Capítulo 3

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Voltei!!
 
 
Divirtam-se!
 
 
Kara estava em sua mesa revisando mais uma de suas matérias. Apesar de adorar seu trabalho, não estava em um bom dia, tudo a sua volta estava a estressando. A cada dois minutos, ela bufava de forma irritada, principalmente por considerar que seu texto estava completamente horrível, mas não estava com ideias suficientes para refaze-lo de um jeito que a agradaria.
 
Sem pensar demais, a loira simplesmente apertou o enter o enviando para o editor chefe. Geralmente, não haviam reclamações de suas matérias, porém, era muito provavelmente que dessa vez tivesse. Mesmo assim, não estava disposta a esquentar mais sua cabeça com aquilo.
 
Assim que verificou se seu e-mail tinha sido realmente enviado, jogou a cabeça para trás e encarou o teto. Enquanto fazia isso, ficou se mexendo para lá e para cá em sua cadeira. Quase nunca isso dava certo para ela, mas tentou respirar fundo várias vezes até que a paz a encontrasse. Por incrível que pareça, a paz até a preencheu de uma maneira muito repentina, porém, não tinha nada a ver com seus exercícios de respiração.
 
— Dia difícil? — a voz com um sotaque inconfundível atingiu seus ouvidos.
 
— Sim, e nem sei o motivo — levantou a cabeça e encarou Lena — o que faz aqui?
 
— Vim falar com a sua chefe — Kara franziu o cenho — quero um espaço na revista física e no site para propaganda da L-Corp.
 
— Ah! — disse concordando com a cabeça lentamente.
 
— Vai estar disponível na hora do almoço? — se aproximou um pouco parando ao lado da mesa — fiz uma reserva naquele restaurante que você gosta. Podemos ir lá depois que eu falar com a Cat.
 
— Eu vou te agradecer muito se você me tirar daqui pelo resto dia.
 
A fisionomia de Lena que estava um tanto séria, logo se iluminou totalmente com o que ouviu. Embora estivesse conversando com Kara quase todas as noites, fosse por mensagem ou ligação, nada se comparava em conversar com ela pessoalmente. Um dia inteiro ao seu lado seria a mesma coisa que estar no paraíso.
 
— Se eu fizer isso, o que eu ganho em troca? — cruzou os braços a olhando nos olhos.
 
— O que você quiser. Farei o que você quiser sem reclamar — a morena gostou muito da resposta que ouviu.
 
— Tudo mesmo?
 
— Estou disposta a pagar esse preço.
 
— Então esteja preparada para ser toda minha pelo resto do dia — deu uma piscadela fazendo Kara abaixar um pouco a cabeça com um sorriso tímido.
 
— Estarei pronta, senhorita Luthor — respondeu voltando a olhá-la.
 
Se alguma de suas amigas estivessem em volta, veriam como as duas ficaram desconsertada com aquela conversa, ainda que não fosse algo inusitado. Frequentemente, falavam uma com a outra coisas que tinham um duplo sentido. Elas também se sentiam atingidas por suas palavras, mas tentavam fingir que não.
 
— Está na hora de eu ir subornar sua chefe. Nos vemos daqui a pouco e esteja pronta para mim.
 
— Eu nasci pronta.
 
Dando mais um sorriso, Lena seguiu em direção a sala da rainha da mídia. Kara a acompanhou com olhos atentamente, deixando um baixo suspiro escapar de seus lábios.
 
— Agora entendo porque ficou me dizendo que só seríamos amigas.
 
Com a voz vindo atrás de si, Kara quase deu um pulo da cadeira com o susto. Se sua irritação tinha ido embora, agora havia acabado de voltar um pouco.
 
— Do que está falando? — virou novamente a cadeira vendo Lucy parada na sua frente.
 
— Você e a Luthor — apontou de forma discreta em direção a sala da senhorita Grant — há quanto tempo rola isso entre vocês?
 
— Não rola nada entre mim e ela.
 
