Capítulo |1|

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150 km, era tudo que faltava para chegar a propriadade dos Philips, nas ultimas horas de viagem sequer parou de espreitar para fora e ver o quanto ainda faltava. Parecia até mais distante do que se lembrava, ou talvez fosse o anseio de finalmente chegar que atiçava sua paciência.

Abriu o leque que abanou rápido demais, seria repreendida se sua mãe ali estivesse, mas como sua viagem de escape era sem Carlota, podia realmente ser ela mesma sem ter medo da aprovação da mãe.

Olhou uma vez mais para fora e disse para si mesma que dessa vez faltava pouco para sair do aprazimento que foi receber a carta de aceitação da sua tia para estadia em sua casa.

Quando por fim o charrete parou e o homem abriu-lhe a porta, lá estava lady Dayane com o dócil sorriso de sempre.

— Camile, minha querida, é um prazer tê-la aqui.

— É de igual modo satisfatório para mim, tia — retribuiu  — É tão acolhedor quanto me lembrava — continuou.

— Muito mudou desde a última vez que cá esteve, no entanto a essência é a mesma, querida.

Camile olhava para enorme casa onde passou maior parte de sua infância e início da juventude. Para ela tudo parecia como se lembrava. Cheiro de terra molhada e grama recém cortada.

— Vejo que novos pés de flores foram plantados — caminhou para dentro da estufa coberta por trepadeiras florais e aproximou-se das lindas plantações de lisianto.

— Sim. Ethan tem cuidado do lugar — explicou Dayane

— Entendo. — Sorriu tênue ao abaixar-se cheirar o lisianto roxo mais perto de si, sentiu-se ser tomada pela nostalgia que o aroma trazia. Virou-se e olhou sorridente para a tia.

— É tão bom estar aqui, tia! — Dayane sorriu e segurou as mãos da menina.

— Fico feliz em saber que ainda têm esse doce sorriso. — Elogiou — Vamos, deve estar cansada da viagem, ainda foltam algumas horas para o jantar pode subir e descansar — sugeriu lady Dayane.

— Se não se importar gostaria de caminhar um pouco mais — avisou apreensiva, o olhar de Dayane oscilou duvidosa.

— Tudo bem, querida, então pedirei que a acompanhem — antes que a mulher se virasse é impedida pela voz de Camile

— Na verdade... gostaria de caminhar sozinha e colocar em ordem meus pensamentos, matar as saudades — persoadiu

— Não se afaste muito — acenou-lhe compreensiva 

— Prometo — Dayane acenou-lhe de leve a cabeça e retirou-se deixando-a sozinha naquele espaço reminiscente.

Enquanto caminhava para o interior das árvores, divagava em pensamentos, lembrava da bela infância no meio das macieiras, tirou os sapatos e os segurou para sentir a relva entre os dedos assim como puxava o ar para os pulmões e os soltava de maneira ruidosa, sentia o deleitoso gosto da liberdade. Junto de Carlota, sua mãe, já mais podia se dar ao luxo de fazer tal coisa.

Mas, agora com o casamento da prima, tivera conseguido não só que a mãe a deixasse manter contato com a família como também tivera aceite que a menina ficasse um tempo com lady Dayane para que não se sentisse só com a ausência da filha.

Caminhou sem preocupar-se com o destino apenas seguia a trilha em seus pés. Quando por fim acordou se encotrava de frente ao bosque por onde passava o rio. Sorriu, parecia tal igual como antes.

Jogou os sapatos para o lado, segurou as bordas do vestido e alisou a agua com o pé testando a temperatura, fria, porém convidativa. Olhou para os lados e para atrás, livrou-se do vestido depois das anáguas, adentrou nua como tivera vindo ao mundo.

Mergulhou até a cabeça antes de dar início as braçadas de um lado para outro, a sensação era tão nostálgica que sentiu-se realmente feliz.

Lembrava-se da última visita quando cronometrava a competição de natação de Ethan e Keira sem ter a ousadia de participar. Se sentava na pedra da beirada do rio e arbitrava a competição dos amigos. Sempre desejou juntar-se a eles, mas era covarde demais para desobedecer a mãe. Carlota a castigaria caso soubesse de tal atrevimento. Perdida na satisfação mágica que era nadar naquele rio sequer viu a noite cair, até que o clima frio obrigou-a sair da água e vestir-se rapidamente.

Caminhou rápido de volta a propriedade, a água escorria pelos cabelos pretos molhados e amaldiçoou a advertência  que ouviria da tia. Caminhou nas pontas dos pés tão silenciosa que suspirou incrédula ao ouvir a voz de Dayane.

— Por Deus, Camile. Esteve a nadar até tão tarde? — Se aproximou Dayane examinado a menina

— Perdão tia, não me apercebi quão tarde se fazia. — Justificou-se apreensiva, convicta de que o sermão logo viria.

— Credo, tremes de frio — Dayane agasalhou-a com o chaile que tinha sobre os ombros — suba e se troque antes que te resfries, mando levar um caldo quente — disse a mulher, Camile levantou a cabeça e atonita encarou a tia — o que foi menina ? Quer que sua mãe reclame por não cuidar de ti caso adoença logo no primeiro dia de sua visita? — inquiriu diante o olhar insistente da sobrinha

— Não. Eu só... — gaguejou — Julguei que ganharia um sermão — confessou

— Vai ganhar mais que um sermão se continuar aqui invés de subir e trajar algo mais quente. — repreendeu a mulher

Camile acentiu com um aceno de cabeça e correu para cima sem mais contrariar. Já Lady Dayane sorriu e sacudiu a cabeça algumas coisas nem mesmo o tempo mudava.

Tão logo terminou de acompanhar a tia no jantar caminhou até a biblioteca, se tivesse sorte encontraria algum livro de sua prima que a pudesse entreter pelo resto da noite. Quando o ranger da pesada porta se ouviu pôde contemplar os altos armários de livros, sorriu, adentrou no paraíso de ideias e sonhos datilografadas no papel e caminhou em direção a aos livros.

Um pouquinho mais empoeirada do que se lembrava, porém ainda era uma magnífica visão. Pegou dois da vasta opção de leitura e caminhou de volta para o quarto. 

Um amor para Senhorita Bornet.Onde histórias criam vida. Descubra agora