Núbia,
algumas semanas depois...Minha palavra é uma só e ela basta, acabei de chegar do fórum pra resolver essa questão do Matheus, coloquei ele na justiça e não me arrependo. Apenas quero o que é da minha filha por direito, agora ele vai ter que trabalhar na marra, senão ele vai é ver o sol nascer quadrado.
E eu não tenho pena alguma, até porque na minha vez ninguém teve pena, então como dizia minha avó: "todo bicho de pena toma no cú".
A mãe do cafetão de puta pobre desde aquele dia não toca uma palavra comigo e quando me vê troca de calçada e eu acho é bom, eu sou muito recíproca, se me der paz, tu vai ter paz, mas se fizer inferno, tu vai ter o dobro.
Perdi metade da minha folga só resolvendo esses estresses lá no centro da cidade, tive que mudar meu email, tudo bonitinho pra chegar o dia da audiência direitinho, porque o correio não entra aqui, uma puta de sacanagem.
Chego no morro por volta de umas 17horas da tarde, favela tá movimentada hoje, as meninas lá do trabalho me chamando pra uma baladinha lá na pista, tu acha que eu vou? Vou nada, não tô podendo gastar com besteira, ainda não cheguei no nível de luxar. Quero minha cama e minha conchinha com minha bebê grande.
Antes de passar pra pegar a Manu na minha mãe, passei no mercado pra comprar algumas coisas que faltavam lá pra casa, cartela de ovo, leite e a merenda pra ela levar pra escola.
— Ô mãe — gritei e a Manuela já apareceu na porta toda descabelada.
— Tá gritando no meu portão porque? Por um acaso você tá proibida de entrar na minha casa? — Minha mãe falou fazendo o drama dela e eu só revirei os olhos rindo.
— Aí mãe, desculpa, mas eu tô exausta. — falei entrando no quintal e dando dois beijinhos no rosto dela, seguidos de um abraço.
— Tanto que te falei pra você estudar, arrumar... — Ia começar o mesmo discurso de sempre e eu tratei de cortar.
— Mãe, não começa, hoje não, bora Manuela, tenho tua vida não. — Minha mãe levantou as mãos em rendição e balançou a cabeça em negação.
— Tô pegando a mochila mãe — Minha filha apareceu ajeitando a mochila nas costas e se despediu da avó dando um beijo no rosto da mesma.
— Que Deus coloque juízo nessa sua cabeça minha filha, oro muito por vocês duas.
— Continua orando mãe, se possível faça até jejum, mas nao fale o que nao sabe. — falei chateada e sai dali com dois quentes e um fervendo.
Minha mãe sempre vem com essa história de gravidez na adolescência, meu casamento com o Matheus, meu trabalho de merda no shopping, aí começa a falar da minha irmã, que arrumou alguém bem de vida e que agora tá colhendo os frutos e blá blá blá.
Cibelle é cinco anos mais velha que eu e já tem três filhos, um de cada pai, todos bandidos e esse homem que minha mãe coloca lá encima é o Fábio, um coroa lá da pista. Minha irmã conheceu ele, quando trabalhava de cuidadora de idosos e cuidava da mãe dele, minha irmã, boba e nem nada agarrou logo o homem, não a julgo, mas aí também minha mãe colocar ela no alto e sempre querer me diminuir pelo o rumo que minha vida tomou não é justo.
Tenho meus sonhos, minhas metas sim, mas no momento vou realizar os sonhos da minha filha, nosso cantinho, uma escola boa pra minha Manu, só que infelizmente na vida do pobre, nada acontece da forma que queremos, o jeito é trabalhar e correr atrás.
Cheguei em casa colocando a bonita pra tomar um banho e eu tomei depois logo em seguida. Coloquei a roupa de molho no tanquinho, estendi as que estavam no balde, dei uma varrida na casa e depois fui fazer janta.

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Acasos
Romance+18 | Quem cultiva a semente do amor, segue em frente e não se apavora. Se na vida encontrar dissabor, vai saber esperar a sua hora. - Tá Escrito... Xande de Pilares.