Núbia Rangel.
Nascida e criada nas dificuldades de se viver em uma comunidade no Rio de Janeiro. Sem abaixar a cabeça pra ninguém e muito menos me lamentar, ser pobre não é sinônimo de tristeza, graças a Deus com o esforço do meu trabalho eu e minha filha temos a vida que podemos da melhor forma possível, sem atrasar ninguém.
Sou ajuntada com o Matheus, pai da minha filha. Ele roda no moto táxi, mas não coloca nunca dinheiro casa, sempre diz que não tem passageiro, que o ponto tá fraco, sendo que aqui é ponto turístico pra varias pessoas, gringo é o que mais frequenta.
Já tivemos várias e várias brigas de cair na porrada, eu sempre cobrando um posicionamento dele como marido e inclusive como pai, que era o mais importante pra mim. A Manuela sempre presenciando tudo, tadinha da minha bichinha.
Minha sogra, aquela mulher é uma cobra. Ela passa panos quentes em tudo que o Matheus faz. Da dinheiro pras farras dele, pra cortar cabelo, roupa de marca, o famoso dublê de rico. A única coisa que ela tem de bom, é tratar a neta bem, mas se não tratasse eu fazia ela comer asfalto quente, com minha filha ninguém mexe, viro bicho.
Meu relacionamento não existe mais, estamos por puro comodismo. Ele vive jogando na minha cara que depois que eu tive a Manu que eu engordei horrores, que eu tô igual um botijão, sempre me jogando pra baixo o tempo todo. As vezes quando eu tô de folga me arrumo mais um pouquinho, ele sempre arruma um jeito de me humilhar. Mas eu não sou de abaixar a cabeça não, xoxo ele todinho também, chamo de duro, fudido, acabo com a raça dele, por baixo eu não fico.
Acordo cinco e meia da manhã pra adiantar o almoço e jantar da Manuela, porque se depender do Matheus a garota só come miojo. Antes de ir trabalhar eu sempre deixo o uniforme dela passadinho esticado na cama, o único trabalho que ele tem é levar ela pra escola e buscar, porque esse mês eu tô dobrando direto.
Trabalho no Barra Shopping na Riachuelo, geralmente quando eu dobro é de 10h as 22h da noite, mas tem que está abrindo a loja as 9h30, então já sabem a correria né gatas?
Hoje o dia foi pau a pau, quem trabalha em shopping ou em mercado sabe que a gente nunca faz a função que tá assinada na carteira, a gente lava banheiro, ajeita estoque, atende cliente, mil e uma função sem ganhar um real a mais, eles aproveitam que a gente precisa e adoram pisar na nossa cabeça, mas da em nada não, um dia vou tá de patroa com minha filha só aproveitando as maravilhas dessa vida.
Mas como eu disse antes, não sou de reclamar de nada não, trabalho pra caralho pra final de semana eu tomar minhas cervejas com minha mãe e minha irmã. Se minha filha quer um Mc Donalds eu compro, se ela precisa de alguma coisa importante eu compro, tudo no cartão né, mas passo igual e pago direitinho também, meu nome bem limpinho graças a Deus.
Quase 00h e eu já estava moída, hoje fechou tarde a beça, 22h30 eu ainda estava saindo do shopping. Pra vir pra casa são duas conduções tá. Tenho que pegar o brt até o primeiro ponto e de lá pegar uma van pra minha favela.
Tem todo um processo pra chegar até em casa, eu crente que ia encontrar Matheus no ponto de moto táxi, perguntei por ele pelo os meninos e eles disseram que nem a cara ele deu hoje e muito menos pagou o ponto, minha cara esquentou na hora. Garoto irresponsável, filho da puta cara, que ódio, odeio ser cobrada por uma dívida que não é minha, sou muito certinha com minhas coisas, pago tudo em dia.
— Quanto é Murilo? Desculpa mesmo, cheguei do trabalho cansada, pra mim ele já tinha pago.
— 120,00 Nu, mês passado ele não pagou também, eu sei que tu é firmeza, mas se eu não cobrar, os cara vão e tudo sabe como é que é, paguei a dele na última vez pra não cobrar juros.
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Acasos
Roman d'amour+18 | Quem cultiva a semente do amor, segue em frente e não se apavora. Se na vida encontrar dissabor, vai saber esperar a sua hora. - Tá Escrito... Xande de Pilares.