4 "A Capital"

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Por alguns instantes, Lena e eu permanecemos na cena de nosso mentor, tentando nos manter afastadas do repugnante material pegajoso que saíra de seu estômago.

O fedor de vômito e de bebida barata quase faz com que eu vomite meu jantar. Trocamos olhares. Obviamente Brainy não é lá essas coisas, mas Cat Grant tem razão a respeito de um ponto. Uma vez que estejamos dentro daquela arena, ele será nossa única referência.

Seguindo uma espécie de acordo mudo, Lena e eu pegamos os braços de Brainy e o ajudamos a se erguer.

– Eu tropecei? – Brainy pergunta. – Cheiro ruim. – Ele esfrega a mão no nariz, sujando todo o rosto de vômito.

– Vamos levá-lo para seu quarto – diz Lena. – Precisamos limpá-lo um pouco.

Nós meio conduzimos, meio carregamos Brainy de volta a seu compartimento. Como não podemos exatamente colocá-lo sobre a colcha bordada, nós o içamos até a banheira e abrimos o chuveiro em cima dele. Ele quase não nota.

– Está bom assim – diz Lena. – Eu assumo de agora em diante.

Mal posso evitar uma sensação de gratidão, já que a última coisa que desejo fazer é tirar a roupa de Brainy, retirar o vômito dos pelos de seu peito e levá-lo para a cama.

Possivelmente, Lena está tentando causar uma boa impressão nele para ser sua favorita quando os Jogos começarem. Mas a julgar pelo estado em que se encontra, Brainy não se lembrará de nada disso amanhã.

– Tudo bem – digo. – Eu posso mandar alguém da Capital vir te ajudar. – Há muitos deles no trem. Cozinhando para nós, nos vigiando. O trabalho deles é cuidar de nós.

– Não. Eu não quero eles aqui – diz Lena.

Balanço a cabeça em concordância e vou para minha sala. Entendo o que Lena está sentindo. Eu também não consigo suportar a visão do pessoal da Capital. Mas obrigá-los a cuidar de Brainy poderia funcionar como uma boa vingança. O que me faz imaginar o motivo pelo qual ela insiste em tomar conta de Brainy. Então, subitamente, me ocorre o seguinte pensamento: É porque ela está sendo gentil. Da mesma forma que foi gentil em me dar aqueles pães.

A ideia me deixa um pouco paralisada. Uma Lena Luthor gentil é muito mais perigosa para mim do que o contrário. Pessoas gentis conseguem se instalar dentro de mim e criar raízes. E não posso permitir que Lena faça isso. Não posso deixar que ela chegue lá. Então, decido que, de agora em diante, terei o mínimo de contato possível com a filha do padeiro.

Quando volto ao meu compartimento, o trem está parando numa plataforma para abastecer. Rapidamente, abro a janela, jogo fora os biscoitos que o pai de Lena me deu e a fecho de volta com força. Chega. Chega desses dois.

Infelizmente, o pacote de biscoito atinge o chão e se abre, revelando uma coleção de dentes-de-leão. Só consigo ver a imagem por um instante porque o trem volta a andar. Mas foi o suficiente. O suficiente para me fazer lembrar daquele outro dente-de-leão no pátio da escola anos atrás...

Eu havia acabado de desviar o olhar do rosto cheio de hematomas de Lena quando vi o dente-de-leão e tive a certeza de que a esperança não havia se perdido completamente. Eu o colhi cuidadosamente e corri para casa. Peguei um balde e a mão de Alex e me dirigi à Campina. E, é verdade, ela estava toda coberta de ervas douradas.

Depois de colhê-las, nos acotovelamos ao longo da cerca por mais de um quilômetro até enchermos o balde com folhas, caules e flores de dentes-de-leão. Naquela noite, nós nos empanturramos com salada de dente-de-leão e com o que restara do pão.

– E agora? – perguntou Alex. – Que outra comida podemos encontrar?

– Todo tipo de coisa – prometi a ela. – Só preciso me lembrar do quê.

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