Dois dias depois Dean se foi, mandei lembranças para a família dele e pedi que caso fosse visitar meus tios dissesse que sinto saudade. Na volta do aeroporto Rachel resolveu passar em uma lanchonete para comermos sanduíches gigantescos, depois eu pedi para visitar o Eden's Garden. Quando fiquei diante do túmulo de Edith de novo foi menos doloroso que a primeira vez, porém não reduziu meu pesar.
Uma semana se passou, recusei convites para sair com os amigos, e sem explicação alguma, eu não tinha mais vontade de fazer nada. Vivia enfiada dentro do quarto respirando mofo. As tentativas de Rachel para me animar eram em vão, eu me retraía de qualquer coisa alegre ou com um mínimo de diversão. Dean e eu nos falávamos por telefone, o que não era a mesma coisa de conversar pessoalmente e a falta dele piorou as coisas.
Um mês foi embora, eu já estava com raiva de mim mesma por praticamente não estar vivendo. Mas certa manhã Rachel bateu na minha porta eufórica por ter recebido um pacote endereçado a mim. Fui até a sala e ela me mostrou uma caixa retangular meio achatada sobre a mesa. Abri com curiosidade e havia dois cadernos, os que eu usava como diário em Nova York, foi quando percebi que não havia trazido eles. Junto com o pacote havia um bilhete.
Aurora, fui visitar seus tios um dia desses e adivinha, você esqueceu a coisa mais importante a levar consigo, sua vida. Continue a escrevê-la, encontre suas respostas. Siga em frente. Você já deu os primeiros passos nestas páginas. Parou. O que você precisa agora é de um recomeço.
Dean
P.S.: A Lisa mandou um abraço.
Aquilo me trouxe um raio de esperança, uma ressuscitação. Não perdi tempo, continuei da última frase que havia parado e acrescentei todo o resto. Mas pensei nas palavras de Dean, que há pessoas no mundo com vidas tão desinteressantes quanto a minha. Então me veio a ideia de compartilhar isso. Passei todo o texto para o computador, organizando, acrescentando, melhorando... Linhas viraram parágrafos, parágrafos se transformaram em capítulos e assim fui tecendo minha vida em palavras.
Encontrei um site de leitores e escritores na internet que permitia a postagem de livros. Comecei a pôr os capítulos um por um, eu estava empolgada e isso ficou óbvio com minha mudança de humor perceptível a Rachel e Grace. Os leitores apareceram bem depois, no princípio apenas uma visualização aqui e ali, mas nada que me fizesse parar. Continuei a escrever e postar. Após duas semanas já havia alguns comentários, pessoas que elogiavam e pediam mais. Dean tinha razão, tive vontade de lhe dar um beijo pelo simples fato de ele existir. Nossas ligações tornaram-se mais frequentes, eu falava com Lisa também, mantinha contato com meus tios e eles diziam sentir minha falta assim como eu sentia a deles.
- Aurora! - chamou minha mãe da escada.
- Estou aqui! - gritei sem tirar os olhos da tela do notebook.
- Eu sei que você está aí, é justamente por isso que estou chamando você! Você precisa respirar!
- Mãe, estou terminando esse capítulo! - retruquei.
- Aurora Hopper, desça agora! - ordenou com uma extrema impaciência.
- Argh! - resmunguei e obedeci - Oi.
- Se vista, vamos sair.
- Para onde?
- Vamos jantar fora.
Fomos ao LexinGourmet, o restaurante mais sofisticado do centro. Mamãe pediu um prato cujo preço seria o suficiente para comprar seis pizzas na minha pizzaria favorita. Grace trocou olhares com um garoto da mesa ao lado durante todo o jantar e eu engoli uma quantidade minúscula de comida incapaz de me saciar. O prazer de gastar abundantemente era raro mas pareceu alegrar Rachel.
Quando chegamos em casa abri meu e-mail e havia uma mensagem nova na caixa de entrada. Era da Editora Scripto, estranhei, mas pensei ser uma daquelas promoções e ofertas, eu tinha cadastro em mais sites de editoras do que poderia contar. Abri e vi que não se tratava disso.
Caro(a) escritor(a), temos o prazer de informar que a história "The place that never sleeps", com todas as recomendações, chamou nossa atenção. Gostaríamos de pedir, se tiver qualquer interesse em se juntar a nós, para imprimir seu livro e nos enviar para analisarmos. Entre em contato conosco através do link abaixo. Ficaríamos muito felizes em recebê-lo(a) como outro(a) grande escritor(a). Tenha um ótimo dia! Sua equipe Scripto.
Cliquei no link e lembrei que não tinha uma impressora, liguei para Jasmine e ela se prontificou a imprimir, enviei tudo anexo por e-mail e agradeci com a minha vida por isso.
A vida nos reserva surpresas, sempre. Demorou semanas até um novo e-mail chegar após eu ter enviado o livro. Esperei pacientemente, a essa altura a versão online da história havia inflado em comentários e popularidade, o que não era para dar em nada acabou sendo alguma coisa. Alguns leitores me questionaram em determinados pontos (a mim por que usei os nomes originais na história), mas outros ficaram a meu favor. Havia um pouco de todos em cada linha, John, Rachel, Jasmine, Brian, Oliver, Roger, Joyce, Brad, Lourien e principalmente Edith. Meu livro foi aprovado com louvor pela editora, eu só não esperava que tudo mudasse a partir daí.
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O lugar que nunca dorme
RandomAurora termina o segundo grau e se vê perdida quanto ao rumo de sua vida. Morando em Lexington com a família e cansada de lidar com os problemas de sua mãe ela decide ir para a casa de seus tios em Nova York. Lá conhece Dean, que muda sua visão sobr...