02. Revelação Negra

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Dez badaladas baixas reverberaram nas paredes de pedra quando o relógio marcou a nova hora.

Severus Snape estava sentado em sua poltrona de couro, lendo um livro desgastado à luz do fogo e esperando não ser convocado novamente. Voldemort já havia exigido sua audiência duas vezes naquela semana. Chateado com a tentativa fracassada de Lucius Malfoy de obter a profecia no Ministério, o Lorde das Trevas procurou garantir que suas próximas manobras fossem bem-sucedidas. Ele pediu ao espião para revelar tudo o que Dumbledore havia feito ou planejado durante o verão.

Como o Lorde das Trevas ainda não havia divulgado nenhuma estratégia para ele, Severus não tinha nada de valor para compartilhar com o diretor de Hogwarts. Embora Dumbledore parecesse compreensivo, Severus podia sentir sua decepção.

O que mais há de novo? Severus suspirou ao folhear uma página quase transparente de tão velha.

Embora ansioso para descobrir informações pertinentes que pudessem finalmente pôr fim ao seu serviço, ele estava mental e fisicamente exausto. Nas noites em que não comparecia às reuniões do Lorde das Trevas, ele ajudava Dumbledore e os outros Chefes de Casa a preparar a escola para o ano novo.

À medida que suas pálpebras ficavam pesadas, ele deixou o livro fechar-se em seu colo. Respirando profundamente, ele encostou a cabeça no encosto da poltrona e fechou os olhos. Ondas de sono estavam prestes a cair sobre ele quando sentiu uma sensação de queimação no braço.

— Puta merda — ele rosnou para a Marca Negra. — Você não consegue entreter a si mesmo?

Severus chamou o Diretor por Flu para informá-lo, depois saiu furioso de seus aposentos para atender à sua convocação.

.

Ele foi o último a chegar à fazenda abandonada. Como de costume.

Os outros Comensais da Morte quase nunca se preocuparam em esconder sua desaprovação por seu atraso perpétuo, mas ele conseguiu evitar punição extra depois de lembrar ao Lorde das Trevas da proibição das aparições enquanto estava nos terrenos de Hogwarts. Voldemort entendeu essa limitação, embora somente depois de realizar Legilimência e testemunhar por si mesmo, é claro.

— Ah, Severus! — Voldemort ergueu as mãos no ar em sinal de boas-vindas e atravessou a multidão reunida na beira de um campo mal cuidado.

— Gentil da sua parte finalmente se juntar a nós — murmurou Corban Yaxley ao lado dele. — Melhor tarde do que nunca, não é?

Severus torceu os lábios. — Peço desculpas pelo meu atraso, meu Senhor. Dumbledore estava coordenando as cores de sua gaveta de meias quando falei com ele depois do jantar.

— Nem mais uma palavra sobre o velho idiota esta noite — Voldemort declarou com um sorriso. Ele apertou a mão fria e pálida no ombro de Snape. — Você sempre foi leal a mim, não foi, Severus?

O espião manteve os escudos firmemente no lugar. — Eu sou, meu Senhor.

O homem parecido com uma cobra deu um tapinha em seu ombro. — Tenho muito reservado para você, meu fiel servo.

Ah, que porra é essa agora? Snape ergueu as sobrancelhas. — Meu Senhor?

Voldemort raramente reconhecia os sucessos de seus seguidores diante da grande assembléia de Comensais da Morte - a humilhação pública pelo fracasso era muito mais comum. A atenção pessoal era preocupante.

Ou ele espera uma grande quantidade de serviço ou suspeita de alguma coisa.

— Todos, por favor, façam nosso honrado irmão se sentir bem-vindo — Voldemort instruiu a multidão, então falou por cima do ombro. — Severus, acompanhe-me até o altar.

Ugh, deuses. Severus ponderou sobre o terrível destino que o esperava enquanto seguia o bruxo das trevas. Faltavam semanas para a lua cheia e ele não conseguia pensar em nenhum feriado antigo que exigisse sacrifício. É claro que a magia do sangue nem sempre seguiu um cronograma.

O intenso escrutínio sob o qual ele se viu ao passar por seus colegas não revelou nada sobre se ele deveria bancar o perpetrador ou a vítima. A gargalhada maníaca que Bellatrix Lestrange emitiu fez sua cabeça latejar. Se ele sobrevivesse a isso, iria se odiar seriamente pela manhã.

Enquanto Severus tentava não fazer uma carranca mais do que o normal, Voldemort de repente o encarou novamente. — Já que você é o mago do momento, por assim dizer, tenho as mais deliciosas surpresas para você.

O tirano serpentino deu um passo para o lado e apontou para o altar de pedra que havia sido erguido no meio do campo. No topo do altar havia uma massa irregular coberta por um lençol de cetim preto.

Perpetrador, então. Seu coração acelerou desconcertado, mas Severus manteve o rosto impassível. Ele sabia que o que quer que estivesse ali era algo que ele não queria ver, muito menos possuir.

— Meu Senhor?

Com um sorriso maligno, Voldemort fez sinal para que ele avançasse.

Lutando contra a vontade de vomitar, Severus avançou cautelosamente. Pense positivo. Ainda pode ser uma pilha de víboras prontas para tirar você da sua miséria.

— Vá em frente, Sevvy! — Bellatrix ergueu sua varinha, pronta para remover a cobertura para si mesma.

— SILÊNCIO! — Voldemort gritou.

Embora irritada, Bellatrix baixou a varinha e fez uma reverência.

Por favor, não seja uma criança. Snape agarrou uma ponta do cetim preto e puxou. O lençol escorregou para o chão, expondo a pele pálida que brilhava ao luar. Ele sufocou sua repulsa pelo corpo nu da jovem apresentado diante dele. Seu rosto estava virado, mas não saber sua identidade não ajudou em nada para aliviar a agitação em seu estômago.

Dumbledore não sabe o que me pede. Snape conteve sua raiva. Ele tinha uma ideia do desempenho que o Lorde das Trevas esperava e estava longe de estar ansioso para completá-lo. Francamente, ele teria preferido encontrar as víboras.

Lembrando-se de que ainda tinha um papel a assumir e uma reputação a proteger, o espião olhou para trás. — Posso, meu Senhor?

Ao aceno do bruxo das trevas, Severus fingiu interesse na oferenda, passando preguiçosamente os dedos ao longo da perna de marfim da garota. Embora ela permanecesse mortalmente imóvel ao seu toque, ele sentiu o sangue pulsando em seus vasos.

Ela está viva. Por agora.

— O presente decepciona?

Severus lentamente encontrou sua voz, propositalmente deixando seus olhos permanecerem na forma dela um pouco mais do que ele jamais gostaria. — Nem um pouco. Você é muito gentil, meu Senhor.

Concordando, Voldemort voltou-se para seus seguidores. — Bem, então ela deve ser reivindicada!

Enquanto a excitação se espalhava pela multidão, Voldemort habilmente apontou sua varinha na direção do altar. — Renervate!

Enquanto seu corpo reanimava, a garota tossiu e ofegou com o oxigênio que reabastecia seus pulmões.

Snape congelou quando ela virou a cabeça; ele estava olhando nos olhos profundamente aterrorizados de Hermione Granger.

Bound To Him | SevmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora