Capítulo 3

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Eu sempre fui uma boa menina, sempre obedeci, sempre fiz o que me foi mandado fazer. Mesmo assim isso não me protegeu dos horrores da minha vida e com certeza não me protegeria de hoje. Eu estava por minha conta, ou talvez não.

Mais dois tiros foram disparados, gritos soaram acima de min, junto com passos desesperados de vários alunos. Eu estava paralisada, o medo era incapacitante. Eu sentia que devia fazer alguma coisa, que deveria me mover, mas simplesmente não conseguia. Eu estava na altura das salas do ensino fundamental, eu havia andado tanto em minha névoa de raiva que não tinha percebido que estava tão longe dos dormitórios. Podia ouvir barulhos de longe, como se várias pessoas estivessem saindo de seus quartos e correndo para algum lugar. Para onde eu iria? Quem estava atirando? Onde estava atirando? Segundo andar? Terceiro?

- Sophie!

Finalmente saí de meu transe. Arthur parecia desesperado, como se tivesse tentado me "acordar" várias vezes sem sucesso. Suas mão seguravam meus braços em um aperto quase doloroso.

- Nós temos que sair daqui, estamos no meio do corredor!

- Por que você não foi ainda? Por que ficou me esperando aqui?

Eu estava confusa. Se eu odiasse alguém, não iria ficar parada esperando essa pessoa durante um massacre.

- Meu ódio não passa por cima da minha humanidade. Agora será que dá para parar com essas dissertações profundas e vamos logo?

- Tudo bem...

Ele saiu praticamente voando pelo corredor, me arrastando pelo braço e fiquei surpresa com o quanto ele era veloz.

- Espera!

Parei derrepente, me sentindo desesperada.

- O que? O que foi, Sophie?

- Minhas amigas! Eu não posso sair sem elas!

Será que elas tinham saído dos quartos?

- Sophie, elas já devem ter saído de lá. Todos ouviram os tiros.

- Mas e se não? Eu... eu não posso perder mais ninguém.

Eu realmente não queria me abrir com meu arqui-inimigo, não queria mostrar fraqueza para a única pessoa que eu tinha certeza que iria usar isso contra mim, porém era inevitável. Toda essa situação me trazia memórias que eu gostaria de esquecer e me mostrava que eu já havia perdido muito. Não queria perder mais ninguém.

- Tudo bem, vamos rápido.

Corremos pelo corredor, mas quando chegamos aos dormitórios, todos já estavam vazios.

- Eu te disse. Todos devem estar na cafeteria, é um lugar amplo e tem travas de segurança. É para onde vamos.

- Mas eu ouvi os tiros lá de cima, e se o atirador estiver lá? Ele pode estar no terceiro andar, mas e se dermos de cara com ele?

Eu realmente queria evitar um confronto que arriscasse a minha vida.

- Sophie, nós não estamos seguros aqui. Eu sei que tentar chegar na cafeteria é um risco, mas se esconder é um maior ainda. O atirador pode nos encontrar, se chegarmos lá, vamos ficar seguros e ele não vai conseguir entrar, nós vamos sobreviver.

Eu não tinha certeza se daria certo, mas não queria passar a noite escondida em algum lugar e pensando que a qualquer momento eu podia ser encontrada e morta, sendo que eu teria certeza de sobrevivência em algum outro lugar.

- Foda-se, vamos.

Ficamos atentos aos barulhos. Os tiros haviam parado, não ouvíamos mais nada. Conseguimos subir para o segundo andar, mas quando fomos atravessar o corredor, vimos finalmente o atirador. Hector estava de costas, uma arma em sua mão, o cabelo ruivo reluzindo, parado bem em frente a cafeteria. Meu coração disparou, assim que ele se virasse eu poderia morrer. Arthur não me deu tempo para pensar, quando percebi, ele já havia me agarrado pela cintura e me puxado para o banheiro mais próximo. Esbarrei em uma das plantas decorativas do corredor, derrubando-a e quebrando o vaso.

𝐼𝑛𝑠𝑜́𝑙𝑖𝑡𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora