Capítulo 001: Meu passado me condena.

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  Aos treze anos, em uma noite de céu estrelado e lua cheia, Allyira lembrava-se de ter ido dormir cedo devido a uma dor latejante na parte inferior de seu abdome, ela sabia que logo viraria mocinha pois suas amigas já falavam sobre isso e carregavam alguns pacotinhos brancos e macios dentro das mochilas. 

  Mas quando acordara no outro dia, encontrou-se no chão da sala de estar. O belo e felpudo tapete branco estava vermelho como molho de tomate, o sofá bege estava rasgado e com grandes pedaços de carne espalhados, a própria menina estava coberta do fedido e gosmento líquido vermelho.

  Ao se levantar, notou que as paredes foram arranhadas e havia muitas gotas do misterioso líquido espalhados em padrões como linhas e círculos mal feitos. 

  A escadaria de madeira derramava água como uma cachoeira e a televisão fora quebrada quase que ao meio. Por um breve instante, a garota pensou que seu pai, -o único membro da família que ela conhecia- havia esquecido novamente a torneira da banheira ligada por acidente e saiu para o trabalho, como de costume. 

  Allyira subiu as escadas para fechar a torneira, sabia que o pai ficaria furioso se a conta viesse exorbitante novamente. Fora que ela teria dificuldades para explicar ao velho soldado que não fora ela quem destruíra o sofá ou muito menos despejara tinta no tapete que ele tanto gostava. Fora a torneira ligada! 

  E, sem contar que ela deveria manter a casa em ordem. levaria horas intermináveis para limpar o tapete e deixá-lo branquinho novamente e sem contar que iria ter que tirar os enormes pedaços de carne do sofá, esfregar a parte de fora, desfazer-se do estofado manchado e costurar o forro. 

  Assim que adentrara o segundo andar de sua casa, deparou-se com enormes pegadas humanas no chão, provavelmente de Jayson, seu pai. Estas levavam ao quarto do homem cujo ele definira como área proibida para que ela não mexesse em suas coisas, mas nesta altura do campeonato, Allyira só queria descobrir o que estava acontecendo.

  A água escorria por todos os lados e inclusive adentrava por debaixo da porta do quarto do homem, a criança sabia que haveriam graves consequências se ela limpasse tudo e deixasse o quarto dele inundado. 

  Sendo assim, a criança caminhou devagar até a porta e notou que muitos fios de cabelo boiavam em poças isoladas ao fim do corredor próximas ao seu quarto, fios estes dourados e encaracolados, alguns de tom avermelhado cujo manchavam as poças.

  Allyira adentrou ao banheiro e notou que a parede estava quebrada. Desta jorrava água pois um cano havia estourado, a menina nunca trocou um cano antes mas sabia que nesta situação, precisava fazer a água parar. Sendo assim, caminhou até a pia e abaixou-se para fechar o registro.

  Feito isto e a água parado, a menina abriu os ralos do banheiro e da banheira cujo era abaixo do nível do chão, como se fosse um grande buraco no qual ela gostava de banhar-se em dias quentes. Esperou a água baixar e deixou o local para voltar-se aos quartos cujo ela torcia para que a água não tivesse molhado o caderno de desenho que fora deixado sobre o tapete de seu quarto. 

  Enfrentando o medo da bronca, a menina decidiu limpar o quarto do pai primeiro. Girou lentamente a maçaneta sentindo o coração pulsar como se fossem seus últimos batimentos, a adrenalina percorria suas veias e ela encontrava-se levemente ofegante.  

  Jayson Steffans era um ex-combatente com quase dois metros de puro músculo, cabelos dourados e encaracolados, olhos escuros e barba rala, pele branca como se nunca tivesse pegado sol e voz grossa bem como rouca e intimidadora. 

  Tinha enormes cicatrizes nos braços e pernas, longos cinco lapões nas costas cujo seguiam-se em linhas paralelas e fora escravizado em uma ilha amaldiçoada anos antes dela nascer. Devido a isso, era rancoroso e agressivo. 

A Ilha da Lua - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora