Sangrentos: Outer Sides

.6: Solway Firth

— Você deve tá se perguntando agora... “O que caralhos eu fiz pra acabar assim?” Eu entendo, você teve uma vida brilhante. Comandou várias operações especiais em seus anos de serviço. Condecorado mais vezes do que o número de homens, mulheres e crianças que morreram por sua causa. — com um cruzado de direita, ele golpeia violentamente o rosto de um homem com cabelos grisalhos bagunçados. — Não dorme, filho da puta. — em seguida, o segura pelos mesmos fios brancos: — Olha pra mim, eu. Quero. Que olhe. Pra mim! — e dá um tapa no rosto já castigado do homem.

ㅤㅤㅤㅤEmbora todo o lado esquerdo do seu rosto esteja desfigurado devido aos socos que levou anteriormente, o mais velho o encara como se o conhecesse. Como se já tivesse visto aquele olhar ao mesmo tempo em que parece vazio, carrega um ódio tremendo.

ㅤㅤㅤㅤ— Sabe quem eu sou, né? — o agressor o solta e se afasta, observando o homem amarrado a uma cadeira, amordaçado e ainda vestido com seu pijama sujo de sangue. Um pouco atrás, está o corpo da empregada rodeado por uma poça de sangue do ferimento de tiro em sua cabeça. Também há sangue manchando a parede do quarto. — Karl Crawlford, vigésimo sexto batalhão — ele se agacha na frente do homem. — Você foi meu superior, lembra? Ein? Lembra de quando me mandou eliminar o pelotão? — ele se levanta e chuta a canela do seu antigo superior, que tem seu grito abafado pela mordaça. — E lembra de quando mandou me matar? — outro chute no mesmo local. — Pois é, você achou que tinha se livrado de mim, mas eu tô aqui, bem na sua frente. — Karl se curva na frente do homem e segura sua coxa direita, penetrando o dedão no buraco de tiro que havia lhe dado antes.

ㅤㅤㅤㅤO mais velho se contorce de dor e grita enquanto chora. Karl exibe um sorriso sádico enquanto vê sua vítima agonizando e gargalha, se afastando dele novamente.

ㅤㅤㅤㅤ— Sério... eu fiquei esses últimos quatro anos atrás de você. Poderíamos estar fazendo esse encontro num bar, tomando umas geladas... — andando de um lado para o outro, ele gesticula com as mãos vermelhas com sangue. — Sério, eu não me importei de matar todos eles. Nem mesmo o Lewis; aquele que ia virar pai. — ele para na frente do mais velho e leva a destra até a cintura, sacando uma Colt 1911 preta, e a mirando contra a face da vítima, que meneia a cabeça, implorando para que o gatilho não seja disparado. — O que me deixou puto foi você ter mandado me matar. E mandou um amador pra fazer  serviço, ainda por cima. Eu não mereço um matador profissional pra me dar alguma diversão? Porra, eu matei vinte caras, armados e com sangue nos olhos. Eu merecia-- — ele é interrompido quando escuta seu celular tocando dentro do bolso da jaqueta que deixou sobre a cama do militar. — Cacete... — Karl demonstra um espanto genuíno com a ligação e se apressa para pegar o telefone.

ㅤㅤㅤㅤEnquanto isso, o antigo superior de Karl respira um pouco mais aliviado, apesar de saber que seu fim é iminente. Sob o seu comando, o homem de topete e cavanhaque realizou várias missões extra-oficiais, que quase sempre tinha o mesmo objetivo: eliminar alvos. Tê-lo mandado para dar cabo dos seus companheiros de pelotão foi a única forma que ele encontrou para um mega-esquema de tráfico de drogas não fosse exposto, já que arruinaria a imagem do exército americano — e de toda a nação em si. E agora ele chora, se arrependendo de tudo o que fez, mas apenas por causa do seu único erro ter voltado do mundo dos mortos para se vingar.

ㅤㅤㅤㅤKarl limpa o sangue dos seus dedos na roupa de cama e pega seu celular, encarando a tela com a mensagem “Número Desconhecido”. Com pressa, ele atende a ligação e leva o aparelho à orelha:

ㅤㅤㅤㅤ— Alô? — seu tom de voz muda para um mais amistoso.

ㅤㅤㅤㅤ— Karl? Meu filho... — uma voz grave, mas ainda mais amistosa o responde. — quanto tempo. Como vai indo?

ㅤㅤㅤㅤ— Pai... eu eh... — ele olha o homem amarrado à cadeira. — estou resolvendo aqueles velhos assuntos.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, sim... mas meu filho, temo que seus velhos assuntos não sejam mais relevantes.