Capítulo 6

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- Eu odeio ressacas.

Eram 8 horas da manhã de domingo. Misha levou a xícara de café preto fumegante aos lábios e tomou um gole, tentando fazer com que a bebida lhe fizesse recuperar um pouco da dignidade que havia perdido ontem à noite

- Dá próxima vez tenta não beber tanto, assim você não fica nesse estado.

Respondi, dando uma mordida em meu croissant de chocolate.

- Bom dia meninas...

Uma Jaya cansada e sonolenta apareceu, sentando-se em nossa mesa.

- Jaya! Senti sua falta na festa ontem, onde você estava?

- Fala mais baixo...

Misha resmungou, abaixando a cabeça na mesa.

- Eu tive alguns problemas com meu visto, tive que ir na embaixada resolver, mas já está tudo bem.

- Que bom que tudo foi resolvido, tomara que consiga ir na próxima.

Nesse momento Luther entrou na cafeteria. Assim que avistou Misha seu olhar se transformou em um misto de raiva e saudade, mas não tive muito tempo para refletir sobre isso porque ele se virou e foi embora.

- Parece que ele não quer nada comigo.

Minha colega de quarto disse baixinho, com os olhos marejados. Ela se levantou da mesa e saiu do refeitório em direção ao pátio, provavelmente ela queria ficar sozinha para pensar então fui para meu quarto, botando em plano algo que eu já queria fazer.

Durante a semana passada eu havia escutado algumas meninas comentarem sobre a floresta que havia atrás do colégio. Sobre como ela era linda, serena e mágica. Eu gostava de quase todos os aspectos da natureza, então vesti um short jeans, uma camiseta branca e um cardigan verde e coloquei um colar de prata com uma pequena esmeralda como pingente. Levei comigo uma bolsa vintage de couro e dentro dela estava apenas meu livro, Morte no Nilo, de Agatha Christie e uma toalha para que eu pudesse me sentar. Saí pelos fundos do colégio e logo me vi entrando na floresta. Caminhei para dentro sem medo, a imensidão verde me acalmando cada vez mais. Encontrei um lugar plano e estendi a toalha, me deitei de barriga para baixo e comecei a ler. Não sei ao certo quanto tempo se passou até que ouvi passos. Instintivamente olhei para trás e Joaquin, o garoto espanhol estava ali.

- Me desculpe, eu não quis te assustar. Posso me sentar com você?

Ele se aproximou de mim.

- Um pouco tarde para isso e sim, pode se sentar.

Respondi, saindo de minha posição deitada e me sentando com ele, apoiando minhas costas na árvore ao lado de minha toalha.

- Se incomoda se eu puxar um fuminho?

Ele me perguntou, levantando um cigarro de maconha entre os dedos. Soltei uma risada, mas me controlei rapidamente.

- Me incomodo se você não dividir comigo.

Respondi e ele acendeu o cigarro e o entregou para mim.

- Você já fez isso antes não é? Não quero ser responsável por desviar ninguém.

Traguei e em seguida soltei a fumaça, me sentindo imediatamente mais relaxada.

- Relaxa, faz muito tempo que eu sou desviada.

Ficamos ali em silêncio, fumando e relaxando.

- Eu estava naquela aula de astronomia que você saiu chorando, o que houve?

Joaquin me perguntou, mas eu não tinha certeza de como respondê-lo.

- Foi um misto de tudo que estava acontecendo na minha vida, entende? Eu perdi quase toda a minha família recentemente, passei por um tiroteio traumático e também tem... ele.

𝐼𝑛𝑠𝑜́𝑙𝑖𝑡𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora