Prólogo

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Era outono, o clima húmido e sem cor banhava a propriedade dos Philips. Camile se encontrava na casa dos tios para uma temporada junto da prima Keira, depois que sua cidade foi afetada por uma peste infantil.

Sentada debaixo das macieiras do quintal Camile brincava com as bonecas enquanto a prima brincava aos cavalheiros com Ethan, o protegido de Ralph.

— Senhorita Meg, gostaria de um chá? — Camile reecriava a cena do chá da tarde com as bonecas, imersa à brincadeira.

— Agradecida lady Susie — destampou o pequeno jarro o deixando cair logo em seguida. — Aaaaaaaah... — o grito da menina abrigou-se nos ouvidos de Ethan e Keira que correram junto a ela com as espadas de madeira.

— Camile?

—  Um verme... aaaah... tire-o tire-o — saltava de um pé para o outro com gritos sofridos que rasgavam-lhe a garganta, apertava os olhos com força e com o rosto virado para o lado apontava a pequena larva cabeluda que rastejava inocente pelo rosto da boneca Susie.

Keira correu e amparou Camile com os dois braços enquanto Ethan com a espada jogou o bicho para longe.

— Pronto, não está mais aqui, Camile — Contou Keira — Ethan tirou-o. — Ethan aproximou-se e tocou a mão da amiga!

— Se foi Camile... — a menina enfim abriu os olhos, olhou em direção aos do menino que tinha a voz calmante para ela.

Keira afastou-se para pegar as bonecas da prima.

— Não precisa mais ter medo — sem fala, Camile tentava conter os soluços e conter as lágrimas. Ethan colocou a espada debaixo do braço e levou os acanhados dedos ao rosto da menina para secar-lhe as lágrimas devagar — de maneira quase instantânea o soluço se foi e as lágrimas não mais caíram.

Camile cogitou estar presente do herói que ouvia em seus livros. Seu herói, pensou. A inocente criança tinha o coração acelerado por uma razão singular, talvez fosse pelo susto que levou mas... ela ainda sentia-se vibrar ao toque do menino.

— MENINA KEIRA, MENINA CAMILE - berrava Crecilda, a criada, que aproximava-se.

— Hora de voltar para casa Camile. —
Keira entregou as bonecas à prima.

Juntas caminharam até a criada, porém, antes mesmo de alcançarem a ama, Camile deu meia volta e correu para Ethan, por meros segundos encarou o pequeno rapazinho e então o beijou.

— Santo Deus! — esclamou Crecilda abismada

Foi um beijo tão rapido e carinhoso que Ethan mal teve tempo de sentir os labios da menina apenas o rápido encostar de rostos, tocou o lugar com os dedos quando Camile correu de volta pra ama e sorriu-lhe.

— Crecilda, não conte á minha tia — pediu Keira

— Contar o quê, menina? Meus olhos nada viram. Seguiram para dentro sem mais falar sobre.

Depois do almoço Carlota arrumava os caracóis da filha que sorria amplamente, o pente passeava pelos fios pretos de Camile, o carinho maternal que a menina recebia a faziam sentir-se acolhida.

— Mãe?

— Sim, filha ?

— Quando poderei me casar? - Carlota sorriu

— Falta alguns anos para que isso aconteça, querida. — respondeu a mulher

— Por que?

— Por que o quê? — parou de a pentear para entãi olhar os carros lhos da filha

— Por que devo esperar?

— Primeiro precisamos arranja-la um pretendente — explicou —, o cavalheiro deverá corteja-la, dar-lhe presentes e talvez jóias só então...

— Já tenho um pretendente! — Carlota congelou quando a filha que levantou empolgada confessou.

— Interessou-se pelo filho de Lady Quiberli? — Sorriu orgulhosa

Vendo o sombrolho da mulher arqueado a menina continuou

— Nãoo... Ethan. Quando crescer me casarei com Ethan... — antes que pudesse terminar o estalar de um tapa se ouviu.

Carlota a bofateou, segurou forte o rosto ardido e olhou para a mãe absorta.

— Nunca mais repita tais tolices , me ouviu? — acenou positivamente de maneira frenética e olhar arregalado — querida, — amenizou com a voz terna — Ethan não é alguém do teu nível, está bem? — Acariciou-lhe os cabelos — quando for casar deve escolher um nobre com boa educação e não um cuidador de cavalos.

Um cuidador de cavalos, um cavaleriço. Era tudo que Ethan sempre foi, desde aquele dia Camile o evitou, mostrou-se superior. Ethan tão pouco entendeu a distância da amiga que ao fim da peste voltara para sua cidade.

Um amor para Senhorita Bornet.Onde histórias criam vida. Descubra agora