— Se somos amigas, como você mesma gosta de afirmar, pode ser sincera comigo — sentou na beirada da sua mesa — eu prometo que não divulgo o que acontece entre vocês pra ninguém da coluna de fofoca — Kara acabou rindo com o comentário.
 
— Estou falando sério — começou a arrumar sua bolsa — não acontece nada entre nós duas. Somos apenas amigas de longa data.
 
— As coisas mais difíceis de enxergar são as que estão bem à nossa frente.
 
— Como assim?
 
— Nada. Só lembrei dessa frase... aleatoriamente — deu uma olhada na loira que mantinha sua atenção em guardar suas coisas — preciso de sua ajuda — colocou algumas fotos a sua frente — preciso que escolha as fotos para as duas entrevistas que você fez recentemente.
 
— Não podia me mandar por e-mail? — se aproximou da morena para ver as fotos.
 
— Até poderia, mas prefiro à moda antiga.
 
Por um bom tempo, Kara ficou escolhendo as fotos e, algumas vezes, perguntava a opinião de Lucy, já que ela era a fotógrafa. Elas trabalhavam bem juntas, o que a morena fotografava sempre parecia está de acordo com o que a matéria da repórter propunha.
 
Quando terminaram de escolher, Kara questionou Lucy sobre seu novo interesse amoroso. A amizade delas até poderia ser recente, mas já dividiam bastante assuntos. Enquanto a fotógrafa contava como havia sido seu primeiro encontro, a loira ria sem parar de como o encontro foi desastroso, segundo as próprias palavras de Lane.
 
— Atrapalho?
 
— Lena Luthor! — Lane disse com um sorriso no rosto — que prazer em revê-la.
 
— Igualmente — retribuiu o sorriso de maneira forçada — podemos ir, Kara?
 
— Bom... — Lucy começou a se afastar — vou levar as fotos para o editor. Até mais, loirinha — Lena teve que se segurar para seus olhos não revirarem — Luthor — maneou a cabeça em sua direção.
 
— Lane — deu mais um sorriso forçado.
 
— Porque você não gosta dela?
 
— Você sabe que eu não gosto de quase ninguém — olhou para a amiga que desligava o computador — então aqui te chamam de loirinha agora? — perguntou como quem não quer nada.
 
— Não, só a Lucy — parou em frente a morena que estava séria por saber que a Lane havia dado um apelido para sua amiga — conseguiu?
 
— Existe alguma coisa que eu quero e não consigo?
 
Existia sim, Kara estava incluída nisso.
 
— Me desculpe, toda poderosa Luthor — falou em um tom brincalhão, mas carregado de sarcasmo, o que fez Lena tirar a carranca da cara — já pensou no que vai querer de mim?
 
— Daqui até o fim do dia você vai saber — colocou a mão em suas costas — primeiro, vamos almoçar.
 
Lena fez a reserva no mesmo restaurante que tinha feito no sábado. Não sabia se Kara iria aceitar almoçar com ela, mas valia a pena o risco. Desde aquele dia, a morena estava fazendo o que podia para ser mais presente na vida da amiga. Queria que a repórter entendesse que ela era importante demais e que pensava nela a qualquer momento do dia.
 
Não sabia dizer se isso estava dando certo, Kara poderia estar achando aquilo normal, mas estava com medo de demonstrar demais e a loira se assustar. Por isso, estava tentando ir com calma até o momento em que pudesse revelar a ela o que sentia e ela acreditasse. Seria difícil se fosse rejeitada. Seria ainda mais difícil se fosse rejeitada e perdesse sua amiga, no entanto, Sam tinha razão. Não dava para esperar Kara aparecer noiva de alguém para depois revelar seus sentimentos, tinha que fazer agora enquanto ela estava livre.
 
Minutos mais tarde, as amigas estavam entrando em um restaurante de comida oriental que ficava um pouco mais distante do fluxo da cidade. Elas acharam aquele lugar há alguns anos e fizeram dele um ponto de encontro em alguns almoços — ou melhor, a maioria dos almoços. Lena não era muito fã daquele lugar, comida oriental não era o seu forte, só ia ali para agradar Kara que adorava os postickers que vendiam.
 
