Capítulo |9|

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Soube desde que o conheci, que tinha um caracter duvidoso Cézar. Sabia que era um homem cheio de artimanhas e truques. — Mas dentre todas as pessoas não pensei que me usaria ao ponto de destruir tudo em que alguma vez acreditei — Cecília riu-se lamentosa e continua — Na verdade eu sabia sim, como pude pensar que um homem com tal reputação mudaria — que tolice a minha.

Cecília pegou o lenço sobre a cama daquele quarto imundo da taverna em que muitas noites lhe foi jurado amor e olhou para Cézar decepcionada. Antes que pudesse sair daquele espaço Cézar segurou sua mão com os olhos marejados, lágrimas de desespero e medo de perder o amor de sua vida.
Segurou firme sua mão e a encarou.

— Cecília, não sou nada se não um homem cheio de pecados, que me castigue Deus se não tiver tentado de todas as formas que conheço ama-lá. — desembainhou a faca que carregava na cintura e colocou na mão da mulher e levou em direção ao seu coração. — se passares por essa porta afim de privares que meus olhos a vejam e minhas mãos a toquem, mais vale cravares essa adaga em meu peito para que cada batida de meu coração não seja desperdiçada. — ajoelhou-se e agarrou-se as pernas da mulher como uma âncora. — não sou nada se não um homem apaixonado moldado pelos erros que cometeu. Pelos quais me desculpo como um servo à sua senhora.

Camile tinha o coração apertado, olhos inchados quase soluçantes pela cena que lia. Era difícil ser uma incurável romântica que apenas almejava viver uma paixão tão avassaladora como nos livros que lia. Um amor doce, quente e intrigante Vassalagem amorosa como a de Cézar e Cecília.

— Senhorita Bornet? — Camile olhou em direção a voz masculina — perdoe minha intromissão, mas algo lhe incomoda? 

— Lord  MacGyver — passou o dorso da mão na tentativa de limpar as lágrimas traiçoeiras

—  A Senhorita está bem?

— Sim. Sim claro. — tranquilizou

— Devo concluir que suas lágrimas são manifestações dramáticas ou felizes da obra que lê?

— Talvez conclua que eu seja uma tola por chorar por tais razões.

— Todo homem chora por alguma razão Senhorita Bornet. É curioso que as suas sejam um tanto quanto... simplória.  — enfatizou, estendeu-lhe a mão para oferecer o lenço.

— Obrigada — agradeceu a menina envergonhada

— Posso? — estendeu a mão ao
Solicitar o livro nas mãos da menina.

Camile apertou seus dedos sobre o conjunto de papel, como se Robert estivesse prestes a desvendar seu segredo secreto.

— Me permite? — insistiu. A voz dócil e bondosa de Robert, desataram suas defesas, parecia bloqueada. Sem tirar os olhos dos seus entregou-lhe lentamente o livro. — Importa-se?

Se ela importava-se?

Sim, claro que sim. Partilhar seu livro era dar detalhes sobre si à aquele homem. Era dizer qual eram seus gostos e fraquezas, ainda assim, entregou-lhe.

Com o olhar pedinte o homem verificou mais uma vez se podia ler aquele livro que curiosamente fazia a menina ter os olhos marejados e agora corar. Com o aceno de cabeça confirmativo deu início a leitura.

Camile então permitiu-se observar os traços de Robert MacGyver. Um homem alto, másculo , com cabelos pretos e olhos claros apesar da cor de sua pele.

Robert fechou o livro com o olhar gentil e uma nova dúvida.

—  Chora pelo sofrimento de um homem submisso de amor ou por uma dama ferida em prantos?

— Por uma história de amor cheia de incompatibilidades morais! — rebateu

Os olhos do homem arregalaram surpresos. Não era uma resposta que estava à espera.

— Curioso! — Entregou-lhe o livro, o do homem parecia lhe avaliar, e sentia-se desnuda. Corada e envergonhada. Robert afastou-se em direção a porta e Camile se maldizia por suas palavras que por alguma razão não conseguiu conter.

— Senhorita Bornet? — parou e virou para a moça no mesmo lugar.

— Tenha em mente que é apenas um conto e talvez esse homem nunca tenha existido. Talvez isso ajude a lidar melhor com a narrativa.

Fazia sentido, tanto para o livro quanto para a sua paixão, e se Ethan fosse apenas um sonho infantil que idealizou em suas noites mais solitárias como um amor genuíno? Que por sinal destruía seu coração tal como Cézar com Cecília.

Camile fechou os olhos por um momento, tentando absorver as palavras de Lord MacGyver. Ele tinha razão, talvez fosse apenas um conto, mas as emoções que evocava eram reais e intensas. Ela suspirou, sentindo o peso da realidade e da ficção se misturarem em seu coração.

— Talvez tenha razão, Lord MacGyver. — disse ela, com um sorriso triste. — Mas às vezes, os contos refletem nossas próprias esperanças e medos, não é?

Robert assentiu, seus olhos claros fixos nos dela.

— Sim, senhorita Bornet. Os contos têm uma maneira de nos mostrar o que desejamos e tememos. Mas também nos ensinam a lidar com essas emoções.

Camile sentiu uma onda de gratidão por sua compreensão. Ela se levantou, segurando o livro contra o peito.

— Obrigada por suas palavras, Lord MacGyver. Elas significam muito para mim.

Ele sorriu, um sorriso que parecia aquecer seu coração.

— Sempre à disposição, senhorita Bornet. Se precisar de alguém para conversar, estarei por perto.

Camile observou enquanto ele se afastava, sentindo uma nova determinação crescer dentro dela. Talvez fosse hora de enfrentar seus próprios sentimentos e encontrar a coragem para seguir em frente.

Ela voltou para seu quarto, sentando-se à mesa com o livro aberto diante dela. As palavras de Cézar e Cecília ainda ecoavam em sua mente, mas agora, ela as via sob uma nova luz. Talvez fosse hora de escrever sua própria história, uma história onde ela fosse a heroína, forte e resiliente.

Um amor para Senhorita Bornet.Onde histórias criam vida. Descubra agora