Entro em um pesadelo do qual acordo repetidamente apenas para achar um terror ainda maior esperando por mim. Todas as coisas que mais abomino, todas as coisas que mais abomino que aconteçam com os outros se manifestam em detalhes tão vívidos que só posso acreditar que são mesmo reais. A cada vez que acordo, penso: Finalmente acabou, mas não. É apenas o começo de um novo capítulo de tortura. De quantas maneiras diferentes assisto à morte de Alex; revivo os últimos momentos de meu pai; sinto meu próprio corpo sendo dilacerado? Essa é a natureza do veneno das teleguiadas, cuidadosamente criado para atingir os locais onde o medo se aloja em seu cérebro.Quando finalmente readquiro meus sentidos, fico deitada imóvel, esperando a sequência seguinte de carnificina visual. Por fim, aceito que o veneno deve ter enfim saído de meu organismo, deixando meu corpo arrasado e enfraquecido. Ainda estou deitada de lado, fechada na posição fetal. Ergo uma das mãos até os olhos para encontrá-los saudáveis, intocados pelas formigas, que jamais existiram. O simples esticar de um braço requer um enorme esforço. São tantas partes do meu corpo doendo que parece nem valer a pena fazer um inventário de todas elas. Lenta, muito lentamente, consigo me sentar. Estou em um buraco raso, não com as bolhas alaranjadas que zunem da minha alucinação, mas com folhas mortas. Minha roupa está encharcada, mas não sei se a causa é a água da fonte, orvalho, chuva ou simplesmente suor. Por um longo tempo, tudo o que consigo fazer é tomar pequenos goles da minha garrafa e observar um besouro passear num arbusto de madressilvas.
Por quanto tempo será que estive fora de mim? Era de manhã quando perdi a razão. Agora é de tarde. Mas minhas juntas emperradas sugerem que mais de um dia se passou, possivelmente dois. Se isso for mesmo verdade, não terei como saber quais tributos sobreviveram ao ataque daquelas teleguiadas. Nem Glimmer nem a garota do Distrito 4. Mas havia o garoto do Distrito 1, os dois tributos do Distrito 2 e Lena. Será que eles morreram em decorrência das ferroadas? Com toda certeza, se sobreviveram, seus últimos dias devem ter sido tão horríveis quanto os meus. E quanto a Nia? Ela é tão pequena que não seria necessário muito veneno para matá-la. Mas... as teleguiadas teriam de pegá-la, e ela estava com uma boa margem de vantagem.
Um sabor ruim, de coisa podre, impregna minha boca, e a água não surte muito efeito sobre ele. Arrasto-me até o arbusto de madressilvas e arranco uma flor. Puxo delicadamente o estame pelo botão e coloco a gota de néctar na boca. A doçura se espalha até a garganta, acalentando minhas veias com lembranças de verão, da floresta perto de casa e da presença de Winn ao meu lado. Por algum motivo, nossa discussão naquela última manhã retorna à minha mente.
– A gente teria como fazer isso, você sabe.
– O quê? – Sair do distrito, fugir daqui. Viver na floresta. Você e eu, a gente conseguiria.
E, de repente, não estou mais pensando em Winn, mas em Lena e... Lena! Ela salvou minha vida! Porque, quando nos encontramos, eu já não tinha nenhuma condição de distinguir entre o real e as alucinações que o veneno das teleguiadas haviam inoculado em mim. Mas se ela me salvou mesmo, e meus instintos me dizem que sim, qual foi o motivo? Será que ela está simplesmente desempenhando o papel da Conquistadora que iniciou na entrevista? Ou será que estava realmente tentando me proteger? E se estava, o que fazia na companhia daqueles Carreiristas, para começo de conversa? Nada disso faz sentido.
Por um instante, imagino o que Winn achou do incidente, mas logo tiro a coisa toda da minha cabeça porque, por algum motivo, Winn e Lena não coexistem muito bem em meus pensamentos.
Então, concentro-me na única coisa realmente boa que aconteceu comigo desde que aterrissei na arena. Arranjei um arco e flecha! Doze flechas ao todo, se contarmos com aquela que retirei na árvore. Elas não estão com nenhum traço do muco esverdeado e pernicioso que saía do corpo de Glimmer – o que me leva a crer que talvez a coisa não tenha sido inteiramente real –, mas estão com uma razoável quantidade de sangue seco. Posso limpá-las mais tarde, mas perco alguns minutos acertando algumas em uma árvore próxima. Elas se parecem mais com as armas que vi no Centro de Treinamento do que com as que tenho em casa, mas e daí? Posso trabalhar com elas assim mesmo.
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The Hunger Games - Supercorp Version
ActionQuando Kara Danvers, de 16 anos, decide participar dos Jogos Vorazes para poupar a irmã mais nova, causando grande comoção no país, ela sabe que essa pode ser a sua sentença de morte. Mas a jovem usa toda a sua habilidade de caça e sobrevivência ao...