2 "Luthor"

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Boa leitura!💋
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Uma vez, quando eu estava de tocaia em uma árvore, imóvel, esperando a caça aparecer, adormeci e caí de costas no chão de uma altura de três metros. Foi como se o impacto tivesse expulsado cada centímetro cúbico de ar de meus pulmões. E fiquei lá deitada, lutando para respirar, para me mover, enfim, para fazer qualquer coisa.

  É assim que me sinto agora, tentando lembrar como se respira, incapaz de falar, totalmente atordoada, ouvindo o nome repicar no interior de meu crânio. Alguém está segurando meu braço, um garoto da Costura, e talvez eu tenha começado a cair e ele me pegou.

  Deve ter havido algum engano. Isso não pode estar acontecendo. Alex era uma tirinha de papel entre milhares! Suas chances de ser escolhida eram tão remotas que nem me dei o trabalho de me preocupar. Eu não tinha feito tudo? Não tinha pego as tésseras e me recusado a deixar que ela fizesse o mesmo? Uma tirinha de papel. Uma tirinha de papel em milhares. A probabilidade era completamente favorável a ela. Mas não adiantou nada.

  Em algum lugar distante, consigo ouvir a multidão murmurando com tristeza, como sempre acontece quando alguém de doze anos é escolhido, porque ninguém acha isso justo. E então eu a vejo, o rosto lívido, os punhos cerrados ao lado do corpo, caminhando com passos curtos e resolutos em direção ao palco. Ela passa por mim e vejo que a parte de trás da blusa escapou novamente da saia. É esse detalhe, a blusa para fora da saia formando um rabo de pato, que me traz de volta à realidade.

– Alex! – O grito estrangulado sai de minha boca e meus músculos começam novamente a se mexer. – Alex! – Eu não preciso abrir caminho em meio à multidão. Os outros garotos dão passagem imediatamente, permitindo que eu chegue rapidamente ao palco. Eu a alcanço quando ela está a ponto de pisar no primeiro degrau. Empurro-a para trás de mim com meu braço.

– Eu me ofereço! – digo eu, arquejando. – Eu me ofereço como tributo!

  Há um certo burburinho no palco. O Distrito 12 não tem um voluntário há décadas, e o protocolo já está enferrujado. A regra diz que, uma vez que o nome de um tributo foi retirado da bola, outro garoto elegível, se foi lido um nome de um garoto, ou outra garota, se foi lido o nome de uma garota, pode se apresentar para tomar o lugar dele ou dela. Em alguns distritos em que vencer a colheita é uma grande honra, as pessoas ficam ansiosas para arriscar sua vida, o que torna o voluntariado algo bem complicado. Mas no Distrito 12, onde a palavra tributo é quase sinônimo de cadáver, voluntários estão mais do que extintos.

– Magnífico! – diz Cat Grant. – Mas eu acredito que haja um probleminha quando algum voluntário se apresenta depois do nome do vencedor da colheita ter sido anunciado. Se isso acontece... bem... nós... – interrompe-se, um pouco atrapalhada.

– Qual é o problema? – indaga o prefeito. Ele está olhando para mim com pesar estampado no rosto. Ele não me conhece de fato, mas alguma coisa em seu jeito indica que ele me reconhece. Eu sou a garota que leva os morangos. A garota de quem sua filha deve ter falado em alguma ocasião. A garota que cinco anos atrás estava encolhida com sua mãe e com sua irmã quando ele a premiou com uma medalha de honra ao mérito. Uma medalha pelo pai dela, que evaporara nas minas. Será que ele está se lembrando disso?

– Qual é o problema? – repete ele, com aspereza. – Deixem que ela se aproxime.

Alex está gritando histericamente atrás de mim. Ela enroscou os bracinhos magricelas em meu corpo como se fosse um parafuso.

– Não, Kara! Não! Você não pode ir!

– Alex, me solta – devolvo, com dureza, porque isso tudo está me deixando descontrolada e não quero chorar. Quando eles reprisarem o programa hoje à noite, todo mundo vai reparar em minhas lágrimas e eu serei identificada como um alvo fácil. Uma fraca. Não vou dar essa satisfação a ninguém.

The Hunger Games - Supercorp VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora