Para Florir de Amor

/ 05 / um clarão dentro da mente

O tempo era como um relógio quebrado, e por mais que os dias passassem, não era diferente para Nica, que agora tinha sua vida virada de ponta cabeça. Depois de decidir abrir mão do seu amor por Tiffany e não se casar com Michael tentou se concentrar nela mesma, no que ela de fato queria viver de sua vida a partir do momento que soube de sua paraplegia, pensou que seria fácil, mas o passar dos meses só a fez ver que na verdade estava exausta, sozinha e infeliz. 

Já tivera sentido a infelicidade antes, mas não dessa forma, não da forma melancólica e limitada que estava vivenciando agora, por mais que estivesse novamente aos cuidados de sua mãe não era a mesma coisa, porque a mulher não fazia ideia do que de fato acontecia dentro da cabeça de Nica. 

Durante meses tentou e relutou muito para não discar o número de celular de Tiffany e pedir perdão para a loira, por mais que quisesse o decorrer de tanto tempo a fez acreditar que Tiffany já estava vivendo uma nova vida e que ela merecia isso, não o fardo amor de Nica, sua mente lhe perturbava dizendo não ser capaz de amar a mulher sem que tivesse medo disso.

Agora fazia fisioterapia semanalmente e acompanhamento psiquiátrico. Tivera diversas crises de choro e existências na presença de sua terapeuta, porém nunca havia entrado no assunto Tiffany Valentine. 

Mudava os canais da TV, procurando algo que lhe chamasse atenção enquanto terminava seu almoço. Sua mãe a tratava como uma criança novamente, e tudo que Nica comia era preparado com muito cuidado, isso a incomodava grandiosamente, o fato de sua mãe tratá-la como uma criança que ainda não aprendeu a andar. Sabia que era capaz de fazer sua propria comida, como sempre fizera antes, mas a mulher não permitia, sempre dizia que Nica precisava ir com calma. 

Bebeu um gole do suco de laranja quando deixou no canal que passava But I'm a Cheerleader, acomodou-se na cadeira que fazia suas costas doer se permanecesse por muito tempo numa única posição, estava entretida com o filme, mas sua atenção foi roubada quando o seu celular tocou ao seu lado na mesa. 

Lá estava o nome de Bob Clark fazendo o celular vibrar, apanhou e atendeu o homem.

— Bob! — Fingiu entusiasmo, ser a Nica que costumava ser para os que ainda não sabiam o que houvera com ela — Como está? Que saudades! O que devo a honra de sua ligação?

— Finalmente consegui falar com você! Liguei pro Instituto atrás de você, mas me disseram que está afastada. Aconteceu alguma coisa?

— Não! — Mentiu mais uma vez — Só um resfriado qualquer. Logo tô de volta. — riu-se.

— Que bom! Achei que era algo grave porque me falaram que você ficou até internada.

— Pois é... Sinusite é algo complicado. Mas ainda não respondeu minha pergunta, qual motivo dessa ligação, hein?! — Tinha um ar brincalhão. Acabou aprendendo que era uma ótima mentirosa.

— Ah, sim... Já estava quase esquecendo. Você se lembra daquela última vez que nos vimos?

— Claro. — confirmou.

— Você me apresentou uma amiga sua, loira... Muito bonita e eu queria contato dela, preciso de uma atriz nova, quero um rosto novo pro meu novo filme e só consegui lembrar de você me recomendando ela.

Nica gelou por Bob tocar em sua ferida. Ainda não se sentia confortável para tocar no assunto Tiffany Valentine. Aspirou uma boa quantidade de ar e prendeu em seu peito.

— Você fala da Tiffany? Eu... — Expeliu o ar do peito — Perdi o contato com ela, não somos mais amigas.

— Não acredito, Nica...

— É... Mas ainda tenho número dela, não sei se ela está ainda usando esse número porque não nos falamos já fazem quase cinco, seis meses, então eu não sei.