Não precisa ter medo

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Autora na voz

O clima de tensão entre as ponteiras estava de volta. Hande derramou uma dose generosa de ciúmes sobre Saliha que a camisa 6 desconhecia. Estava claro que a atitude desconfiada de Baladin em relação à repentina amizade entre Saliha e Júlia se dava não apenas pela postura realmente suspeita da brasileira, mas também pelo fato de que Hande havia tido sua confiança quebrada por Natália recentemente. Era natural o medo de que mais alguém não fosse sincero com ela.

Baladin agora depositava em Saliha não apenas o sentimento de amizade, mas também seus desejos, suas inseguranças e seus medos. Talvez lidar com tantos sentimentos simultâneos fosse demais para a camisa 6 que sequer conseguia lidar com as próprias emoções e vivia um momento de grande dúvida.

Saliha ainda tinha medo do que as pessoas pensariam. Sentia medo de se jogar e curtir o momento ao lado de Hande pois sabia que os acontecimentos com Natália ainda eram recentes e acreditava que, de alguma maneira, a ponteira brasileira ainda mexia com Baladin. Além disso, a chegada de Júlia havia mexido sutilmente com a cabeça de Saliha.

Saliha na voz

Acordei mais tarde do que gostaria hoje. Haviam alguns sábados que nós não treinávamos e sinceramente meu corpo havia se acostumado com ritmo da preguiça que os sábados traziam. O que era bem errado, afinal, teríamos vários jogos nas próximas semanas e muitos sábados de treinamento estavam por vir.

Tomei um banho bem quente para espantar a preguiça e, pela falta de tempo, decidi tomar meu café da manhã na cantina da arena do clube para não me atrasar mais.

Assim que cheguei vi o carro de Hande estacionado nas vagas do fundo da arena e estranhei. Geralmente eu e Adams estacionávamos ali já que quase sempre chegávamos no limite do horário e as melhores vagas já haviam sido ocupadas.

Eu entrei e antes mesmo de ir para o vestiário, caminhei até a cantina para tomar meu café. Assim que entrei avistei Ipek, Gözde e Simge sentadas em uma mesa afastada no fundo da cantina. Havia também alguns membros da comissão técnica em pé próximo à máquina de café e Júlia toda perdida perguntando a eles como fazer seu café naquela máquina.

Eu fiquei alguns segundos parada na porta da cantina observando a cena de Júlia entre eles tentando entender que botão apertar e confesso que deixei escapar uma risada pela situação da brasileira. Segurando minha mochila em um dos ombros, acenei para as meninas na mesa do fundo e caminhei para próximo dos técnicos e de Júlia

- Tá precisando de ajuda aí? – Digo enquanto me divirto com o desajeito da central.

- Saliha?! – Diz Júlia tomando um susto ao me ver e ficando instantaneamente vermelha.

- 1 x 0 para a máquina – Brinco enquanto pego a xícara de sua mão e rapidamente faço seu café.

- Para de dar risada de mim – Ela pede enquanto deixava escapar um sorriso sem graça, morrendo de vergonha.

Em meio às risadas, eu pego uma xícara para preparar meu café e vejo Simge acenando para Júlia a chamando para sentar com elas. Caminhamos até mesa e Júlia cumprimentou todas com um abraço. Coisa de brasileiro? Talvez. Eu me lembro de Hande falar que Natália sempre abraçava quando ia cumprimentar, até pessoas mais distantes.

- Você tomando café aqui, Saliha? – Questiona Simge.

- Esse é o resultado de ter ignorado o despertador por 30 minutos – Confesso meu atraso.

- Depois de um mês sem treinar aos sábados, foi realmente difícil acordar – Acrescenta Gözde me deixando tranquila por não ser a única preguiçosa naquela mesa.

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