capítulo 13. é hora de ir

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10h13 Hora da Costa Leste - 15h13 Hora de Greenwich

— O que você está fazendo aqui? — pergunta Thomas olhando para ela como se não acreditasse que está lá.

— Eu não notei — responde com calma —, no avião...

Ele abaixa o olhar.

— Não percebi — repete ela. — Desculpa.

Ele faz que sim e olha para um banco afastado, cuja superfície áspera ainda está úmida por causa da chuva de antes. Os dois caminham até o banco com a cabeça baixa, e o som triste de um órgão toca no fundo na igreja. Quando ela está prestes a se sentar, Thomas pede que espere, tira o paletó e o coloca sobre o banco.

— Seu vestido — explica, e Maya olha para si e estranha o tecido lilás como se nunca o tivesse visto antes.

Alguma coisa naquele gesto parte mais ainda seu coração — a ideia de que ele pensasse em alguma coisa tão trivial num momento desses. Será que não sabe que ela não está nem aí para o vestido? Que não se importaria de deitar na grama e dormir na terra por causa dele? 

Incapaz de achar as palavras para recusar a delicadeza, ela se senta e passa os dedos nas dobras macias do paletó. Thomas fica em pé ao seu lado, enrola uma manga e depois a outra, com olhos fixos em alguma coisa do outro lado do jardim.

— Você tem que voltar? — pergunta Maya.

Ele encolhe os ombros e se senta bem perto dela.

— Acho que sim — responde e apoia os cotovelos sobre os joelhos.

Ele não se mexe. Depois de certo tempo, Maya se coloca na mesma posição, e os dois ficam olhando para os pés com uma concentração exagerada. Ela sente que deve uma explicação por ter aparecido lá, mas ele não pergunta nada, e eles ficam assim, envolvidos pelo silêncio.

Em Connecticut, tem um pequeno bebedouro para pássaros do lado de fora da janela da cozinha. Maya sempre ficava olhando para ele enquanto lavava louça. Os visitantes mais frequentes eram dois pardais que viviam brigando, um ficava pulando nas beiradas e berrando, enquanto o outro se banhava, e vice-versa. De vez em quando, um bicava o outro e ambos batiam as asas e se afastavam, jogando água para todos os lados. No entanto, mesmo que ficassem brigando, chegavam juntos e saíam juntos.

Certa manhã, para surpresa de Maya, apenas um apareceu. Pousou com leveza na borda de pedra do bebedouro e dançou pelo canto sem tocar na água, rodando a cabeça de um lado para o outro com um ar de espanto tão triste que ela se inclinou para a frente e olhou para o céu, mesmo sabendo que não veria nada ali.

Thomas parece esse pássaro agora, passando uma sensação de confusão sem rumo que o deixa com uma expressão muito mais perdida que triste. Maya nunca esteve tão perto da morte. Os únicos três galhos que faltam em sua árvore familiar são avós que ela perdeu antes de nascer, ou então quando ainda era pequena demais para notar a ausência. Por algum motivo, sempre achou que esse tipo de tristeza era como nos filmes, com lágrimas e muito desespero. Ali no jardim, porém, não há cenas de revolta; ninguém está de joelhos, se lamentando; ninguém está blasfemando.

Em vez disso, Thomas parece enjoado. Seu rosto está meio cinza e a falta de cor fica ainda mais acentuada por causa da roupa escura. Ele olha para ela sem expressão. Seus olhos estão vermelhos, como se ele estivesse sentindo dor, mas não pudesse dizer em que parte do corpo. Ele respira fundo.

— Desculpe não ter falado — diz, depois de certo tempo.

— Não — fala Maya, balançando a cabeça. — Eu que peço desculpas por ter achado que...

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Onde histórias criam vida. Descubra agora