Capítulo |7|

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Abriu os olhos cansados e virou para o outro lado da cama devagar, sentia os músculos doerem, a cabeça latejante como se estivesse de ressaca. Depois da longa noite de prantos talvez estivesse mesmo como as outras vezes.

Levou a mão e massageou a cabeça, cobriu o corpo e não ousou levantar da cama , de certeza Dayane entenderia se ela não levantasse. Tão logo seu pensamento cogitou a ideia de permanecer vegetativa na cama, passos que suspeitou ser de lady Dayane aproximavam-se.

— Camile, querida? — adentrou Dayane no quarto da menina — É quase fim de tarde, não vai se levantar? — Camile continuou em silêncio — Carlota escreveu-lhe. — aproximou-se da cama e vagou o olhar pelo quarto. As cortinas fechadas, travesseiro no chão e a posição da menina sobre a cama, disse tudo que precisava saber.

— Deixe sobre a mesa, tia.  Deixe-me só, por favor! — Dayane a olhou terna afagou-lhe os cabelos.

— Sabe, seu tio sempre soube o que fazer quando Keira estivesse triste ou... confusa — enfatizou — sabia quando estava chateada, sabia diferenciar todos os seus sorrisos. — sentou-se devagar. — Quando Ralph morreu, senti-me perdida, não sabia como lidar com minha filha, conhecia cada traço de seu corpo, as cores dos fios de cabelo, seu peso, e seu sorriso mais bonito. Porém, nunca soube quais eram seus problemas, medos , ambições. Não porque não a amava, céus, a amo mais que qualquer coisa no mundo, mas porque somos mulheres e uma mulher não se pode dar ao luxo de ter suas dores a mercê de todos. É o que todo homem quer. — suspirou serena com o olhar melancólico 

— Falar dócil, sorrir discreta, postura reta e manter as anaguas no lugar, não são apenas regras chatas para sociedade, querida. É a única arma que tem para essa luta diária que enfrenta. — Sem resposta beijou-lhe a cabeça e continuou . — assim como arrajar um bom marido também.

Camile sabia o que tinha de fazer, doía profundamente, mas as lágrimas já não desceram de seus olhos embora tivesse o coração a sangrar.

— Leia a carta de sua mãe, estarei lá em baixo, desça se estiver pronta e quiser conversar.  — Dayane levantou-se e seguiu para o andar de baixo.

A carta de Carlota dizia que Camile estava apaixonada e depois do episódio de ontem Dayane sabia exatamente quem era esse amor. Era de lamentar ver a sobrinha nessa situação. Mas como disse Carlota, jovens não conhecem o amor, apenas enaltecem a ideia de ter o coração acelerado e pés trêmulos como algo sublime. Mas ela bem sabia como era o amor e ser amada, era muito mais do que todas essas sensações.

Camile apertou os olhos, ganhou impulso e sentou-se na cama, vagou com o olhar pelos pequenos raios de sol que atravessavam as cortinas a seguir para o envelope escrito por sua mãe, por cima da pequena banca de madeira, esticou-se para alcançar e decidiu ler.

"Camile querida, espero que o tempo com sua tia tenha servido para limpar sua cabeça de dislate . "

Possou as mãos sobre os lençóis irritada num revirar de olhos. Nem a distância fazia sua mãe ser mais amável.

Se não me escrever em três dias eu mesma vou buscá-la de volta para casa, já está na hora de tomar uma decisão. Seu pai e eu achamos conveniente falar com lorde Malcon sobre o casamento logo após o luto do pai.

— Prometeu me dar um tempo — queixou-se incrédula.

Não me esqueci da promessa que lhe fiz, no entanto, passaram-se dias e nem sinal do homem por quem tem interesse. Não vamos esperar mais, antes de outono lhe arranjaremos um noivo.
Espero que não estaja a encher-se de comida e não tome demasiado sol.

Um amor para Senhorita Bornet.Onde histórias criam vida. Descubra agora