Ficando Mais Difícil

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A cada vez que exploravam o território e ficavam ainda mais longe das muralhas e de toda a civilização, mais as coisas tendiam a se tornarem complicadas. Ficaram nessa por dias e dias, e compreenderam que excederam muito o limite das suas próprias seguranças.

Demoraram encontrar alguma árvore segura para passarem o dia descansando novamente. Sempre que avançavam para frente, um novo tipo de vegetação surgia, e as árvores colossais e robustas se tornaram muito escassas por ali. Por sorte, encontraram aquela em específica que se destacava entre outras antes que o dia raiasse mais uma vez. Era alguns quilômetros longe do rio, mas ainda era possível enxergar e sentir a brisa refrescante roçando suavemente em seus corpos.

Levi estava concentradíssimo produzindo combustível caseiro para os seus equipamentos. Era um pouco trabalhoso e levava um determinado período de tempo porque precisava produzir para dois, mas não tinha do que reclamar quando aquilo fazia toda a diferença na vida deles agora.

Mikasa dormia serenamente como de costume, mas vez ou outra os traços de seu rosto ficavam muito dramáticos como se estivesse em algum sonho ruim, mas passado esse "reboliço" voltava a sua serenidade de antes. Às vezes ele gostava de observá-la dormir, ela tinha o sono da qual não conseguia ter em muitos anos. Ela dormia longas horas, totalmente entregue ao cansaço, por isso ele sempre permitia que Mikasa descansasse primeiro, porque ao contrário dele com seus problemas de insônia, ela descansava de verdade e conseguia ter maior proveito com aquelas horas que ele dava a ela.

Quando terminou de encher os cilindros com o combustível que conseguiu produzir, Levi retirou da sua pequena bolsa um calendário e uma caneta e rabiscou em cima de um número. Estavam a dezessete dias dentro da floresta, movendo-se a noite e descansando durante o dia, evitando o máximo possível combate direto com os titans, o que nem sempre era possível. Estava sendo muito exaustivo e seus recursos para a produção de combustível estavam se esgotando. O capitão nunca conseguia descansar direito, e tão pouco dormir sossegado. Estava ficando com terríveis orelhas, olhos cansados, e muito mais pilhado como de costume. A sua esperança era que essa missão no final das contas levasse a alguma coisa boa, a aquilo que estavam procurando.

Levi retirou da sua bolsa um utensílio de alumínio que serviria para fazer o seu chá, depois pegou a erva prensada dentro de um pacotinho de plástico e montou um pequeno fogo ali em cima do tronco. Olhou para baixo investigando a movimentação dos titans que tinham consciência que eles estavam ali em cima. Os números se tornavam cada vez maiores à medida que as horas se arrastavam, como se eles fossem inevitavelmente atraídos direto para aquela árvore em específico. Mais um motivo para não baixar sua guarda em nenhum momento, se forçando a ficar completamente desperto.

Mikasa piscou os olhos algumas vezes acordando do seu sono sublime, embora estivesse com o corpo todo dolorido por ter ficado muito tempo na mesma posição. Notou que o Capitão já preparava o seu habitual chá quando pode sentir um cheiro diferente no ar. Ele estava muito concentrado colocando a bebida em duas canecas como se ele soubesse que ela acordaria naquele instante.

–Desculpa se eu deixei você esperando demais. – Mikasa se pronunciou após um tempo, se dando conta que tinha dormido demais. Levi estava muito cansado, e ela conseguia perceber isto.

–Não tem porque me pedir desculpas. –Levi levantou passando a caneca com o chá para ela. –Não é como se tivesse perdido alguma coisa, afinal.

Mikasa pegou a caneca com as duas mãos e soprou suavemente para que o chá se tornasse morno enquanto observava o Capitão virar as costas e voltar ao lugar de onde estava. Tinha se habituado a tomar chá preto todos os dias em que acordava e em todas as tardes quando ele despertava, desde o primeiro dia que passou com ele em cima das árvores. Não era ruim comparado aos outros dias, estava se tornando delicioso até, sabendo apreciar o sabor como ele apreciava. Concluiu que tudo no fim das contas, era tudo uma questão de costume e não de gosto.

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