Os dias seguintes foram difíceis para mim. Eu estava chocada com a forma como a tentativa de massacre de Hector havia sido completamente esquecida pela maioria das pessoas. Era quase como se fosse uma situação corriqueira, comum, frequente. Até mesmo o post ameaçador do instagram havia sido esquecido.
Eu ainda tinha pesadelos à noite. As vezes era Bianca e mamãe, as vezes Hector, as vezes eu. Por alguma razão eu sentia que era a próxima da lista.- Misha, seu cotovelo está esmagando meus ovários.
- Oh, desculpa...
Ela corou e retirou seu braço de lá. Estávamos deitadas na minha cama juntas, já era de manhã e logo teríamos que levantar. Desde o fatídico incidente ela havia tendo pesadelos e quando não se sentia bem, ela vinha se deitar perto de mim. Eu não era fã de "grude", mas dadas as circunstâncias eu tinha que admitir que também precisava de carinho de vez em quando, mesmo que fosse desse jeito, apertadas em uma cama de solteiro.
- Já temos que levantar de qualquer forma, está na hora.
Eu disse enquanto retirava o cobertor de cima de nós duas. Fui para o banheiro e entrei no chuveiro, esperando que a água quente acabasse com o cansaço mental que eu vinha sentindo. Quarenta e cinco minutos depois, ambas estávamos prontas, maquiadas e vestidas como sempre. Misha havia colocado uma meia-calça por baixo da saia, já que estava frio hoje, e eu estava vestida com calças da mesma estampa do uniforme.
Quando já estávamos no corredor, indo em direção à nossa sala de aula, o autofalante soou."Todos os alunos se dirijam ao auditório"
- Nós temos um auditório?
Perguntei à minha colega de quarto. Ela deu de ombros com uma expressão um pouco entendiada.
- Só usamos em ocasiões especiais.
O auditório era enorme, parecia um teatro. As poltronas eram em vermelho e dourado e o palco era de uma madeira escura e reluzente. No centro havia um palanque e preso ao teto havia um projetor. Por todo o lugar haviam detalhes em dourado, até mesmo nas paredes e no teto. Era perfeito.
- Nossa...
A cada dia eu me impressionava mais com esse lugar, mesmo que muitas vezes não fosse positivamente.
- Vamos sentar ali.
Misha apontou para duas cadeiras vazias perto de onde Gabrielle e Jaya estavam sentadas na primeira fileira. Descemos as escadas, mas quando chegamos a primeira fileira, olhos verdes penetraram minha alma. Arthur estava sentado na segunda fileira, atrás de onde eu sentaria. Não havíamos nos falado desde o ocorrido, embora eu quisesse perguntar como ele estava. Apenas por gratidão, nada mais.
- Vamos.
Misha me puxou, percebendo que eu estava congelada com o olhar dele. Nós sentamos e eu esperei por um comentário provocativo dele, esperei que ele se aproximasse para sussurrar algo irritante em meu ouvido, mas nada veio. Eu estava aliviada, mas por um outro lado incomodada por silêncio, desde o ocorrido ele apenas me olhava e em seguida me ignorava.
- Silêncio alunos, silêncio por favor!
Abby pediu e aos poucos todos se calaram. Ela subiu no palanque, seus cabelos vermelhos arrumados perfeitamente em um coque. Ela usava uma blusa branca, um blazer azul escuro e uma saia lápis da mesma cor.
- Bom dia alunos do Windsor Noble Academy! Como vocês está hoje? Bom, como todos sabem, tivemos um acontecimento terrível algumas semanas atrás e sabemos que danos severos foram feitos em cada um de vocês.
Abby olhava para mim enquanto fazia seu discurso.
- Nós nos importamos tanto com a saúde física quanto com a saúde mental aqui neste internato. Por conta disso, um grupo de psicólogos foi contratado para atender vocês. Cada um vai cuidar de um turno e vocês podem ir lá quando quiserem, sempre terão três deles disponíveis. Espero que vocês façam bom uso e tentem superar o que aconteceu, pois eu sei que isso afetou, embora tentem esconder.

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𝐼𝑛𝑠𝑜́𝑙𝑖𝑡𝑜
RomanceSophie sempre foi protegida e amada, mas quando a morte chega à sua família, ela se vê perdida na solidão de estar sem seus entes queridos. A situação apenas piora quando seu pai, o único que restou, simplesmente a despacha para longe por dois anos...