.2: Doomed

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— “Senhores, os Estados Unidos da América precisam da ajuda de vocês. Como bem sabem, o mundo está enfrentando um surto de uma doença letal e perigosa. O exército está fazendo o possível para conter a pandemia, mas já está se tornando algo que nossa força militar não está sendo capaz de controlar sozinha. Por isso, designei o General Victor Hugo para recrutar vocês para essa guerra.” — A voz do homem engravatado e cabelo penteado para o lado sai de uma grande televisão com uma câmera em cima, mostrando que ele estava falando tudo ao vivo para a platéia formada inteiramente por homens vestidos com macacões laranjas. Alguns deles estão de braços cruzados, exibindo as tatuagens e os músculos. Todos os presidiários escutam atentamente as falas do político e um deles toma à frente, encarando o monitor.

ㅤㅤㅤㅤ— Deixa eu ver se entendi: o Estado nos jogou aqui, alguns de nós pelo resto da vida e agora querem nos tirar pra morrermos pra uma doença? É isso mesmo, senador?

ㅤㅤㅤㅤ— “Vocês e todos nós morreremos se não houver combatentes. O país precisa de vocês e, quando tudo isso acabar, considerem suas penas anuladas.”

ㅤㅤㅤㅤ— E do que adianta a gente ficar livre desse lugar, mas não ter mais pra onde ir, já que vocês começaram as explodir as cidades? — pergunta outro preso e sua fala surpreende a todos dentro da sala, inclusive ao próprio senador.

ㅤㅤㅤㅤ— “Eh-- não, não é o que estão pensando. As cidades implodidas não tinham condições de serem salvas. São os locais onde a concentração de infectados era maior e impossível de controlar” — diz o senador, claramente surpreso pelo fato do presidiário saber disso.

ㅤㅤㅤㅤ— Pois então eu quero mais é que se foda você e o seu país. Nós vamos ficar aqui e vocês que se virem — diz o primeiro preso a tomar a palavra, dando início a uma série de gritos de protesto, por parte dos demais.

ㅤㅤㅤㅤUma rajada de tiros é disparada para o alto, fazendo detritos de concreto caírem. Os presidiários se agacham com os barulhos, mas logo se põem de pé, quando o tiroteio cessa.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas que porra foi essa, seu maluco?! — pergunta um dos presos, visivelmente com raiva.

ㅤㅤㅤㅤO homem usando um traje amarelo com camuflagem militar abaixa o fuzil M-16 e olha para eles, ajustando o colete com vários equipamentos no corpo. Apenas o seu rosto é visível.

ㅤㅤㅤㅤ— Seguinte, seus estrumes. Com certeza a maioria de vocês têm famílias; eu tenho a minha e meus companheiros também. Vocês acham que estamos fazendo isso pela porra do país? Estamos fazendo pelas nossas esposas e filhos. Então, parem de fazer cu doce e vamos acabar com esses mortos de merda agora.

ㅤㅤㅤㅤ— “General Hugo...”

ㅤㅤㅤㅤ— Deixa que eu resolvo isso, senador. Volte a assinar papéis. — Victor desliga a televisão.

ㅤㅤㅤㅤ— É bom ver como fala, palhaço. Você não tá no Iraque — um presidiário usando um gorro vermelho dá alguns passos adiante.

ㅤㅤㅤㅤ— Graças a Deus que não tô no Iraque. E mesmo assim, esse puteiro nem se compara com as merdas que passei lá. Mas enfim, caralho. Vamos logo, temos uma guerra pra vencer.

ㅤㅤㅤㅤ— Você é surdo, cacete?! Nós não vamos sair daqui.

ㅤㅤㅤㅤVictor Hugo comprime e umedece os lábios, soltando o ar pelo nariz logo em seguida. Sem dizer mais nada, ele ergue o fuzil e dispara um único tiro na cabeça do preso, que morre instantâneamente e seus companheiros apenas o vêem cair no chão frio. Os demais soldados que estão na sala também erguem seus fuzis, mirando no grupo laranja.

ㅤㅤㅤㅤ— Vocês vão vir por bem ou por mal, caralho?

ㅤㅤㅤㅤUm momento de silêncio toma conta do refeitório onde todos estão. Alguns dos presos olham para o cadáver caído, enquanto outros encaram os fuzileiros. Ninguém esconde a raiva estampada em seus rostos.

Sangrentos: Outer SidesOnde histórias criam vida. Descubra agora