Capítulo |3|

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— Reparei que já não usa óculos.

— Uma vez à outra. Minha visão melhorou gradativamente — contou

— A Senhorita Bornet perdeu sua marca — Camile estreitou o olhar instigadora — aqueles óculos mostravam quão inteligente é — continuou nostálgico

— Talvez por isso os tenha tirado — sussurrou para si mesma olhando para o lado oposto do seu acompanhante

— O que disse?

— Inteligência não é exatamente o que os lordes procuram para desposar uma dama. — sorriu com desgosto

Acenou-lhe de acordo, sabia que casar-se sempre foi o projeto de vida da Menina, agora Senhorita Bornet . Sua mãe Carlota sempre tivera deixado isso bem claro para que todos soubessem que sua menina escalaria o mais alto nível da nobreza.

— "Hei de casar-me com um lorde que corteje com as mais lindas flores e joias. Darei-lhe um Herdeiro ou talvez dois..." Camile o olhou intensamente, como ele ainda se lembrava de suas palavras quanto a contrair matrimônio depois de tanto tempo?

Ela o tivera magoado? Se ele lembrava da frase completa decerto que também lembrava da confissão que antecedeu a ela.

Ethan parou, desceu do animal segurou a sela do cavalo que montava e puxou a de Suzano, para seguir caminho.

— Aposto que não conhece esse lado do bosque — prendeu os cavalos e virou-se para ajuda-la a descer. Estendeu a mão convidativa para a menina.

Camile olhou para Ethan que gentilmente a ajudava, tocou a mão áspera do homem e concentrou-se em descer.

— Antes era apenas um terreno baldio agora é uma reserva animal projetado por Keira. — contou o homem

— E bem do feitio de minha prima pensar além do tempo.

— Todos concordamos sobre isso. —disse Ethan — diz-me porquê não casou-se ainda? Há alguns anos podia jurar que a essa altura já teria duas crianças.

— De facto o futuro tem sido incerto.

— Nenhum lorde foi bom o bastante para casar? — continuou o homem que caminhava ainda segurando a mão da menina pedras a baixo.

— Não de todo... — respondeu vaga

— Aposto que Lady Bonert tem sido rigorosa quanto aos critério — distraída na intensidade das palavras do homem, Camile pisou a borda do vestido bem no final da descida levando ambos para o chão. Com o corpo do maior amoltecendo a queda.

Caída sobre o corpo do homem, Camile se viu aflingida por todo amor que sentia, enquanto perdida olhava incansavelmente para seus olhos.

— De fato ninguém que fosse bom o bastante para mim — confessou sossurraante, tão devagar como se soletrasse para o homem .

Ethan a segurava pelos lados e assim ajuda-la a levantar, sem que o corpo sobre si realmente se movesse.

— Perdão... - levantou-se - desastre parece correr nas minhas veias —sacudiu o vestido com as palmas da mão limpando o capim e pequenos galhos presos.

— Bem contraditório sendo Lady Bornet tão requerente de perfeição — Dessa vez a menina caiu na risada junto de Ethan que também ajustava a roupa.

Continuou a exploração pelo lugar verde e ruidoso, havia sons de animais espalhados por toda parte até que por fim assentaram para tomar ar e recuperar um pouco de folego tomado pela trilha.

— Ah... que lugar incrível. É calmante aqui. — deitou-se debaixo da árvore esticando as mãos para cima como se estranhasse a liberdade.

— Micth tem o poder de fazer as pessoas encotrarem um propósito de vida.

— Encontrou o seu? —Se sentou e olhou para aqueles olhos fujões que tanto a causavam frio e calor com a mesma proporção.

Ethan levou a carrafa metálica à boca e bebericou o conteúdo num único gole ficando em silencioso em seguida. A menina estendeu-lhe a mão em petição.

— O quê? — perguntou desentendido, porém a menina apenas balançou a mão insistente. — Certeza?

— Me dê logo — insistiu

Rendido, depositou a garrafa aberta na mão da menina e a fitou um olhar curioso. Camile no entanto, levou à boca e sentiu o líquido queimar-lhe a garganta, o sabor de metal misturado com a sensação do álcool agredindo sua língua fez-lhe soltar um som involuntário reprimido pela vergonha que o amigo provavelmente a faria sentir.

Era só rum, muito ruim por sinal, diferente das que tinha em casa porém, limpou a boca com o dorso da mão e devolveu a garrafa, aquilo não a importava tanto assim.

Quem era a mulher na sua frente? De certo Camile de anos atrás acharia tal ato deselegante.

— É forte! — confessou

— É dos mais baratos que há na cidade.

— Por isso é tão ruim — Ethan riu.

— Logo vai anoitecer é melhor fazermos o caminho de volta — se levantou e ajudou-a a fazer o mesmo.

Voltavam para casa em gargalhadas nostálgicas, lembravam de quão medrosa era Camile e das tamanhas vezes que Keira a defendeu e tomou suas culpas.

— Quando quebrou o jarro da lady Quimberli alegando ter um gênio lá dentro — Camile gargalhou com a memoria

— Por Deus que mulher mais sem gosto. — defendeu-se — Fomos abrigadas a ajudar o padre Jorge por duas semanas. Ainda lembro sentir minha pele fritar naquele calor da capela. — recordou

— Lady Dayane e seu senso de justiça.

— Minha tia sempre foi uma mulher justa tal como tio Ralf. — silêncio, o silêncio se instalou até que se encontrassem dentro do estábulo.

— Pronto Senhorita Bornet está entregue. — curvou-se em reverência e sorriu

— Obrigada pelo passeio, Ethan.

— Às ordens...

Caminhou para dentro, onde a visão de Lady Dayane junto de duas outras damas em um chá fluía, tudo que menos queria era socializar com as damas da cidade, não agora, talvez quando estiver pronta e tiver aceite o destino traçado por sua mãe. Espremeu-se para passar despercebida sem sequer notar o olhar atento de Dayane. Subiu em seu quarto despiu o vestido com o anseio de uma banheira. Sim, um banho era tudo que precisava depois do dia que tivera com Ethan.

Seria difícil deixar de amar o cavaleriço, sabia disso agora mais do que nunca. No entanto levaria isso até onde conseguisse, não lhe restava tanto tempo assim.

Um amor para Senhorita Bornet.Onde histórias criam vida. Descubra agora