12 "Lírios d'água"

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boa leitura!


   Graças a Deus tomei a precaução de me prender ao cinto. Rolei para o lado na forquilha e estou encarando o chão, segura pelo cinto, uma das mãos e meus pés estão escarranchados dentro do saco de dormir, que está atado ao tronco. Deve ter havido algum barulho de folhas quando tombei para o lado, mas os Carreiristas estavam muito envolvidos em sua própria discussão para prestar atenção nisso.

– Vai lá então, Conquistadora – diz o garoto do Distrito 2. – Veja você mesma.

   Só consigo vislumbrar Lena – iluminada por um archote – voltando para onde estava a garota da fogueira. Seu rosto está inchado e cheio de hematomas. Há um curativo ensanguentado em um dos braços e, pelo som de sua andada, vejo que ela também está mancando. Eu me lembro dela balançando a cabeça, me dizendo para não entrar na briga para pegar suprimentos. Mas na verdade ela própria planejara se lançar no meio do furacão. Exatamente o oposto do que Brainy a orientara a fazer.

   Tudo bem, vou dar uma aliviada. Ver todos aqueles suprimentos foi tentador. Mas isso aqui... isso aqui é bem diferente. Juntar-se ao bando de chacais dos Carreiristas para caçar o resto de nós... Ninguém do Distrito 12 jamais pensaria em fazer algo assim! Os tributos Carreiristas são demasiadamente perversos, arrogantes, mais bem alimentados, mas apenas porque são os cachorrinhos de estimação da Capital. Universal e solidamente odiados por todos, exceto os residentes de seus próprios distritos. Posso imaginar as coisas que estão dizendo sobre ela em nosso distrito nesse exato momento. E Lena teve o desplante de falar comigo sobre desonra?

    Obviamente, a nobre garota no telhado estava fazendo mais um de seus joguinhos comigo. Mas esse será o último. Vou vigiar ansiosamente os céus noturnos em busca de sinais de sua morte. Isso se eu mesma não a matar antes.

   Os Carreiristas ficam em silêncio até terem certeza de que não podem mais ser ouvidos e então abafam as vozes.

– Por que a gente não mata ela agora e acaba logo com isso?

– Vamos continuar com ela. Qual é o perigo? E ainda por cima, ela é boa com aquela faca.

É mesmo? Isso é novidade para mim. Quantas coisas interessantes estou aprendendo hoje sobre minha amiga Lena.

– Além disso, ela representa nossa principal chance de encontrar a outra garota.

Levo um instante para perceber que a "outra garota" à qual eles estão se referindo sou eu.

– Por quê? Você acha que ela comprou aquela historinha romântica?

– Talvez sim. A coisa toda pareceu muito simplória pra mim. Sempre que penso nela rodopiando naquele vestido sinto vontade de vomitar.

– Gostaria de saber como foi que ela conseguiu aquela nota 11.

– Aposto que a Conquistadora sabe.

O som de Lena voltando os silencia.

– Ela estava morta? – pergunta o garoto do Distrito 2.

– Não. Mas agora está – diz Lena. Só então ouvimos o tiro do canhão. – Vamos indo?

   O bando de Carreiristas parte assim que surgem os primeiros raios da manhã e o canto dos pássaros preenche o ar. Permaneço em minha posição esquisita por mais algum tempo, os músculos tremendo, e então retorno ao meu galho. Preciso descer, seguir caminho, mas por um momento fico lá parada, digerindo o que acabei de ouvir. Não apenas Lena está com os Carreiristas, como também os está auxiliando em minha caçada. A garota simplória que precisa ser levada a sério por causa de sua nota onze. A que sabe usar arco e flecha. E que Lena conhece melhor do que ninguém.

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