capítulo 14. dia infinito

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11h11 Hora da Costa Leste - 16h11 Hora de Greenwich

Se alguém perguntasse por algum detalhe específico da viagem de volta à Kensington — em qual estação do metrô fez baldeação, quem sentou ao seu lado, quanto tempo levou —, Maya teria dificuldade em responder. Dizer que a volta foi um borrão sugeriria que pelo menos alguma informação teria sido apreendida, mesmo que a confusão fosse intensa. Mas, quando finalmente voltou à luz do dia na parada de Kensington, foi tomada por uma sensação desconfortável de que viajou no tempo como uma pedra.

O choque — ou seja lá o que for isso que está sentindo — é uma das curas mais eficazes para a claustrofobia. Viajou por baixo do solo durante uma hora e meia e não teve que forçar sua mente a pensar em outro lugar nem uma vez. A localização não importava; sua mente já estava nas nuvens.

Ela se dá conta de que deixou o convite do casamento dentro do livro, e mesmo sabendo que o hotel é perto da igreja, não consegue se lembrar do nome. Virginia ficaria surpresa. 

Quando abre o celular para ligar para o pai, Maya vê que tem uma mensagem, e mesmo antes de digitar sua senha, sabe que é da mãe. Ela nem checa a mensagem, simplesmente liga de volta, não quer ouvir a caixa postal de novo.

A mãe, porém, não atende.

Mais uma vez cai na caixa postal, e Maya suspira.

Tudo o que quer é falar com a mãe, contar sobre o pai e o bebê, sobre Thomas e o pai dele, sobre o fracasso da viagem.

Tudo o que quer é fingir que as duas últimas horas não existiram.

Sente um bolo do tamanho de um punho em sua garganta quando pensa na maneira como Thomas a deixou sozinha no jardim, a maneira como seus olhos — que a observaram com tanto carinho no avião — estavam fixados no chão.

E aquela garota. Tinha quase certeza que era a ex-namorada dele — a maneira casual como veio chamá-lo, a mão amiga no ombro. Só não tem certeza sobre ser ex. Ela olhou para ele de uma maneira tão possessiva, como se estivesse demarcando o território, mesmo que a distância.

Encosta numa cabine telefônica vermelha e se sente mal, deve ter parecido uma idiota por ter ido procurar por ele daquele jeito. Tenta não pensar no que devem estar falando sobre ela, mas as possibilidades passam pela mente mesmo assim: Thomas encolhendo os ombros em resposta às perguntas da garota, dizendo que Maya é só uma pessoa que conheceu no avião.

Carregou as memórias da noite no voo durante a manhã inteira, a ideia de que Thomas fora uma espécie de escudo contra este dia, mas agora estava tudo arruinado. Nem mesmo a memória do último beijo a anima. É provável que nunca mais o veja, e a maneira como se despediram a faz querer se deitar no chão bem ali na esquina.

O telefone toca. É o número do pai na tela.

Onde você está? — pergunta, quando ela atende. Ela olha para todos os lados.

— Estou quase aí — responde, sem ter certeza de onde fica esse aí.

— Onde você estava? — pergunta ele.

Pelo tom de voz, sabe que o pai está furioso. Pela milionésima vez naquele mesmo dia, sente vontade de voltar para casa, mas ainda tem que ir à festa e dançar com o pai raivoso enquanto todo mundo olha; ainda tem que desejar tudo de bom para o casal, ver o bolo sendo cortado e passar mais sete horas sobrevoando o Atlântico ao lado de alguém que não vai desenhar um pato num guardanapo, que não vai roubar uma garrafinha de uísque para ela, nem vai tentar beijá-la no banheiro.

— Tive que ir ver um amigo — explica. 

O pai resmunga.

— E agora? Vai visitar algum coleguinha em Paris?

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Onde histórias criam vida. Descubra agora