Revolta

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Ela odiou ver aquilo, a rodinha formada por Paul, Jared, Quil e Seth, cheios de cochichos — assim que a viram calaram a boca e fizeram caras de tolos. 

Leah detestava aquela marra do Lahote, se ele soubesse o quão insignificante e péssimo em disfarces ele era...

— Ei, seus imbecis! — bradou ela, chamando a atenção deles, enquanto se aproximava. — Acham que não sei o que vocês estão fazendo?

— Tá falando do quê? — perguntou Jared.

— Não precisam me tratar que nem uma coitadinha. — indagou ela, fuzilando-os com os olhos.

— Fala sério, Leah. — Paul bufou como o bom rabugento que era. — Ninguém tem tempo para te dar de mamar aqui não, filha.

Leah revirou os olhos e mostrou-lhe o dedo.

— Por quê você não senta no meu dedo, Lahote?

— E por quê você não senta em mim, Leah? — retrucou Paul.

Ele poderia pagar de gostosão com as otárias da cidade, mas com ela não.

— Porque você não me aguentaria. — ponderou ela.

Os dois se encararam por tempo demais, até Paul desviar os olhos, irritado.

— Aí! — bradou Seth. — Podem parar com essa merda?

— Foi mal aí, Seth. — disse Paul, sarcasticamente.

— Paspalhão. — Leah resmungou e deu as costas indo embora.

Sua cabeça estava uma pilha.
Até o único barulho de uma folha caindo era mais que suficiente para tirá-la do sério.

Estava começando a se arrepender de ter jogado fora a chance de sua vida.

— Você consegue, Leah. — sussurrou consigo mesma.

Suas passadas aumentaram quando ela sentiu o odor peculiar e desagradável que ainda ardia em suas narinas e inundava sua mente.

O desgraçado do Uley.

Ele vinha em sua direção apressado, quando ela pensou em se transformar e negar-lhe a chance de sequer olhar em seu olho, sentiu sua mão grande e pesada fechar ao redor de seu pulso.

— Leah, eu quero falar com você.

Ela quis dar-lhe um chute no meio das pernas e arruinar seu potencial másculo, mas conteve-se.

— É fácil querer, não acha? — inqueiriu, puxando seu braço do aperto dele. — Não seja ridículo, Sam.

— Não seja cabeça dura, Leah.

— Cabeça dura?! Vai se foder, Sam! — bradou, dando-lhe as costas.

— Eu só queria te agradecer por não ter ido.

Ela interrompeu seus passos, sorriu com escárnio e se virou para encará-lo.

— Eu não fiquei por você.

— Que seja. Você não vai sair da matilha, vai? — perguntou ele, como se realmente se importasse com essa merda. — Eu preciso de você.

Leah limitou-se a gargalhar.

— Precisa?! — inqueiriu. — Não, não. Você precisa da idiota da Leah, mas eu lamento, Sam. Porque aquela Leah, morreu no aeroporto.

Novamente ela deu-lhe as costas na intenção de ir embora.

— Leah, por favor, podemos fazer isso de outra forma.

Ela parou de andar e virou-se, andando em sua direção.

— Que outra forma?! — questionou. — Se sentando na mesma mesa que vocês dois? Fingindo que nada aconteceu? Lamento muito, mas eu não funciono bem assim.

— A Emily não tem culpa do que aconteceu.

— Não, ela não tem. — indagou. — Mas não me interessa quem tem culpa e quem não tem. Eu só quero você saia do meu caminho e me deixe em paz!

— Se quiser participar das rondas... — hesitou como o bom covarde que era.

— É, eu vou querer sim. Seth não pode ficar sozinho com aqueles imbecis.

— Tudo bem.

— Nao, não está tudo bem, mas eu vou fazer ficar.

Nem ela acreditava naquela merda que disse, mas era preciso dizer para o idiota acreditasse e a deixasse em paz.

Demorou mais que o habitual para ela voltar para casa, o desinteresse nesse ato lhe era alarmante.

Ela ficou rondando pelas extremidades da reserva e da cidade por horas — assistiu aos casaizinhos Mike e Jéssica, Eric e Ângela sairem abraçados e sorridentes da lanchonete, era patético ver aquela cena —até seu corpo dizer que bastava daquilo.

O teto sobre sua cabeça girava sem parar, assim como sua mente.

Seu pai estava assistindo como de costume, quando ela cruzou à porta de casa, ela podia ouvir sua mãe esbravejando alguma coisa da cozinha para ele.

Seth provavelmente ainda estava zanzando por ai, o garoto não tinha limites depois que descobriu a mutação, passava o tempo todo por aí.

Ela subiu a escada indo direto para o banho. A água fria se chocava insignificante contra sua pele.

De olhos fechados ela pensava no quanto tempo perdeu junto aquém nunca te mereceu. No quanto sua vida era uma bagunça.

Como se não bastasse, Leah via sua família se destruir aos poucos. Ela ainda ouvia o barulho da briga incessantes de sua mãe e seu pai, sempre os mesmos argumentos: Ele ser um bunda mole sem ambição de vida e ela arrependida de ter se casado com ele.

Talvez ela quisesse se casar com Billy. Ou Charlie. Qualquer um parecia ser bom o suficiente no ponto de vista de sua mãe, menos seu próprio pai.

Então por quê diabos as pessoas se casavam? Para viver se odiando? Para viverem anos sob o mesmo teto, se suportando apenas por terem filhos? Que merda de vida era essa?

Que tipo de vida era a sua?

IMPERMEÁVEL- LEAH CLEARWATER Onde histórias criam vida. Descubra agora