/ 03 / eterna mudança

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O vento entra pelas frestas da janela e faz um barulho parecido com um assobio, ouve o som do monitor de batimentos cardíacos, suas mãos gélidas como se estivesse parada naquela posição por horas. O braço pesava enquanto abria e fechava a mão para recuperar o calor de volta, seu corpo doía inteiramente, mas o que mais a incomodava era a dor em sua cabeça.

A dor era exata como uma pancada numa porta de madeira legítima, e além de tudo seu corpo estava todo frígido, sentia demasiadamente frio como se estivesse deitada sob a neve, adoraria poder esquentar-se mas não tinha forças para erguer o cobertor em seu corpo.

Os olhos abriram-se e puderam ver que estava numa cama de hospital. Ainda não se recordava exatamente como fora parar deitada ali, sua mente apenas tinha guardado o momento de estar a encarar sua nova realidade e depois Tiffany a sua frente com vestido de noiva.

Tombou a cabeça para o lado que conseguiu notar que havia uma pessoa deitada ao seu lado, era sua mãe adormecida com um livro apoiado por cima das pernas enquanto roncava bem baixinho. Ergueu seu braço e nele havia a agulha do soro sendo introduzido em sua veia. Odiava tomar soro, desde criança, sempre odiou. Revirou os olhos.

Engoliu um pouco de saliva em busca de cessar a sede que sentia como de um camelo no deserto. Tentou chamar por sua mãe, mas sua voz era tão fraca que não fez diferença alguma no sono da mulher adormecida.

Quis se levantar, mas não pôde, sentiu-se fraca demais para ter conseguir se pôr de pé.

Inclinou o pescoço para tentar entender melhor o que havia consigo para estar naquela cama, notou que vestia uma roupa privativa num tom azulado quase indo para o cinza. Não havia fios em seu peito como esperou já que quando criança passou por muitos anos cheia de fios em seu corpo numa cama de hospital.

Voltou então seu olhar para a mãe, confusa e um pouco perdida. Tinha a sensação de saber o que estava correndo, mas sua mente estava embaralhada e não via nada com completamente um borrão e o único rosto que se recordava era o de Tiffany, mas não sabia se isso tinha a ver com a mulher ou porque sonhara com ela.

— Mãe? — sua voz desta vez saiu alto, mas não suficiente para acordar a mulher — Mãe? — tentou novamente e com sucesso, fazendo sua mãe se despertar.

Num salto de susto acordou a mulher que logo surgiu um sorriso grande nos lábios com o se estivesse a ver Nica nascendo novamente.

— Já acordou... — a mulher se aproximou como todo cuidado da filha e apanhou sua mão — Como se sente?

— Com sede... — forçou sorriso — O que houve? Por que eu tô aqui?

Sua mãe caminhou para o canto da sala e tirou de dentro do frigobar uma garrafa d'água deixando Nica surpresa com fato de haver um frigobar num quarto tão minúsculo.

— Não se lembra de nada? — Indagou a mais velha.

— Devia? — tentou acessar suas ultimas memórias — Não, só me lembro de bater a cabeça e nada mais.

— Bom, querida... — entregou a Nica sua garrafa d'água e sentou-se ao lado da garota na cama — Não sabemos ao certo o motivo, mas aconteceu... Mas não foi uma batida na cabeça, — suspirou pesadamente — Você tomou dois tiros, um no peito e outro em seu ombro. — Segurou as mãos de Nica, havia no rosto de sua mãe a expressão de quem ficou com a notícia ruim para dar, aquele fardo de ter que segurar as pontas de algo delicado, porém preciso — Uma das balas não foi tão grave, mas a outra... — a mulher fez uma longa pausa, agora uma de suas mãos acariciavam os cabelos de Nica — Não sei explicar com as mesmas palavras que a doutora me disse, mas teve uma bala que acertou sua medula.

Para Florir de Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora