Capítulo 14

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George POV (1°pessoa)

 Depois daquele dia, eu passei a dormir algumas vezes aqui na casa de Nick e Clay. Nick parecia estar estressado 24 horas por dia, e eu nunca pensei que uma pessoa tão tranquila como ele conseguia gritar tantas vezes sobre uma sopa de legumes. 

- Essa merda de sopa! Quem foi o idiota que fez? - ele grita da cozinha, passo pela porta e vejo a panela virada no chão - estava quente!

- Haha, por que será? - pergunto de forma sarcástica e ele começa a resmungar em alto tom enquanto limpava aquilo. 

Clay por sua vez, estava quieto o tempo todo. Parecia pensativo. Eu nunca pensei que aquele sorriso de doer os olhos me faria falta... mas era realmente doloroso ver ele todos os dias, encostado em paredes aleatórias, com os pensamentos longes e o olhar desfocado. Algumas vezes, durante as refeições, eu tinha que chamar sua atenção para que ele voltasse a comer ou tivesse cuidado para não deixar cair da colher. 

- Vamos Clay! Você precisa sair um pouco - puxo sua coberta e ele coloca as mãos no rosto para evitar a claridade. 

- Não quero! Estou com preguiça - ele resmunga e puxa o travesseiro para cima do rosto. 

- Você tá falando isso a três dias, vem com essa não! - puxo o travesseiro e ele me encara com o rosto sonolento - já vai dar 13 horas e você aí mofando. 

- Tá parecendo minha tia quando eu era pequeno - ele comenta e começa a se levantar - você cortou o cabelo?

- Tá ruim? Eu cortei sozinho - admito, passando a mão no cabelo. 

- Não, ficou muito bonito - ele dá um sorriso de canto e se levanta com os braços abertos para me receber em um abraço - posso te beijar?

- Não! Você tá com bafo - respondo e ele faz um biquinho, tentando me beijar, mas empurro seu rosto com as mãos enquanto dava risada. Ele ainda me abraçava, o que dificultava minha fuga. 

- Vai! Só um beijinho - ele faz barulho de beijo algumas vezes e para me esquivar, aperto sua barriga, que faz ele me soltar com um grito - ei! Isso é injusto, vem cá! 

Saio correndo pela casa com Clay logo atrás de mim, gritando e rindo feito um maluco. Ah, como eu sentia falta disso! 

Depois de comermos, nós fomos dar uma caminhada. Fazia um tempinho que ele não saia se não fosse para a escola, por isso queria que ele andasse um pouquinho.

- Você tem certeza que tá bem? - pergunto ao sentir sua mão delizar para de encontro com a minha. Mesmo estando a algum tempo com ele, meu coração continuava a me trair, acelerando-se.

- Estou bem, George - ele sorri de canto. Não acredito muito nele, mas não irei insistir agora - hey! Olha, tem uma barraquinha de pipoca ali - antes mesmo de eu conseguir falar algo, ele me puxa saltitante.

- Você é uma criança - falo e ele ri.

- Olá! Pode ver duas pipocas? - ele fala com a pessoa que estava na barraquinha, que por sua vez sorri e acena com a cabeça. Ficamos esperando, até que Clay paga, o que eu não realmente concordei, mas também não reclamei.

- O que quer fazer agora? - pergunto.

- Hum... eu não sei, você que me chamou pra cá.

- Eu sei, mas não pensei nisso - admito e vejo ele rir - por que está rindo?

- Eu lembrei de uma coisa - ele fala ainda rindo - lembra aquele dia que fomos para a praia e uma criança pegou seu celular e tirou fotos?

- Claro que eu lembro! Além de isso não ter muito tempo, eu ainda tenho as fotos - falo - e ainda teve o cara que vendia peixe frito, você quase dá um soco nele só por ele ter me chamado de xuxú!

- Ele era muito abusado! - Clay exclama. O dia estava muito bonito ao nosso redor, mas meus olhos conseguiam focar apenas no rosto bem delineado do meu garoto. Os olhos verdes, tão profundos quanto uma floresta, capazes de fazer você agir da maneira como ele quer. O sorriso bem alinhado e de um branco que chega a doer os olhos, e os lábios macios e vermelhos. 

