.9: Savages

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A luz da lua cheia ilumina a floresta e torna o caminho à frente visível o suficiente para que a garotinha consiga continuar correndo. Ela está ofegante, parece que faz horas desde que iniciou sua fuga desesperada. Atrás de si, gritos, xingamentos e latidos a perseguem e atormentam sua mente. O suor da testa coberta por uma franja chega a seus olhos e isso a cega apenas por um segundo, mas é o suficiente para que ela tropece na raiz exposta de uma árvore e dê um pequeno grito antes que vá de encontro ao chão seco e duro, sentindo sua bochecha direita sendo arranhada pela terra. A menina tosse e abre os olhos, vendo vários feixes de lanternas passando rapidamente, apontando em várias direções diferentes.

ㅤㅤㅤㅤ— Cadê a fedelha, porra?! — indaga uma voz masculina grossa, impossível de saber de onde vem.

ㅤㅤㅤㅤ— Venham por aqui! Eu ouvi um grito, só pode ser dela! — alerta outra voz. Os latidos dos cães ficam mais altos e passos começam a ser dados.

ㅤㅤㅤㅤ— Corre, Hope!! Corra o mais rápido que puder--

ㅤㅤㅤㅤ— Cala a boca, vadia! — fala um terceiro homem, após interromper o clamor da mulher com um golpe metálico que a criança não consegue identificar.

ㅤㅤㅤㅤHope tenta não perder tempo. Ela engatinha tentando desesperadamente se pôr em pé e quando consegue, torna a correr, agora tentando desviar dos feixes das várias lanternas espalhadas entre as árvores.

ㅤㅤㅤㅤ— Achei ela! — agora é uma mulher que exclama. - Sigam pra direita!!

ㅤㅤㅤㅤ— Não, não, não... — Hope começa a repetir várias vezes enquanto corre. Sua garganta está seca assim como seus lábios. Os cortes em suas bochechas ardem com a terra ainda presa à pele suada. Suas pernas doem de tanto correr e seu coração parece que vai sair pela boca de tão forte que bate. E essa aceleração apenas cresce quando ela escuta um homem gritar algo para seu cão e soltar a corrente que prende o animal. Os latidos mais fortes e altos que ela ouviu agora estão mais intensos. Seu predador se aproxima impiedosamente rápido.

ㅤㅤㅤㅤA jovem de cabelos castanhos, embora continue correndo, pensa se o melhor a se fazer não é parar e aceitar seu fatídico destino, mas mesmo tendo isso em mente, seu corpo não atende e ela continua fugindo e olha por cima do ombro. A cena que acontece logo em seguida parece ser captada em câmera lenta pela menina: o pitbull atlético mais parece uma pilha de músculos com quatro patas, sua boca está espumando como se ele estivesse passando mal, mas isso é apenas o apetite que o faz saltar na direção das costas de sua presa assim que a distância entre ambos é curta o suficiente. Todas as lanternas já miram nos dois e o grupo de pessoas que as portam, parecem não querer perder nenhum segundo do espetáculo que está para acontecer.

ㅤㅤㅤㅤPor um momento, o coração de Hope para e seu corpo inteiro fica gelado. Esse momento é prorrogado quando um forte estampido chega aos seus ouvidos, machucando seus tímpanos a ponto deles ficarem zunindo, mas o que realmente assusta a menina é ver o pesado cão literalmente explodir no ar, se transformando em uma bola de carne e sangue que se espalha por todos os lados, sujando o cabelo, as costas e o rosto de Hope, que perde novamente o equilíbrio e cai rolando no chão. Os dois pedaços do Pitbull caem longe um do outro, mas seus intestinos se espalham pelo chão coberto por folhas e um silêncio mortal toma conta daquela cena. Até os outros cães pararam de latir, assustados com o som alto.

ㅤㅤㅤㅤ— Ma--Magnus... — um homem magro e com um longo cavanhaque cinza cai de joelhos, ainda segurando a corrente do seu agora falecido cachorro. Seus olhos se enchem de lágrimas, mas nenhum dos seus companheiros ousa dizer nada.

ㅤㅤㅤㅤ— Quem foi o idiota que soltou a porra do cachorro? — segurando uma escopeta Boito A-680 com ambos os canos soltando fumaça, um homem robusto se aproxima de onde Hope e o animal morto estão. — Ah... tinha que ser você, Marvin... sorte a sua que eu não tenho mais nenhuma bala na arma, se não você ia encontrar com o cão, seu filho da puta! — furioso, o homem com uma barba por fazer e o cabelo acinzentado que cobre a nuca aponta com a mão enluvada. — Se ele comesse a menina, o que a gente ia comer?? Ein?!

Sangrentos: Outer SidesOnde histórias criam vida. Descubra agora