Sentando-se em uma mesa em um canto um pouco mais reservado. Kara olhou tudo em volta percebendo que nada ali mudava. Além da comida, um dos motivos que mais a fazia gostar daquele lugar era que sempre estava acompanhada de Lena. Assim como nunca levou alguém diferente ali, esperava que a amiga também nunca tivesse levado. Gostava de pensar que aquele era um lugarzinho delas, pode-se assim dizer. O que a loira não sabia é que a Luthor se sentia da mesma forma que ela em relação aquele estabelecimento e em muitos outros que iam juntas.
 
— O que vai querer? — Lena a perguntou olhando o cardápio.
 
— Vou deixar você escolher pra mim.
 
Em um gesto simples, Lena chamou o garçom.
 
— Vou querer baozi no vapor, duas porções de postickers, uma frita com carne suína e a outra no vapor com legumes — varreu os olhos pelo cardápio novamente — uma porção de rolinhos primavera, uma coca — olhou para amiga que sorriu — e um suco natural de laranja, por favor.
 
— Sim, senhorita — disse terminando de anotar e logo se retirando.
 
— Fico admirada como você sabe bem o que eu quero.
 
— Deve ser porque você pede sempre as mesmas coisas. Me diz, porque estava nervosa quando cheguei na Catco? TPM?
 
— Na verdade, eu nem sei — apertou os lábios — acho que tanta responsabilidade está me fazendo pirar. E pode ser TPM. Ou os dois juntos.
 
— Mas não é bom a Cat estar fazendo isso? Não significa que ela confia mais em você, já que está te dando funções importantes? Ou você acha que ela está exagerando?
 
— Perguntando assim, até parece que você é a chefe, e se eu disser que ela está exagerando você a manda embora — falou em tom de brincadeira.
 
— Eu não mandaria a Cat embora, apenas pediria para não te dar serviço a ponto de te estressar — respondeu na defensiva — gosto da minha amiga sorridente e não a que eu encontrei mais cedo.
 
— Você a mandaria embora, sim — insistiu.
 
— Eu a mandaria embora — as duas riram — se sente melhor agora? Se bem que... você parecia estar se divertindo quando retornei da minha pequena reunião. Atrapalhei alguma conversa importante entre você e a Lane? — perguntou como se não tivesse se corroído de ciúmes ao ver a cena.
 
— Não — sacudiu a cabeça negando — ela estava me contando como foi o primeiro encontro dela com uma mulher que ela está afim. Não sei se ela exagerou, mas tudo pareceu ter sido um fiasco.
 
— Poxa! Que pena para ela. Tomara que tudo dê certo.
 
Com a informação de Kara, Lena sentiu o alívio invadir seu peito. Era bom saber que, apesar dos flertes que já presenciou, Lane estava interessada em outra pessoa. Assim, não precisaria qualquer dia pular em seu pescoço para ela parar de olhar para sua amiga como se ela fosse um pedaço de carne.
 
Quando a comida chegou, as duas entraram dentro do seu próprio mundinho, falando sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Em algum momento, Lena mais passou a ouvir do que falar. Adorava quando a amiga se empolgava sobre alguma coisa, e agora ela estava empolgada falando sobre um documentário investigativo que tinha visto.
 
A tarde estava bonita, o céu estava azul, sol brilhava lindamente e a brisa fresca deixava o clima mais perfeito. De braços entrelaçados, as amigas andavam lado a lado pelo parque da cidade. Lena que sugeriu o passeio depois que terminaram de almoçar. Ficar de bobeira com Kara era uma das coisas que mais gostava, principalmente quando andavam tão próximas uma da outra.
 
