10 "Os Jogos"

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Parte II

Por um momento, as câmeras focalizam o olhar abatido de Lena enquanto suas palavras são absorvidas. Então, consigo ver meu rosto – a boca quase aberta numa mistura de surpresa e protesto – aumentado em todas as telas enquanto me dou conta do que está acontecendo. Eu! Ela está falando de mim! Pressiono os lábios e miro o chão, na esperança de esconder as emoções que começam a se agitar dentro de mim.

– Ah, isso sim é falta de sorte – diz Caesar, e há realmente uma pontinha de dor em sua voz. A multidão está murmurando em concordância, algumas pessoas já deram até uns gritos de agonia.

– Não é uma coisa legal – concorda Lena.

– Bem, acho que todos aqui entendem sua situação. Seria difícil não se apaixonar por aquela jovem – diz Caesar. – Ela não sabia?

Lena balança a cabeça.

– Não até agora.

Permito que meus olhos se fixem na tela de televisão o tempo suficiente para ver que o rubor em meu rosto é indisfarçável.

– Vocês não iam adorar se ela voltasse aqui e desse uma resposta? – pergunta Caesar ao público. A multidão berra em concordância. – Lamentamos muito, mas regras são regras, e Kara Danvers já esgotou seu tempo. Bem, toda a sorte pra você, Lena Luthor, e acho que estou falando por toda Panem quando digo que nosso coração está com você.

O barulho da multidão é ensurdecedor. Lena arrasou com todos nós definitivamente com sua declaração de amor a mim. Quando o público finalmente se acalma, ela deixa escapar um soluçante "Obrigada" e volta para seu assento. Nós nos levantamos para o hino. Tenho de erguer minha cabeça por conta do respeito patriótico e não consigo deixar de reparar que todas as telas estão agora dominadas por uma imagem minha e de Lena, separadas por alguns metros que, na cabeça dos telespectadores, jamais poderão ser apartados. Que tragédia a nossa.

Mas sei que não é bem assim.

Depois do hino, os tributos voltam enfileirados para o saguão do Centro de Treinamento e entram nos elevadores. Faço questão de entrar num que não esteja com Lena. A multidão obriga nosso séquito de estilistas, mentores e acompanhantes a andar devagar, de modo que só os tributos acabam entrando nos elevadores. Ninguém dá uma palavra. Meu elevador para, para depositar quatro tributos antes que eu consiga ficar sozinha e então vejo que as portas se abrem no décimo segundo andar. Lena mal saiu de seu elevador e bato a palma da mão com força em seu peito. Ela perde o equilíbrio e se choca com uma urna horrível cheia de flores falsas. A urna se parte em centenas de pedacinhos. Lena cai sobre os fragmentos e imediatamente começa a sair sangue de suas mãos.

– Pra que isso? – pergunta ela, surpresa.

– Você não tinha o direito! Não tinha o direito de sair dizendo aquelas coisas sobre mim! – grito com ela.

Agora os elevadores se abrem e toda a equipe está lá, Cat, Brainy, Cinna e Portia.

– O que está acontecendo? – pergunta Cat, um tom de histeria na voz. – Você caiu?

– Depois que ela me empurrou – diz Lena, enquanto Cat e Cinna a ajudam a se levantar.

Brainy se volta para mim.

– Empurrou ela?

– Isso foi ideia sua, não foi? Fazer com que eu parecesse uma idiota na frente do país inteiro!

– Foi ideia minha – diz Lena, estremecendo ao retirar algumas farpas de suas mãos. – Brainy só me ajudou.

– Sei, Brainy é muito prestativo. Pra você!

The Hunger Games - Supercorp VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora