(Na mata. Entra Edgar.)
Edgar: Ouvi gritarem meu nome e, graças ao oco propício de uma árvore, escapei à caçada. Não há saída, nenhum lugar onde um guarda e a mais rigorosa vigilância não procurem prender-me. Enquanto estou livre devo arranjar um meio de salvar minha vida. Estou resolvido a assumir a aparência mais vulgar e miserável, o limite em que a miséria, na sua degradação do homem, o aproxima do animal. Sujarei meu rosto com estrume, enrolarei trapos na cintura, como os duendes darei nós nos meus cabelos e, expondo minha nudez, afrontar os ventos e as inclemências do céu. O lugar me oferece exemplos e modelos – os mendigos do hospício de Bedlam, com berros horripilantes, enfiam, nos braços nus, intumescidos e dormentes, alfinetes, espinhos, pregos, farpas de árvore e, com esse horrível aspecto, percorrem granjas pobres, aldeias miseráveis, currais e moinhos e, às vezes com imprecações lunáticas, outras com orações, forçam a caridade dos que encontram. Ser um pobre maltrapilho, um pobre Tom, ainda é alguma coisa. Edgar já não é nada. (Sai.)