Sem fôlego

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Saliha na voz

Eu não sei exatamente a minha expressão no momento em que Yasemin perguntou se nós nos importávamos de dividir a mesma cama essa noite, mas digo com segurança: um frio de -20° congelou minha barriga instantaneamente e eu a senti girar 360° com uma velocidade maior do que as bolas que Boskovic virava. Paralisei, não consegui responder e um rápido silêncio invadiu o apartamento de Ya. Então me virei procurando Hande que, estranhamente, não pareceu estar menos paralisada que eu. Ela me encarou por alguns segundos, mordeu sutilmente o canto direito dos lábios inferiores e respondeu Yasemin

- Por mim tudo bem! Sem problemas.

- Saliha? – Ya diz se dirigindo a mim e me tirando da paralisia

- Ahn... Ok! – Digo um pouco atordoada enquanto balançava positivamente a cabeça concordando em dormir na mesma cama que Hande.

- Perfeito! No corredor, Saliha, a segunda porta à direita – Diz Yasemin me orientando.

Eu me despedi de Yasemin e rapidamente me levantei do sofá onde estávamos conversando, peguei minha mochila indo em direção ao quarto para me trocar e fazer a higiene antes de dormir. Era um quarto bem grande. A cama era ainda maior, cheia de almofadas, parecia até um quarto de hotel. Tinha uma suíte e uma sacada com uma bela vista. Fiquei me questionando, enquanto escovava os dentes, do pq Yasemin não dormia ali, quarto perfeito com uma vista perfeita – Que mancada, Ya! – Verbalizei inconformada. Na sequência encostei a porta do banheiro para me trocar e finalmente colocar meu pijama. Então ouvi Hande abrir a porta do quarto e entrar em silêncio.


Hande na voz

- Que quarto é esse? Pq raios Yasemin não dorme aqui? – Pensei absolutamente incrédula quando coloquei meus pés naquele quarto enorme.

Vi a mochila de Saliha – que mais parecia uma mala - apoiada no recamier em frente à cama, então apoiei minha mochila lá também e caminhei em direção à sacada. A noite era perfeita, o céu estava cheio de estrelas, era uma noite fria. Fria o bastante pra me fazer sentir vontade de dormir de conchinha com alguém.

Encostei meus braços sobre o parapeito da sacada e ouvi quando a porta do banheiro se abriu. Eu olhei para trás por entre a fina cortina branca que fazia a separação entre a sacada e o quarto e a vi caminhando em minha direção com um pijama simples, mas que realçava o que ela tinha de melhor. Ao mesmo tempo travei uma luta estranhamente rápida na minha mente, era como se eu estivesse no meio do fogo cruzado, dividida em dois lados, um querendo loucamente desvendar Saliha e o outro puxando minha orelha e dizendo que ela era apenas minha amiga.

Nesse momento, mesmo com todo barulho em minha cabeça, pela primeira vez senti, de fato, uma vontade quase incontrolável de beijá-la. Senti que o lado que me avisava sobre a nossa amizade estava sendo silenciado pelo caminhar doce dela em minha direção. Era duplamente errado pensar aquilo, até pq, além da minha amizade com Saliha, Natália ainda estava na jogada.

Meus pensamentos cessaram quando Saliha finalmente se aproximou, apoiou as duas mãos sobre o parapeito e elogiou

- Tem muito tempo que não vejo o céu tão estrelado assim.

- Tá linda a noite – Digo concordando e na sequência puxo assunto - E esse quarto da Ya?

- Melhor que os dos hotéis que nos hospedamos para os jogos – Diz Saliha me fazendo sorrir.

Permanecemos ali por alguns momentos apenas olhando o céu e o horizonte iluminado pelas luzes dos prédios de Istambul. Era curioso, mas já haviam alguns dias que ficávamos pensativas quando estávamos próximas. Então, de súbito, sem pensar muito, quebro o silêncio ao disparar uma pergunta para Saliha e fico imediatamente apreensiva com a resposta

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