Capítulo 3 - Encontros

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Andei pensando em como poderia ser nosso primeiro encontro, tenho quase certeza de que você não é ninguém do meu passado, então tem que acontecer algo para que possamos nos conhecer por aí.

O problema é que, mesmo eu tendo uma imaginação bem fértil, não consigo fugir de cenários padrão de filmes e novelas. Pensei na possibilidade clássica de nos esbarrarmos sem querer, um derruba as coisas do outro e abaixamos juntos para juntar o que caiu enquanto nos desculpamos e acabamos pegando a mesma coisa ao mesmo tempo e, ou nossas mãos se encostam ou apenas paramos e finalmente olhamos um para o outro. Nesse instante, o tempo parece parar e ficamos nos olhando nos olhos fixamente por um longo momento até que um de nós volta a si e, com um sorriso tímido, se desculpa novamente enquanto ajuda o outro a levantar e enfim entrega o que havia pego do chão.

Antes de prosseguir com essa cena, tem uma outra semelhante que termina do mesmo jeito, estou andando distraída, geralmente à beira de alguma coisa, e me desequilibro. Quando estou prestes a cair, você aparece, me puxa pela cintura e fica me segurando firme por um instante, enquanto nos olhamos ainda assustados pela quase queda, mas rapidamente esquecemos o susto. Nossos olhares intensos são penetrantes demais e tudo ao nosso redor parece desaparecer, nesse momento sentimos que só há nós dois no mundo.

Ao retomarmos nossos sentidos, ambas cenas seguem da seguinte maneira: falamos que não foi nada e que não é preciso se preocupar, sorrimos um ao outro, agradecemos e lentamente seguimos nosso caminho, cada um para um lado, mas olhando repetidas vezes para trás até desaparecermos um da visão do outro. Esse breve momento aos espectadores é extremamente intenso para nós e, por isso, nos parece tão longo que ficamos pensando o dia todo, ou até mais tempo, no que ocorreu. Porém, o erro dessas cenas é que, geralmente, esquecemos de fazer perguntas básicas e nem o nome um do outro ficamos sabendo. Claro que o destino cruzará nossos caminhos mais adiante, mas até que isso ocorra, parecerá uma eternidade.

Outra possibilidade que pensei foi sermos apresentados por amigos, sabe aquele rolê que não esperamos nada ou que nem estávamos afim de ir e, por insistência de um amigo, acabamos indo? Então, poderíamos nos conhecer assim, vamos a esse passeio com a menor vontade e nossos amigos nos apresentam. Nosso cumprimento tímido, porém intenso, deixa no ar um clima que todos conseguem notar e nós tentamos disfarçar com a maior vergonha fingindo que nada está acontecendo. Só que é impossível evitar nossas constantes trocas de olhares até que não resistimos e soltamos um sorriso meio envergonhado. Nesse momento surgem outras possibilidades, ou um de nós toma a iniciativa, tenta se aproximar e começa a puxar assunto, ou nossos amigos nos colocam em uma situação embaraçosa propositalmente e ficamos completamente sem jeito. Mas ambas opções nos deixam ansiosos e com o coração acelerado, o medo de passar uma primeira impressão errada toma conta e não sabemos direito o que fazer, ainda mais por estarmos acompanhados. O que costuma salvar nessas situações é tirar uma foto em grupo e pedir que te enviem, ou que te marquem nas redes sociais, assim você já consegue encontrar o perfil da pessoa e tê-la conhecido se torna uma desculpa válida para adicioná-la. Terminamos o rolê com um abraço sutil e dizendo algo como "Foi bom te conhecer. A gente se vê, até mais!" e damos mais um sorriso já ansiosos pela próxima vez. Agora, se um de nós tiver mais coragem, podemos até pedir o número do outro fingindo que vamos mandar a foto, ou depois pedir ao nosso amigo em comum que passe o contato, ou ainda começar a interagir nas redes sociais até conseguir pedir o número inventando uma desculpa qualquer. Esse cenário de um encontro ao acaso é bem mais vantajoso que se esbarrar no meio do caminho e bem mais rápido de se desenvolver, sem contar que é bem mais possível de acontecer também.

Há várias outras situações que eu pensei, como sermos novos vizinhos e nos cruzarmos pelos corredores ou termos uma conversa de elevador, sermos novos colegas de trabalho, de algum curso, ou coisas mais aleatórias como pegar o mesmo vagão no metrô, estar em um mesmo restaurante ou no mesmo hotel em uma viagem qualquer. São infinitas as possibilidades, mas em todas elas há algo em comum, nos olhamos intensamente e sorrimos espontaneamente, sentindo um alívio e uma profunda gratidão por finalmente termos nos encontrado. Você sabe do que estou falando, não sabe?! Me diga, como iremos nos encontrar?!

Um Amor ProféticoOnde histórias criam vida. Descubra agora