Não que a Luthor já não soubesse, mas, cada vez mais, percebia o quanto seu coração tinha um fraco por sua melhor amiga. Talvez, por agora pensar melhor sobre o realmente quer, notava que era de um jeito muito mais intenso e profundo do que um dia chegou imaginar. E, ao se deparar com essa constatação, se sentiu mal, pois, há bastante tempo vinha trocando Kara por suas futilidades, e ela não merecia isso, merecia alguém completo ao seu lado e que mostrasse que ela era prioridade.
 
Lena queria muito ser essa pessoa completa para Kara. Não tinha certeza se a merecia, essa era uma dúvida que sempre a assombrava quando vários cenários passavam por sua cabeça. Só que, ainda tinha tempo de se tornar isso e não era nenhum sacrifício. Se fosse para se declarar para amiga em breve — como pensava em fazer — queria ser alguém inteira.
 
— Kara? — fitou a loira ao seu lado.
 
— Sim? — a olhou também — é agora que me diz o que quer de mim? Porque assim, eu falei aquilo no calor do momento, e você está demorando muito para dizer o que se passa nessa sua cabecinha maquiavélica — Lena gargalhou com o comentário e como Kara parecia está curiosa demais para saber sobre aquilo — se você for me pedir pra fazer alguma coisa muito absurda, prefiro que diga agora para que eu tenha tempo de te convencer a voltar atrás.
 
— Adorável seu discurso, mas ainda não vou dizer o que você vai fazer por mim.
 
— Você sabe como me torturar — bufou — sabe que sou curiosa. Minha profissão exige isso, mas gosta de brincar comigo.
 
— Você, entre todos os habitantes dessa terra, é a única pessoa que eu brincaria — suas palavras significavam bem do que o que estava inserido naquele contexto, mas muito provavelmente Kara não perceberia isso.
 
— Consigo ver a fumacinha saindo da sua cabeça.
 
— Posso te perguntar o que eu ia perguntar?
 
— Se for pra eu pular de paraquedas com você, eu já disse que não. É melhor chamar a Alex para esse tipo de aventura — Lena franziu o cenho.
 
Apenas uma vez chamou Kara parar pular com ela de paraquedas. Isso aconteceu na época da faculdade e a loira rapidamente negou dando mais de cinquenta motivos para não fazer isso.
 
— Eu já entendi que você tem medo de altura. Só te convidei uma vez e ao saber disso, nunca mais fiz esse convite.
 
— Eu não tenho medo de altura — sua voz afinou, assim como sempre acontecia quando negava algo que era verdade — eu não tenho medo de altura — falou novamente tentando manter seu tom normal.
 
— Não tem nada a ver com paraquedas — as duas pararam em uma ponte e encaram o rio embaixo dela — posso perguntar o que eu queria?
 
— Se não é sobre pular de paraquedas, pode.
 
— Nesse tempo todo que somos amigas — se debruçou sobre o parapeito de concreto — você em algum momento já se sentiu trocada?
 
— Em que sentido? — a olhou com uma expressão de plena dúvida.
 
Lena pensou por alguns segundos como queria perguntar aquilo sem revelar sua intenções nesse momento. Era complicado querer falar de sentimentos, sem expor eles, e a morena era a quase uma porta quando se tratava de emoções. Não que ela não sentisse, sentia muito e, às vezes, ao extremo — principalmente se Kara estivesse envolvida na equação — mas falar ou perguntar sobre era complicado.
 
— Você acha que eu só procuro você pra conversar ou... ou pra sair quando me convém?
 
— De onde você tirou essa pergunta?
 
— Para de fazer perguntas para as minhas perguntas — a deu um empurrãozinho de leve — só me diz se nesses anos todos, em algum momento, eu te fiz sentir isso.
 
Diferente da amiga, Kara sabia bem externar suas emoções em palavras. Mas não sabia como dizer a Lena que sim, se sentiu várias vezes trocada, principalmente quando tinha a ligeira ideia de que ela estava se engraçando com alguém?
 
