Olhos de diamante.

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POV Mariana

Acordei de saco cheio do mundo. Mais um dia que me sinto no fundo do poço! Meu relacionamento com minha mãe está horrível, terminei há meses com minha ex-namorada Elena e mesmo assim não a tiro da minha cabeça, e ainda por cima, Pablo vive me mandando mensagem pra sairmos mesmo eu dizendo que sem chance.

A única coisa que me faz me sentir bem é minha filha... Regina. Engravidei em uma noite de sexo sem compromisso com Pablo. Quando disse que estava grávida o mesmo decidiu vazar e me deixou com o pior sentimento do mundo. A solidão. Eu estava me apaixonando por ele, e nesse meio tempo de tristeza acabei me envolvendo com minha amiga, Elena. Nela sim achei uma companheira. Ela viu o nascimento da Regi e me deu um grande apoio. Nos apaixonamos uma pela outra. Depois disso Pablo reapareceu graças a traição da minha mãe que aceitou dinheiro dele em troca de mandar fotos da minha filha.
Acabou que cedi o relacionamento de Pai e filha, e no fundo sabia que o melhor pra minha filha era crescer sabendo que existia um homem que já a amava. Desde então Pablo insiste em voltar comigo e causou grandes brigas entre mim e Elena, por fim terminamos. Sinto muito sua falta, mas creio que as brigas por ciúmes continuariam, e eu não sou capaz de tirar o direito da Regina de ter um pai, e nem do Pablo de ter uma filha. Então decidimos manter o contato como amigas distantes.

Entro no meu Instagram e uma publicação aleatória de uma igreja aparece na tela... a mensagem transmitia tanta paz. Eram jovens recrutando outros para um culto de sábado a noite. Quem vai a igreja sábado? E de noite? Não me lembro nem da ultima vez que pisei num local desse.
Mas confesso que aquele post prendeu minha atenção por alguma razão, então decidi ir... afinal, já estou em um mar de amargura, falar com Deus e desabafar me fará bem. Inclusive ver rostos novos! Embora não goste muito desse meio, acho que nada é pior do que estou vivendo e com quem estou convivendo.

Já são cinco horas da tarde e o culto começaria em breve. Tomo um banho rápido, escovo o cabelo, os dentes, ponho um vestido leve estampado de flores, um casaco jeans e uma botinha preta. Pego meu celular e vou em direção a sala de estar. Ali avisto Teresa, sentada no sofá comendo sorvete e descansando do dia de trabalho no salão. Então decido
avisa-la que estava saindo.
— Você na igreja, Mariana? Conta outra! Vai sair com quem?
— Teresa, só porque você é uma ovelha desviada não significa que sua filha não pode as vezes visitar uma igreja, ¿sí?
— Ai menina, cada dia é uma nova moda que você arruma. Cuidado! e pelo menos dê sinal de vida quando chegar lá.
— Ay... (reviro os olhos) — Tá, tá! Te aviso sim. Beijos. E quando o Pablo chegar com a Regina me mande uma mensagem! Ele a levou para aquela pista de boliche que sempre vai com os amigos. Ok?
— Te aviso sim. Vai lá, Madre Teresa de Calcutá— Gargalhou ao debochar.
— A única Teresa aqui é você, lindona! E falta muito pra chegar ao céu! Fui!

Saí de casa rindo das palhaçadas da minha mãe, mas logo me encarreguei de
jogar os pensamentos para longe e me concentrei em pedir o Uber pra essa tal igreja. Espero não me arrepender.

O Uber demorou uns dez minutos até o local. Fui entrando no ambiente e me sentindo deslocada... embora tenha sido bem recebida, a sensação de estar numa igreja era tão estranha pra mim. O ambiente estava bem movimentado, havia muitas pessoas da minha idade, achei legal! O pessoal estava animado, conversando entre si, rindo. Até que as luzes se apagaram e um homem bem vestido, mas com uma roupa casual, adentra o... palco? não sei se é assim que se referem. Ele começa a fazer uma introdução do que seria falado no culto e aproveitou pra fazer uns anúncios de encontros de jovens na praia que seria no próximo sábado. Não sei nem se estarei viva... quanta pressa, pensei comigo mesma. Após isso, o homem se retirou e todos ficamos de pé.

Com as luzes ainda apagadas, no meio da igreja, se acende uma de centro. E então uma mulher começa a falar. Algumas pessoas estavam na minha frente, mas decidi prestar atenção no que estava acontecendo. Atravessei meia dúzia de adolescentes e me direcionei pra frente da roda que se formou em volta da figura. Nesse meio tempo, luzes ledes azuis se acenderam. Parecia que estávamos em uma nave espacial, nunca havia experimentado uma igreja assim. Com tudo azul, e uma luz amarela de centro, vi finalmente focada nela a voz que me chamou atenção. Uma loira de cabelos nos ombros, baixa, de aproximadamente Um e Sessenta centímetros de altura e magra. Estava de costas para mim, fechei brevemente meus olhos ouvindo as doces palavras de conforto que saíam daquela boca, até que quando os abri de novo, no mesmo instante a figura loira se voltou para mim. Nossos olhares se esbarraram ao mesmo tempo, e ali pude sentir um ímã. Ficamos mais ou menos uns quatro segundos nos encarando, eu juro que os olhos dela eram como diamantes, parecia que eu estava encarando um céu de verão refletido em seus olhos. Eles invadiram minha alma! Ela aparentava ter uns trinta/quarenta anos, gesticulava suavemente com as mãos, era tão delicada.

