trazia o sentimento de coisas boas, por outro lado sonhar com sua mãe lhe trazia a sombra de um sentimento mórbido e doloroso. Era sempre assim todas as vezes em que ousava fechar os olhos, alguma coisa obrigava ele a acordar com um aperto visceral em seu peito. Por isso, sempre optava por poucas horas de descanso. Horas suficientes para recuperar a energia do seu corpo.

Saiu do apoio do tronco da árvore estralando seu pescoço, praguejando mentalmente por agora ter uma imensa vontade de comer torta de maçã, mesmo que tivesse excluído doces do seu cardápio durante a sua estadia na Divisão de Reconhecimento. Ele ainda queria comer aquela torta, e a responsável por tudo isso tinha nome e sobrenome.

Ergueu do seu assento no galho e a imagem do sorriso de Mikasa admirando o pôr do sol veio de repente na sua mente sem um aviso prévio, deixando seu coração acelerado. Uma sensação quente e amistosa se expandiu dentro dele. Agora não poderia acreditar que eram apenas suspeitas, pois, conforme as coisas se seguiam tudo ficava mais claro. Chegaria um momento em que ele não poderia negar nem para ele, e nem para os outros que estava mesmo se apaixonando por ela. Então, até onde poderia evitar?

Possivelmente até onde conseguisse negar para si mesmo. Mas entendia que se não encontrasse um modo de retroceder, não iria ficar nessa por muito tempo.

Vasculhou por todo o perímetro dos galhos buscando a silhueta de Mikasa e não encontrou. Ficou tenso e angustiado, ela estava fora de suas vistas e do seu controle.

Olhou para baixo procurando vestígios de possibilidades dela ter descido por algum motivo e entrado em combate, e percebeu que alguns dos titans se dispersaram um pouco. Persistiu em encontrar alguma coisa que o ajudasse, mas a distância da qual estava acima do chão era muito grande o que dificultava uma melhor visão. Supôs que teria que descer alguns galhos abaixo para verificar melhor a área. Era o que ele faria.

Visualizou o galho do outro lado pelo qual desceria para se aproximar dos titans, pondo a mão em uma das lâminas para sacá-la do seu equipamento traçando uma linha estratégica muito rápido em sua mente, sabendo exatamente como iria agir, mas deteve-se quando escutou a voz dela do seu lado.

– Capitão, onde você vai?

Ele se virou enxergando Mikasa a sua frente com a bolsa pendurada em um corte transversal sobre o seu corpo, e com os braços cheios de frutinhas vermelhas que de longe soavam muito saborosas. Levi nunca acreditou que poderia sentir duas coisas diferentes ao mesmo tempo, um alívio por ela estar ali, e uma indignação por ela ter saído. Ela o olhava de um modo interrogativo e preocupado para a sua mão com a lâmina, compreendendo que ele pretendia descer.

–Onde você estava?– Foi visivelmente exigente com Mikasa, semicerrando os olhos.

– Estava em alguns outros galhos e acabei encontrando essas frutas, achei conveniente pegar. – Mikasa notou a cara fechada de seu Capitão. Diria que ele não acordou de bom humor.

– Falei para você não sair daqui. –Diz ele meio bravo, mesmo sabendo que ela estava explicitamente bem.

– Não, você disse que eu não deveria tentar me matar, e foi o que eu fiz. – Ela correu o olhar para ele despreocupada, oferecendo o braço com as frutas. – Peguei para você também. Pensei que talvez quisesse comer algo diferente do que a ração da tropa. –Ela fez uma pausa quando ele avaliou a qualidade das frutas com um olhar subjetivo. – Não se preocupe, estão limpas. Eu lavei para você, sei o quanto se importa com esse detalhe.