capítulo 11. deixado nas páginas

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09h00 Hora da Costa Leste - 14h00 Hora de Greenwich 

Maya só se dá conta de que não sabe aonde está indo quando já está na rua. Os sinos tocam na igreja. Um enorme ônibus vermelho passa rápido e ela dá um passo para trás, surpresa, antes de sair correndo atrás dele. Mesmo sem a mala, que deixou na igreja, ela ainda está lenta. Quando finalmente chega à esquina, o ônibus já foi embora. 

Ofegante, apoia-se no vidro do ponto de ônibus para dar uma olhada no mapa com os trajetos, que nada mais é que um emaranhado de linhas coloridas e nomes estranhos. Morde os lábios enquanto o analisa e se pergunta se não há uma maneira melhor de decifrar o código, até que finalmente vê o nome Paddington no canto superior esquerdo.

Não parece ser tão longe, mas é difícil ter certeza sem ter noção da escala. Pode ficar a quilômetros dali, ou a apenas alguns quarteirões. Não há detalhes suficientes no mapa, e ela ainda nem sabe o que vai fazer quando chegar lá; a única coisa que lembra é que Thomas mencionou uma estátua da Virgem Maria na frente da igreja e que ele e sua irmã costumavam subir nela. Olha para o mapa novamente. Quantas igrejas haveria numa parte tão pequena da cidade? E quantas estátuas?

De qualquer maneira, tem apenas dez libras na bolsa. A julgar pela corrida de táxi, dez libras não servem nem para ir à esquina. O mapa teimoso se recusa a desvendar seus mistérios, então ela acha melhor pedir informação para o próximo motorista de ônibus e torcer para que descubra o melhor caminho. Contudo, depois de dez minutos esperando em vão, resolve dar mais uma olhada nas rotas. Bate os dedos no vidro em sinal óbvio de impaciência.

— Você sabe como funciona, não sabe? — diz um homem com camisa de futebol.

Maya se estica, ciente de que está bem-vestida demais para um ponto de ônibus. Fica em silêncio, então o homem continua a falar.

— Você espera durante anos, aí vêm dois juntos.

— Tem algum ônibus aqui que vai para Paddington?

— Paddington? — pergunta. — Tem sim, não se preocupe.

Quando o ônibus chega, o homem sorri para Maya e ela nem precisa perguntar ao motorista, pois entende que é o ônibus correto. Fica vendo as placas passarem pela janela e se pergunta como vai saber que chegou, pois as placas só mostra nomes de ruas, não de bairros. Depois de uns bons 15 minutos olhando para as paisagens, finalmente junta coragem para ir até a frente do ônibus e perguntar onde deve descer. 

— Paddington? — indaga o motorista, mostrando um dente de ouro ao sorrir. — Você está indo na direção errada.

Maya resmunga.

— O senhor pode me informar qual é a direção certa?

Ele a deixa sair em Westminster e ensina como chegar em Paddington de metrô. Ela fica parada por um instante na calçada. Olha para o céu e vê um avião, o que a deixa mais calma. Sente-se de novo no assento 18A, ao lado de Thomas, suspensa acima do mar, envolta por uma total escuridão.

De repente, parada na esquina no meio de Londres, ela se dá conta de que conhecê-lo foi um milagre. Imagine se tivesse chegado na hora certa para o primeiro voo? Ou se tivesse passado todas aquelas horas ao lado de outra pessoa, um estranho que, mesmo depois de quilômetros, continuasse sendo um estranho? A ideia de que seus caminhos quase não se cruzaram a deixa sem ar, como se acabasse de escapar de um acidente numa estrada. A arbitrariedade desse encontro a espanta. Como qualquer outro sobrevivente, sente uma leve onda de gratidão, metade adrenalina, metade esperança.

Ela vai andando pelas ruas lotadas de Londres, procurando pela saída do metrô. A cidade é cheia de caminhos complicados e contorcidos, cheia de avenidas curvas e ruelas sinuosas, como um labirinto vitoriano. É um lindo sábado de verão e as pessoas estão todas na rua, carregando sacolas de supermercado, empurrando carrinhos de bebê, passeando com cachorros e indo caminhar no parque. Passa por um menino que veste a mesma camiseta azul de Thomas e seu coração acelera.

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Onde histórias criam vida. Descubra agora