capítulo 8. como uma bailarina

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05h48 Hora da Costa Leste - 10h48 Hora de Greenwich 

A fila do táxi está tão longa que chega a ser cômica. Maya carrega a mala até o final, onde fica atrás de uns americanos com camisas vermelhas, todos falando muito alto. O Heathrow está tão lotado quanto o JFK, só que sem a desculpa do Quatro de Julho. Ela espera a fila andar, e a falta de sono finalmente começa a pesar. Tudo parece fora de foco, desde a fila até os táxis pretos esperando em silêncio e solenemente, como num funeral.

— Não pode ser pior que Nova York — disse Maya para Thomas quando ele comentou sobre o Heathrow. Ele nem argumentou, apenas balançou a cabeça.

— Um pesadelo logístico de proporções épicas. — Foi como descreveu o aeroporto, e com razão.

Ela balança a cabeça como se quisesse tirar água do ouvido. Ele foi embora, diz para si novamente. É isso. Tem que ficar de costas para o terminal para resistir à vontade de voltar e procurar por ele. 

Uma pessoa contou certa vez que há uma fórmula para o tempo que se leva para esquecer alguém: é a metade do tempo que ficaram juntos. Maya tem lá suas dúvidas sobre essa teoria, um cálculo tão simples para uma coisa tão complicada quanto um coração partido. Afinal de contas, seus pais ficaram casados por quase vinte anos e o pai levou apenas alguns meses para se apaixonar de novo. E quando Ian terminou com ela depois de um semestre todo, ela levou apenas dez dias para sentir que tinha acabado de verdade. Mesmo assim, é bom saber que passou apenas algumas horas com Thomas, pois isso significa que o nó em seu peito vai se desfazer antes do fim do dia.

Quando finalmente chega sua vez, procura pelo endereço da igreja enquanto o motorista — um homem pequeno com barba tão grande e branca, que se parece com um gnomo — joga a mala com força no porta-malas ao mesmo tempo que conversa sem parar no fone do celular. Novamente, Maya tenta não pensar nas condições do vestido que será forçada a usar. Entrega o endereço para o motorista, que entra no táxi sem nem falar com sua nova passageira.

— Quanto tempo vai demorar? — pergunta ao entrar no carro. Ele interrompe, soltando uma gargalhada bem alta.

— Bastante tempo — responde e se junta ao tráfego lento.

— Que bom — murmura Maya. 

A paisagem passa pela janela por trás de uma camada de neblina e de chuva. Há um tom de cinza que parece tomar conta de tudo, e mesmo que o casamento seja num lugar fechado, sente certa compaixão por Candice; qualquer pessoa ficaria chateada com esse tempo no dia do casamento, mesmo sendo britânica e passando a vida inteira naquele clima. Há sempre um pedacinho de esperança de que esse dia — o seu dia — vá ser um pouquinho diferente.

Quando o táxi entra na estrada, os prédios baixos dão lugar a casas estreitas de tijolos, grudadas umas nas outras, em meio a antenas e jardins cheios de coisas. Maya sente vontade de perguntar que parte de Londres é aquela, mas sente que o motorista não seria um guia muito entusiasmado. Se Thomas estivesse ali, com certeza, estaria contando histórias sobre aqueles lugares, além de alguns mitos e fábulas para deixá-la curiosa.

No avião, ele havia contado sobre viagens à África do Sul, Argentina e Índia com a família, e Maya escutou com os braços cruzados, sonhando estar indo para um desses lugares. Não era um delírio tão grande. Estavam num avião, então não era tão difícil imaginar que podiam estar viajando para algum lugar juntos.

— Qual lugar você gostou mais? — perguntou. — De todos os que já visitou, qual foi o melhor? 

Ele pensou um pouco até que aquela expressão de conto de fadas apareceu em seu rosto.

— Connecticut.

Maya gargalhou.

— Claro — disse —, quem iria para Buenos Aires, podendo ir para New Haven?

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Onde histórias criam vida. Descubra agora