Saliha na voz
8:30 a.m., ouvi o despertador soar. Fiquei quase a noite toda acordada. Consegui me desligar próximo das 5 da manhã. Passei a madrugada pensando nela, pensando em como fui covarde. A cena do momento em que a vi no banheiro com os olhos cheios de lágrimas não saía, nem por um minuto, do meu pensamento. O barulho dela acelerando o carro e sumindo por entre as ruas de Istambul ainda ecoava em minha cabeça.
No meio da madrugada, quando o arrependimento dilacerava meu peito e a ansiedade começava a surgir, peguei o celular e abri o whatsapp. Eu não deveria, mas eu precisava falar com ela, falar qualquer coisa, eu precisava ouvir sua voz. Abri sua conversa e sua foto não estava mais ali. Eu sabia muito bem o que isso queria dizer.
Foi nesse momento que eu desabei verdadeiramente e confirmei que havia cometido um erro que talvez fosse irreversível com a pessoa com a qual eu mais me importava por pura insegurança. Eu não tinha o direito de ferir Hande daquela maneira ainda mais depois de tudo o que Natália havia feito com ela.
Não bastando ter machucado Hande da forma mais grotesca, eu ainda tinha que lidar com o fato de que, a essas alturas, o time todo já deveria estar sabendo que eu havia beijado Júlia dentro do banheiro. Como eu explicaria isso? Aliás, como eu explicaria pra Júlia toda a situação? Eu peço passagem para beijá-la e do nada minha "amiga" entra no banheiro e começa a chorar pq viu nosso beijo? O que deve ter passado em sua cabeça naquele momento? O que deve estar passando na sua cabeça agora? Eu fui idiota com ela também.
O pensamento acelerado começou a colocar as cartas sobre a mesa me mostrando o quanto eu havia errado por ter me deixado levar por Júlia e pela minha insegurança sobre os sentimentos de Hande. Eu não conseguia mais conter as lágrimas que, copiosamente, rolavam meu rosto e inundavam minha blusa. Chorei até que adormeci.
Depois que o despertador tocou, ainda permaneci na cama por um bom tempo. Me levantei e caminhei até o banheiro para jogar uma água no rosto e juro, as olheiras tomavam conta do meu semblante. Eu parecia derrotada, como se tivesse perdido uma guerra.
Pensei várias vezes em simplesmente pedir dispensa do treino à tarde. Talvez se eu inventasse alguma dor, alguma doença ou dissesse que algum parente havia falecido, mas eu sabia que nada disso resolveria. Uma hora ou outra eu teria que olhar no fundo dos olhos de Hande.
Eu ouvi meu celular vibrar e ainda com o rosto molhado, saí do banheiro e fui prontamente ver o que era.
- Tô aqui embaixo, abre pra mim, por favor.
Eu li a mensagem pela aba de notificações e fiquei alguns segundos ali no meio do quarto sem esboçar reação alguma. Era Yasemin.
- Meu Deus, cara. E agora?
Pensei em voz alta me deixando tomar pelo nervosismo já que ainda não estava nenhum pouco preparada para conversar sobre o ocorrido de ontem.
- Vou abrir a porta – Respondo Yasemin depois que meu corpo jogou um balde de adrenalina no meu sangue.
Eu sequer consegui tirar o pijama, apenas escovei meus dentes na velocidade da luz e esse foi o tempo necessário para que ela subisse e batesse à porta do meu apartamento.
Yasemin na voz
Eu acordei já decidida a ir até o apartamento de Saliha hoje pra tentar entender o que basicamente havia acontecido ontem à noite durante o aniversário de Tica.
Eu preferi não avisar que iria. Se eu ainda a conheço bem, eu sabia que ela inventaria todo tipo de desculpa pra não falar comigo sobre ontem.
Assim que cheguei, mandei mensagem avisando que estava lá embaixo e ela logo respondeu dizendo que estava abrindo a porta. Subi pelo elevador estalando os dedos como se louca fosse. Eu estava um pouco nervosa. A verdade é que Saliha nunca falou qualquer coisa sobre se relacionar amorosamente com outra menina e sequer deu qualquer chance para tocarmos nesse assunto, mas a forma como ela olhava para Hande denunciava que havia algo diferente entre elas.