— Bom... — entortou os lábios ainda pensando — nós somos amigas, mas temos somos seres individuais — Lena estreitou os olhos — todas as vezes que combinamos algo você estava, então não tem como eu dizer que você me trocou se não combinou algo comigo.
 
A loira não tinha certeza nenhuma se sua frase foi compreensível, mas esperava que sim. Realmente Lena sempre cumpria o que a prometia, mas se sentia trocada pelas coisas que a morena jamais comentou com ela. Se era difícil para ela mesma entender o motivo de se sentir assim, seria ainda mais difícil de explicar. Por isso decidiu tentar encurtar o máximo que pode de sua resposta.
 
— Não acha que eu só vou atrás de você em busca de conforto? Acha que eu deixo em segundo plano ou algo assim?
 
— Não — mentiu.
 
Embora tenha mentido, Kara se esqueceu de um detalhe. Lena a conhecia há muitos anos, sabia muitas coisas sobre ela, principalmente que era uma péssima mentirosa. Nem todo mundo sabia, mas as narinas da loira se inflavam quando mentia, e a morena tinha conhecimento desse detalhe.
 
Ao ter sua pergunta respondida — mesmo de maneira indireta — Lena percebeu mais uma vez que Sammy tinha razão. Detestava o fato de Samantha sempre perceber tudo a sua volta, por que quando ela ficava sabendo que tinha razão, ela ficava extremamente insuportável e jogava na cara da pessoa todas as vezes que ela tinha dado o aviso para determinada situação.
 
— Hipoteticamente — olhou para a loira que prestava atenção no rio — se eu tivesse feito algo assim, você me perdoaria? Me perdoaria a ponto de deixar eu mostrar que não iria te fazer se sentir assim de novo.
 
— Claro!
 
— E, hipoteticamente, de que jeito eu poderia me redimir?
 
— O melhor pedido de desculpas é a mudança de comportamento — a olhou — palavras são bonitas de se ouvir, mas mostrar é o que dá significado às coisas.
 
A sinceridade nas palavras de Kara eram evidentes. Lena até chegou a se perguntar se ela falou aquilo aleatoriamente ou se foi pelo fato de realmente se sentir trocada e querer a morena fizesse o que ela disse. Apesar da confusão, a loira só havia falado porque era realmente o que achava e não porque correlatou o hipotético as perguntas que haviam sido feitas anteriormente.
 
— Eu já disse o quanto você é uma mulher sábia? — a puxou para voltarem a andar.
 
— Não, você nunca me disse.
 
— Que pecado eu cometi — Kara riu da ironia da amiga — você é muita sábia, Kara. Sou grata aos céus por você poder compartilhar sua sabedoria comigo.
 
— Sou fã da sua ironia — disse em um suspiro também irônico.
 
— Agora que você já foi minha por — olhou no relógio em seu braço — quase quatro horas. Acho que posso dizer o que realmente quero de você.
 
— Lena — parou abruptamente se virando de frente pra ela — pensa com carinho no que vai pedir. Sou sua melhor amiga, tenha consideração por mim.
 
— Você vai no casamento da minha mãe comigo.
 
— Lilian vai se casar pela quinta vez?
 
— Sexta, mas quem é que está contando?
 
— Você vai me levar a mais um casamento da sua mãe? — perguntou com uma voz chorosa — várias coisas pra pedir e me pede para encarar mais um casamento da Lilian?
 
Antes mesmo que Kara propusesse fazer qualquer coisa, Lena já iria a convidar. Normalmente, a loira passava dias negando, mas no fim acabava indo. Só que agora, nem mesmo podia negar, pois tinham feito um trato, a Luthor cumpriu a sua parte, agora falta a repórter cumprir a dela.
 
— Você é a única pessoa que eu apresentei a minha mãe — realmente, tirando Kara, apenas Sam conhecia Lilian, mas não porque Lena a apresentou, só porque cuidava dos negócios da família, e Andy há pouco tempo tinha virado sua advogada — quando ela me falou do casamento, logo me perguntou se eu levaria você — estava quase rindo pela cara de tristeza que a loira fazia — e eu disse sim. Você é tipo... meu presente de casamento para ela.
 
