O enterro foi discreto, com poucas pessoas.
Apenas um pote com cinzas enterrado na sala do trono.
Rhaella olhava para o pote que continha os restos de seu filho mais velho sem saber o que sentir.
–Meu menino. Meu primogênito. Nascido de mim quando eu era apenas uma criança. Você era meu consolo, meu orgulho e alegria. O que houve com você, meu filho? Você enlouqueceu ou já nasceu com problemas mentais por culpa do incesto?
Elia olhou com tristeza para Rhaella enquanto a rainha-mãe colocou o pote ao lado dos ossos de Aerys.
–Você ficou obcecado em viver profecias e esqueceu de viver de verdade. Você nunca foi feliz, não importa o que tivesse, apenas por que nasceu no dia da tragédia de nossa Casa. Você tinha tudo Rhaegar, e todos te amavam. Mas você destruiu o nosso amor. Por nada.
Lágrimas desceram pelo rosto de Rhaella.
–Você largou todos nós nas mãos de seu pai sabendo o quanto Aerys seria cruel e impiedoso conosco.
Rhaenys segurou a mão dela.
–Não chora, vovó.
Rhaella sorriu para a neta e enxugou as lágrimas.
–Eu o admirava. -fala Jaime, olhando para o nada -Eu o considerei quase um irmão, eu achava que ele era a esperança do reino contra a tirania de Aerys. Veja como terminou.
Lyanna deu um passo a frente, com a expressão vazia.
–Ele nos amava. -ela disse -Ele amava a todas nós e amava os filhos. Não pensem que não.
Ela suspirou.
–Mas amava muito mais suas profecias. Ele não conseguia olhar para nós e ver pessoas independentes, separadas dele. Ele nos via como sua extensão. Eu não sou a garotinha romântica e inocente, assim como vocês não são mulheres submissas que aceitam tudo caladas e nunca iriam revidar que ele enxergou. Nós somos mais do que a mãe, a esposa ou a amante de Rhaegar Targaryen. Nós somos Lyanna Stark, Elia Martell e Rhaella. Aquelas que sobreviveram aos homens que queriam nos usar.
As três saíram juntas, lado a lado, quando as cinzas de Rhaegar foram postas no lugar e lacradas.
–Eu me arrependo. -diz Lyanna. -Eu fui miseravelmente ingênua. Me deixei manipular como um fantoche. Troquei uma prisão por outra pior. Meu pai e meu irmão morreram por minha causa. E meus irmãos... Meus sobrinhos... Será que eles podem me perdoar algum dia?
Elia sentia a sinceridade na voz de Lyanna. A garota estava amadurecendo e aprendendo. Por duras penas, mas diferente de Rhaegar ela estava se permitindo crescer, ser madura e assumir a responsabilidade pelos seus erros.
–Peça perdão. De novo, e de novo, e de novo. -fala Rhaella.
–E nunca mais erre. -completa Elia.
Lyanna assentiu.
–Eu vou ser melhor. Eu vou ser uma pessoa melhor, uma mãe melhor e uma irmã melhor. E um dia, talvez eu consiga merecer o perdão da minha família. Um dia, talvez vocês consigam olhar para mim e ver mais que a garota tola que quase destruiu suas vidas.
–É um novo dia. Aegon será coroado. Eu, Rhaella e Tywin seremos os regentes até seus 16 anos. Se você está mesmo querendo se redimir, mostre que mudou e nos ajude a melhorar esse reino.
–Os homens tiveram três séculos e falharam. Talvez seja um governo feminino que Westeros esteja precisando para enfim entrar nos trilhos e ter a prosperidade que deveria ter.
Lyanna concordou.
Toda a tragédia em sua vida foi por ser recusar a cumprir o seu dever.
Talvez assumindo um dever tão pesado e se dedicar a ele possa ser uma pequena compensação pelas vidas que condenou por sua tolice adolescente.
Ela pegou seu pequeno filho no colo, assim como Elia pegou Aegon.
–Eu vou recuperar minha honra como Stark. Eu vou ser boa e ajudar esse reino a prosperar. Eu juro a vocês em nome dos deuses antigos. Eu serei boa, eu serei melhor, eu serei a filha da Casa Stark que deveria ter sido.
E ela começaria com o próprio filho.
–Elia, meu filho tem outro nome além de Aemon.
Elia ficou curiosa.
–Eu não sabia.
–O nome dele é Jon. Jon Aemon. Aemon é o nome dele que Rhaegar usava em público mas sempre o chamei de Jon.
–Como Jon Stark, um dos Reis Do Inverno da sua terra natal?
–Sim. Um nome Stark. Ele será Stark antes de ser Targaryen, assim como o Jon vem antes de Stark.
–Eu entendo. Meus filhos também têm nomes Martell, sabia?
Lyanna arregalou os olhos com a coincidência.
–Se o antigo rei Aerys ou o próprio Rhaegar tivessem visto os documentos oficiais, saberiam que Rhaenys se chama Rhaenys Meria e Aegon se chama Aegon Mors.
–Uma maneira de manter sua Casa em seus filhos. -fala Lyanna, entendendo o propósito.
–Sim.
–Sabe Elia... Eu acho que Aegon vai ser um bom rei. Por que sei que com você sendo a mãe, ele terá toda a chance de virar um novo Jaehaerys, O Bom.
–Obrigada. -ela diz, com um pequeno sorriso.
–Meu filho não será um Blackfyre, eu prometo a vocês. Ele será um Brynden Rivers. Ele vai ser um homem honrado e leal, como Ned é.
E então, no dia seguinte, Elia, segurando seu bebê no colo, se sentou majestosa no Trono De Ferro, com Rhaella em pé a sua direita e Lyanna em pé a sua esquerda.
Jaime, um degrau abaixo, empunhava sua espada e sua capa branca, cuidando de Jon, Rhaenys, Viserys e Daenerys.
–Viva a Aegon, o Sexto De Seu Nome. Que reine por muito tempo.
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Enquanto Houver Sol
Fantasy"Nada é pior do que a ira de uma mulher traída" Ele a traiu, a abandonou nas mãos de seu pai louco e ainda esperava apoio e amor incondicional. Mas ele se esqueceu de um detalhe: sua esposa era dornesa. Traição, abandono e dor eram agora parte intrí...