Encontro

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Mariana ajustou o carrinho de Regina enquanto adentrava o aconchegante café, onde Ana já a aguardava. Cumprimentaram-se calorosamente, sentando-se em um canto mais tranquilo.

     -Oi, mari! Preparada pra nossa reunião? Tive ótimas ideias pra nosso projeto. Senti sua falta também!
Oi coisinha fofa! Como você está, hein?. - Ana falava com Regina e Mariana admirava aquela interação.
  -Sempre! Também tive algumas invenções . Também senti saudades! E aparentemente a pequena também! Ela adora você.
⁃ Que bom! Me sinto importante! - Riram descontraídas.

A reunião ja passava de duas horas de duração e enquanto falavam sobre layouts, recursos e vivencias da maternidade que poderiam agregar no app, Mariana sentiu uma faísca de algo mais profundo. Cada vez mais as duas encontravam coisas parecidas uma na outra, até em situações que seriam impossíveis, pensavam igual no trabalho, na vida e era nítido que possuíam uma química diferente de pessoas que se conheciam em tão pouco tempo.
Mariana deixava aquele pensamento de lado e era atraída novamente por aquele olhar tão marcante que Ana tinha.

-Terminamos. Acho que fizemos algo incrível juntas. E ainda por cima vimos que temos muito mais em comum do que pensávamos. Como pode? Até em reunião de negócios.
-Se eu te dissesse que estava pensando exatamente isso, Ana, acreditaria?
⁃ Eu acredito, é nítido! Nem acredito que de repente ganhei uma grande amiga.
⁃ Pois é! Também estou muito feliz com nosso encontro. - Mariana por dentro sentiu felicidade e frustração, se sentia bem de ter sua companhia mas sabia que sentia algo a mais e que se passasse mais tempo com Ana aquilo seria nutrido.
⁃ Bom, eu tenho que ir pra casa agora resolver o resto do passeio da igreja, você vai né? Está proibida de faltar. - Ana a olhou com uma expressão de ameaça engraçada.
⁃ Eu não sei. Tenho que ver se consigo deixar minha filha com o pai.
⁃ Olha, sem problemas. Caso sua bebê precise ir com a gente não tem drama. Eu vou levar minha filha também e ja aproveito e separo duas cadeirinhas pra elas. O ônibus é bem grande confortável.
⁃ Combinado. Até hoje mais tarde te confirmo.

Ao se despedirem, Mariana e Ana trocaram um abraço prolongado. Foi a primeira vez que fizeram isso, como prova de uma amizade com mais confiança e intimidade. Mariana percebeu a tensão no toque. Era como se aquele pequeno gesto fosse esperado por ambas há um bom tempo.
Aproveitou pra sentir o cheiro de Ana, um aroma cítrico e marcante. Quis naqueles segundos que o tempo parasse. Se sentiu tão vulnerável e segura, realmente o encontro delas estava marcado nas estrelas.

O tempo estava agradável de noite, Mariana ja havia se preparado pra dormir, ajeitado Regina e dado janta. Na cama, pegou seu notebook e viu toda criação do aplicativo que teve  com Ana, sorriu involuntariamente. Achou alguém pra dividir o trabalho e as situações da vida.
Pela sua cabeça passou que a melhor coisa que aconteceu foi ter ido aquela igreja.
E pela Ana ela era capaz de continuar lá, mesmo não concordando com muitas coisas que eram ditas ali dentro, o que a deixava tranquila era saber que Ana não concordava também. Mas como pode? Ela pastoreava, suas palestras diziam apenas o que acreditava  mas estava em um lugar que não se expressava em sua verdadeira forma, em que era moldada por um marido machista e sem graça.
Mariana entendia que Servin ja tinha sua vida feita e que ali dentro era sua zona de conforto, então só aceitava o destino e rezava escondida pra que a mesma encontrasse coragem de ser mais ela.
Era nítido a mudança dela quando estavam sozinhas, e quando estavam em frente a crentes que se achavam perfeitos juízes.
Logo em sua mente veio ela e Ana correndo juntas, livres. Com suas bebês do lado. Ela imaginava as quatro na Italia, lugar onde ambas descobriram no café que tinham o sonho de conhecer.
⁃ Mariana, Mariana... chega de fanficagem. - Disparou pra si mesma e riu com sua criatividade. - Essa é a maior loucura que estou me metendo. Preciso tomar um rumo que não me magoe.
⁃ Ta falando sozinha, filha? - Terê chegou de repente.
⁃ Aiii, Mãe! Que susto! Você quer me matar?
⁃ Quero saber se está maluca de vez mesmo.
⁃ Sim, estou. Falando sozinha e maluca!
⁃ Percebi. Ficou onde o dia todo?
⁃ Trabalhando no aplicativo. Achei uma parceira que se interessou bastante na minha ideia, a Ana. Lembra?
⁃ Lembro sim, a pastora. Que bom! Eu sempre achei incrível essa ideia. Espero que vocês consigam.
⁃ Nós iremos.
⁃ E estou abismada de você crente. Não sei que mel foi esse que tinha lá, mas jamais te imaginei na igreja.
⁃ Ai, mamãe, você age como se eu fosse uma ovelha negra, quando na realidade só não tenho religião. E não, não sou crente, apenas fiz amizades ali dentro que me fazem bem, mesmo não concordando com tudo que é dito lá, me importo mais com as companhias. - Ana veio na cabeça da Mariana, era na verdade o único motivo por ter ficado lá, e sua família a estava cativando também.
⁃ Entendi... que bom filha, arrumei um emprego num salão de beleza, ja consigo pagar nosso aluguel. Vê se vai dormir que está tarde. Boa noite.
⁃ Aquela entrevista que tinha? Ah que ótimo! Parabéns, Terê!  Boa noite!

Com essa deixa, Mariana se virou e ligou pra Pablo que não atendeu sua chamada. Não ia conseguir confirmar hoje pra Ana se iria no passeio. Com isso, virou pro lado , verificou Regina dormindo igual um anjo e dormiu junto.

Despertou ao som do alarme, esfregando os olhos enquanto pegava o celular. Mensagens de Ana iluminavam a tela, desejando bom dia e questionando ansiosamente sobre sua presença no passeio da igreja.
"Bom dia Mari, vai conseguir ir? Achei a cadeirinha pra Regina. "
"Bom dia, Ana. Desculpa a falta de retorno ontem, Pablo não atendeu. Mas sendo assim levo a pequena. E aviso ele. É  esse domingo agora, né?"
"Isso! Sem problemas e que bom que vai! Estava ontem de noite lendo nossas ideias pro aplicativo, estou encantada. Somos uma boa dupla."
"SIM! Eu também amei. A gente se encaixa perfeitamente nas ideias. Vai ser um sucesso!"
"Quer ir almoçar sábado? Antes do culto dos jovens? Juan Carlos vai ter que ir cedo e ficar o dia todo na reunião com o Bispo."
"Claro. Estarei livre. La no restaurante do lado da igreja? Que horas?"
"Isso, 13hrs. Te espero lá! Beijos."

Mariana silenciou o celular e foi começar seu dia, ficou feliz em saber que veria Ana, visto que era a única cia ultimamente que a estava fazendo bem.

Maryana - Amor ou pecado? Onde histórias criam vida. Descubra agora