(Um aposento no palácio do Duque de Albânia. Entram Goneril e seu mordomo Osvaldo.)
Goneril: Meu pai bateu em meu fidalgo porque ele repreendeu o Bobo?
Osvaldo: Foi, senhora.
Goneril: Assim me agride ele dia e noite; a todo momento insulta e ofende, semeando a discórdia entre nós todos. Não agüento mais. Seus cavaleiros se tornam turbulentos e ele próprio nos repreende por qualquer ninharia. Quando voltar da caçada não falarei com ele. Diz que me sinto mal. Se vocês relaxarem os serviços farão muito bem; eu respondo por isso.
Osvaldo: É ele chegando, senhora. Estou ouvindo. (Trombas de caça no interior.)
Goneril: Assumam um ar de cansada negligência, tu e teus companheiros; gostaria mesmo que isso provocasse uma discussão. Se a ele não lhe agrada, que vá para a ca-sa de minha irmã. Ela pensa exatamente como eu – não queremos mais ser tuteladas. É um velho inútil que pretende ainda exercer os poderes que já não lhe pertencem! Por minha vida, os velhos caducos voltam à infância,
merecem repreensões e não carinho
quando se vê que erram no caminho.
Não esqueças o que eu te disse...
Osvaldo: Muito bem, senhora.
Goneril: E que os cavaleiros dele, de ora em diante, encontrem em vocês só olhares de desdém: o que resultar disso não tem importância. Avisa os teus companheiros. Farei nascer daí, tenho certeza, uma boa ocasião para dizer o que sinto. Escreverei logo à minha irmã para que aja exatamente como eu ajo. E preparem o jantar. (Saem.)