Após esse momento de choque, ela demorou um pouco para prosseguir com as palavras mas logo se fez pronta e recuperou o discurso. E eu? Tive q colocar a mão na boca pra poder ser fechada. A mulher continuava conversando com os ali presentes, e de vez em outra olhava pra mim, sempre com um olhar intenso e curioso, como se estivesse analisando tudo em mim. Eu prontamente me segurei pra não perder a postura, que era quase impossível! mas sempre garantia de sustentar seu olhar. Se as luzes estivessem todas ligadas ela veria o quanto eu estava corada. Meu Deus, então isso que é um Anjo do senhor?
Ri internamente com meu pensamento e pedi pra Deus pra que não me castigasse por isso. Que horror.

Após seu discurso, que eu não prestei nenhuma atenção depois que recebi seus olhares, as luzes se acenderam e o pastor chegou pra dar a palavra. Enquanto nos voltávamos para ele, percebi de canto de olho que a figura loira me observava. Encostada na parede, ela ali permaneceu. Disfarçadamente eu sempre a fitava e percebia a reciprocidade no olhar. Fiquei curiosa, será que eu estava delirando? Ou ela realmente não tirava a atenção de mim? Devo estar maluca! Para de ser emocionada, Mariana. Tentei me concentrar nas palavras mas nada adiantava... e por assim foi durante meia hora, até que o culto chegou ao fim.

Estava indo embora quando uma menina muito simpática veio em minha direção e se apresentou como Cecilia. Conversamos bastante e ela me deixou a par de como ali dento funcionava... até que durante a conversa eu soube que a mulher loira era sua mãe, e que seu pai era o homem que comunicou os jovens sobre o Encontro do próximo sábado.
Então ela era casada? Logo me prontifiquei a desfazer todos os pensamentos e delírios que me ocorrera mais cedo. A moça deve apenas ter ficado curiosa com um rosto novo na igreja.
Cecilia contou que os pais eram os Líderes dos Jovens, e pastores. Ela queria me apresentar pra eles. Meu Deus, que vergonha.
— Ei! Posso te chamar de Mari, né?
— Claro! - dei um sorriso- Tem certeza que precisa me apresentar pros seus pais? Não tem necessidade...
— Claro que precisa! Nós somos muito receptivos aqui, quero que você volte mais vezes, te achei legal! - a mesma sorriu.- Vamos lá! Mamãe está logo ali.

Agora é a hora que eu morro? Ai jesus. Me. Salva.
— Oi mãe! Está muito ocupada? - a loira estava de costas pra gente.
— Oi filha, só um minutinho, estou terminando de fazer uma anotação aqui. - Ela continuava virada, e eu dei graças a Deus por isso.
— Quero te apresentar a Mariana. Veio hoje aqui visitar a igreja e eu logo fui com a cara dela, não posso deixar passar. -- A mesma riu sincera, e eu retribuí com um sorriso nervoso. — Anda mãe!
— Ai meu Deus tá bom!— e foi nesse momento que meu coração parou.— Olá! Mariana, né? — Fui fuzilada, que olhos penetrantes, meu Deus! Ela disse as palavras tão plenamente que eu me achei uma ridícula por ter fanficado tanto. A mulher me deu dois beijinhos de bochecha pra se apresentar e eu senti seu rosto molhado. — Me desculpe, te cumprimentei suada! Esqueci! não parei quieta.
— Sim, prazer! — sorri de canto— Sem problemas! Vim visitar aqui, achei o lugar incrível! Estava indo embora quando sua filha chegou para conversar comigo. — A mulher me fitou com um sorriso pequeno. Inclusive senti seu suor em minhas bochechas e nem liguei. Geralmente morro de nojo de pessoas suadas vindo falar comigo.
— Ah que bom que gostou! Cecilia é assim mesmo, muito extrovertida! Puxou o pai! A propósito, meu nome é Ana. Espero que venha mais vezes! Será muito bem-vinda!— Ela sorriu de canto e eu retribuí. "É claro que voltarei, estou hipnotizada por você!" Pensei comigo mesma.
— Obrigada, Ana. Voltarei sim. E obrigada pela recepção Cecilia!— Disse sorrindo para as duas.
— Nada! Bom sábado! Esperaremos por você, hein! — ambas sorriram e eu me despedi e saí do local.

Peguei um Uber e no caminho de casa logo tratei de fuçar as redes sociais da Cecilia pra achar a Ana. Por que sou assim, Senhor? Por quê???? Achei seu Instagram e ali fiquei admirando suas fotos, meu Deus que mulher linda. Descobri que tem outros dois filhos, mais novos que Cecilia. Mas não os vi na igreja. Inclusive uma era bebê! Aparentava ter a mesma idade de Regina. E que marido feio é esse, hein? Parece o Faustão. Uma mulher dessa se prestando a esse papel? Mas amor é amor né, quem sou eu pra julgar? Ri comigo mesma pensando o quanto sou intrometida.

Cheguei em casa, minha mãe já estava dormindo junto de Regi. Graças a Deus. Tomei uma ducha, jantei, peguei minha filha e me deitei, até que hoje foi tranquilo. Esqueci Elena por algumas horas e não havia mensagem do Pablo também. Tomara que tenha caído na real.

Fiquei pensativa no meu dia, e toda hora vinha aqueles segundos em que eu e Ana nos olhamos intensamente. Tratei logo de jogar fora qualquer hipótese de atração, afinal, ela era casada, tinha uma família e ainda era pastora! Que loucura, né? Caí na real, li um livro pra me distrair e acabei adormecendo.

Maryana - Amor ou pecado? Onde histórias criam vida. Descubra agora