— Eu deveria considerar isso um elogio? — franziu o cenho.
 
— Deveria — voltou a entrelaçar seus braços para andarem — já te levei pra nossa casa de campo, nossa casa de praia, a nossa casa em Metrópolis, há cinco casamentos dela, e agora iremos no sexto. Não é ótimo? — a olhou sorridente — só você conhece a fundo a família sem estar envolvida nos negócios da família.
 
— Estou começando a me arrepender de ter ido a tantos lugares com você e sua mãe — coçou a sobrancelha enquanto pensava — você marcou que sabor de bolo pra mim?
 
— Limão.
 
— Droga! Você sabe que sou muito fã de bolos de casamentos e principalmente os de limão. Quando é o casamento?
 
— Nesse fim de semana.
 
— Parece que temos que escolher um presente.
 
Depois do parque, elas realmente foram escolher um presente para Lilian.
 
Já estava quase anoitecendo quando Lena foi levar Kara em casa. Assim que estacionou o carro, as duas desceram, mas, estranhamente, ficaram se encarando sem dizer nada, até a morena quebrar o silêncio.
 
— Obrigada pelo dia de bobeira. Samantha provavelmente vai me matar amanhã — Kara riu, pois sabia que era bem possível.
 
— Não sei como me livrou da senhorita Grant, mas me salvou de ter um ataque de nervos. Eu que tenho que te agradecer antes de seu funeral — Lena arqueou as sobrancelhas — no casamento de sua mãe, devo dizer que teremos um funeral no mesmo dia?
 
— Quando você ficou tão engraçada? — cruzou os braços se encostando no carro.
 
— Sempre fui — deu ombros.
 
— Há controvérsias.
 
Novamente o silêncio se instaurou entre elas. Lena pendeu um pouco a cabeça para o lado direito observando atentamente a amiga enquanto se lembrava da primeira vez que a viu. Uma década se passou e ela não tinha mudado quase nada. Os olhos ainda eram gentis e brilhantes, o rosto era delicado, os lábios rosados e o mesmo perfume que quase a cegou.
 
Tudo seria tão mais fácil se Kara desse aquele sinal com olhar. Mesmo que não a beijasse imediatamente, saberia por qual caminho trilhar. Agora, além de andar por um caminho um pouco escuro, tinha que trilhar ele com medo de estragar tudo o que tinha construído com base numa amizade.
 
— Porque está me olhando assim? — Kara perguntou se lembrando ao que aquele olhar a remetia, mas não queria se enganar sobre as intenções de Lena como já se enganou no início da amizade.
 
— Nada — se aproximou a abraçando — gostar de seu perfume e lembrar o que ele me causou é muito estranho — Kara soltou uma risada anasalada.
 
— Seus olhos continuam bem brilhantes e enxergando muito bem — se afastou um pouco os fitando — duas esmeraldas perfeitas — Lena deu um simples sorriso ficando um pouco sem jeito.
 
— Agora que o dia acabou, vou te dar um descanso — se afastou lentamente — se precisar escapar da Cat de novo, é só me ligar.
 
— Pode deixar — fez um aceno com a mão — me avise quando chegar em casa. Não quero perder a minha acompanhante do casamento, preciso saber se ela chegou bem em casa.
 
— Certo — seu sorriso se abriu mais um pouco.
 
Indo, mas querendo muito ficar, Lena entrou no carro e deu partida. Antes de dar partida, olhou mais uma vez para loira que sorriu, e sentiu tudo dentro de si revirar. Se Kara soubesse o quanto a tinha nas mãos, era capaz de ficar com ela apenas por dó. Esse era um pensamento que tentou muito evitar, mas como negar que era — e sempre foi — apaixonada por sua melhor amiga?
 
— Droga, Samantha! Porque você sempre tem que ter razão?
 
 
 
 
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