Encontrei-me com a tia Joyce depois que aluguei uns livros na biblioteca e conversei com Dean O'Conner, um estranho realmente "estranho" que acabei de conhecer. Mais anormal ainda é o fato de eu ter aceitado sair com ele, mas reprimi esse pensamento quando lembrei de que ainda não havia falado com ninguém desde que cheguei de viagem, nem mesmo havia pegado no meu celular.
Quando voltamos para casa já era noite, o tio Roger estava na sala assistindo a um programa de esportes e a tia Joyce se enfiou na cozinha para preparar o jantar. Fui para o meu quarto e vasculhei em tudo à procura do celular e o encontrei no bolso lateral da mochila da escola. Não estava ligando de maneira alguma. Maldição, resmunguei comigo mesma. A bateria dura menos do que a minha paciência, o liguei no carregador e assim que passou a parte da abertura, uma, duas, vinte, cento e cinquenta e duas mensagens não lidas. Jasmine havia feito um grupo num aplicativo e a conversa deles já era desde o dia anterior.
Eu: Jasmine, você sabe que odeio quando me adiciona nesse tipo de coisa. Mesmo assim já estou com saudades de todos vocês e só estou respondendo agora por que tive que fazer algumas coisas. Abraços.
Não esperei resposta, deixei o celular carregando enquanto tomava um banho. O jantar já estava pronto quando terminei de me vestir, desci e tomei um lugar na pequena mesa.
— Como foi o dia? — perguntou tio Roger meio genérico.
— Como se você estivesse interessado em saber — replicou tia Joyce com uma pontada de ironia.
O jantar estava uma delícia, mesmo que a tia Joyce seja irmã da minha mãe, Rachel não tem nada a ver com ela no quesito comida. Uma vez ela tentou fazer um bolo e causou um pequeno incêndio na cozinha, quando os bombeiros apagaram as chamas tiraram um carvão gigante de dentro do forno por que ela também tinha exagerado no fermento.
— Então, querida, o que vai fazer da sua vida aqui em Nova York? — perguntou tia Joyce, cortando o bife — Pelo que você me disse não se inscreveu em nenhuma faculdade.
— Eu estava pensando em trabalhar.
— Sério? — ela arregalou os olhos em surpresa — Um pensamento muito maduro para alguém da sua idade.
— É que quero ser independente e estou adiando a ideia da faculdade por que não sei no que quero me formar — falei, sincera.
— Eu tenho uma amiga, naquela biblioteca que você foi ontem. — Disse tia Joyce e eu assenti com a cabeça — Ela está me devendo um favor e eu soube que precisam de uma ajudante lá, não é grande coisa, mas para alguém que está começando...
— Aceito! — respondi antes que ela terminasse — Para mim está de ótimo tamanho, contanto que eu não fique desocupada.
— Amanhã irei falar com ela — ela piscou para mim.
— Você parece seu pai, Aurora — falou tio Roger — Ele também tinha esse espírito de quem quer bater as asas logo cedo. Isso é bom.
A lembrança do meu pai fez voltar todas as imagens dele que eu havia escondido em algum lugar da minha mente, não era desconfortável, só dava saudades. O jantar terminou silencioso e ainda ajudei tia Joyce com a louça. Assim que subi para o quarto tirei todas as roupas que estavam emboladas dentro das malas e as coloquei na cômoda e no pequeno guarda-roupa que havia ali. Depois ignorei as oitenta e cinco mensagens não lidas e disquei para o telefone de casa. Quem atendeu foi Edith.
— Alô.
— Vó, sou eu — era um alívio ouvir a voz dela.
— Aurora! Como vai, você chegou bem, foi bem recebida?
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O lugar que nunca dorme
RandomAurora termina o segundo grau e se vê perdida quanto ao rumo de sua vida. Morando em Lexington com a família e cansada de lidar com os problemas de sua mãe ela decide ir para a casa de seus tios em Nova York. Lá conhece Dean, que muda sua visão sobr...