As vezes eu me pego pensando em como eu acabei aqui. Como eu odiava Clay por todas as coisas que ele fez, e agora eu estou aqui, de mãos dadas com ele, relembrando coisas que passamos juntos. Eu me odeio por pensar que algo está errado, eu vejo Clay feliz ao meu lado, me faz feliz, mas eu continuo sentindo algo me incomodar.

- Já sei, me segue - falo e saio em disparada. Tento correr rápido, ignorando as pipocas que caiam no caminho. Eu não gostava de pensar sobre aquelas coisas, mesmo que fosse inevitável. 

- Espera! Para onde vamos? - Clay exclama, correndo logo atrás de mim - cara, você é muito rápido para quem não faz nenhuma atividade física!

- Eu faço suas lições por duas semanas se você me alcançar! - exclamo e Clay solta um "Opa" e percebo ele acelerar o passo. Faço o mesmo, ao risos. Viro uma esquina e quase dou de encontro com duas senhoras, me esquivo e peço desculpas, ainda correndo.

Ouço Clay rir da minha situação, e eu apenas grito um "Não ria!".

Já estava sem ar, mas finalmente cheguei a onde queria. Um lago enorme, um pouco afastado da região urbana, mas perto o suficiente para vim andando, no nosso caso, correndo. Desabo no piér e vejo Clay chegar logo em seguida, se jogando ao meu lado.

- Você perdeu - falo, ainda tentando recuperar o fôlego. 

- Eu sei, você parece que vai com o vento - ele responde no mesmo tom. Viro meu rosto para ele e o vejo fazer o mesmo. Seu rosto estava vermelho e suor descia de sua testa e mesmo com a aparência de acabado, eu ainda tenho vontade de o beijar.

E é o que eu faço. Me aproximo e deixo um selar em seus lábios quentes e macios, ele sorri e me puxa para mais perto. Encaro o céu, ainda era menos de 18h, nuvens enfeitavam o céu. Então ficamos ali, até anoitecer, apontando para formas de nuvens, conversando sobre a vida e vez ou outra, se beijando.

Agora o sol não estava mais ao horizonte, apenas as estrelas e a lua enfeitavam o céu. Uma brisa leve balançava meu cabelo. O contraste da mão quente de Clay com o vento frio me trazia uma sensação tão boa.

- George, quando eu for embora - ele começa - você promete não me esquecer?

- Clay... - sinto um aperto no coração ao assunto vir a tona - não diga isso antes da hora, vai que algo acontece?

- Não vai acontecer, meu pai quando que algo - ele suspira pesadamente - ele consegue.

- Não vamos falar disso agora, quero aproveitar esse momento - falo e o vejo dar um sorriso sem dentes.

- Obrigado - ele fala com a voz melancólica, mas de certa forma, alegre.

- Pelo o que?

- Por você ter aceitado recomeçar - ele vira o rosto pra mim e eu vejo uma lágrima solitária descer pelo seu rosto - você está me dando os melhores dias da minha vida.

- Até parece que você vai morrer - falo, tentando ser cômico, mas ainda com o coração pesado. Ele desvia o olhar quando digo isso, o que me faz levantar e o agarrar - calma, é sério?

- Não, maluco - ele fala rindo - na real, vai que eu morro daqui 10 segundos, não sei...

- Não fala isso!

- 1... 2... 3... - ele começa.

- Clay! - tento tapar sua boca para ele parar, mas o garoto ria e contava com a mão.

- 9... 10! - a contagem terminou, nada aconteceu. Mesmo sendo uma brincadeira, me deixou com medo - viu? Não aconteceu nada!

De repente, ouço passos se aproximando. Ergo meus olhos e vejo um homem alto e mau encarado.

- Clay, quem é ele? - o homem fala. Quem é ele?

- P-pai?

Boa noite, Cinderela | Dreamnotfound (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora