- Eu sei que tem alguma coisa acontecendo - falei para Dean no caminho para o Museu.
- Tem alguma noção do que se trata?
- Eu não sei e tenho medo de descobrir o que é. No momento, é melhor não pensar nisso. - Encerrei o assunto, não queria encher a cabeça de O'Conner com meus palpites sobre qual será o novo problema que surgirá em minha vida. - O que você disse mesmo sobre essa exposição?
- Edward Hopper, simplesmente um dos meus pintores favoritos - ele sentiu que eu havia notado o familiar sobrenome do artista e sorriu convencido - Sim, foi por isso mesmo que eu trouxe você aqui.
O Museu do Brooklyn, sua estrutura externa era similar a uma construção grega majestosa. Haviam vários carros estacionados na frente, era o primeiro dia da exposição e pelo jeito arrecadaria um bom dinheiro. Segui com Dean pela multidão que entrava, um guia nos acompanhou e começou a contar a história de Edward, à medida que os quadros eram apresentados me senti mais cativada ainda pela riqueza de detalhes das obras. Lembrei que os desenhos que vi no quarto de O'Conner seguiam o mesmo padrão de traços e cores.
O que mais me impressionou foram os quadros que retratavam mulheres, em diferentes lugares, em uma lanchonete com uma xícara de café, sentada na beira de uma cama, lendo um livro dentro de algum tipo de transporte ou simplesmente de pé contemplando algo através de uma janela. Todas me pareciam tão pesarosas, como se estivessem à espera de algo, um acontecimento que mudasse sua realidade deprimente, um raio de esperança que mostrasse a saída da angústia, uma centelha que as dirigisse à algum sentido. Edward Hopper, literalmente, refletiu minha antiga essência em pinceladas puras e irretocáveis.
Depois que o tour acabou resolvi ver Lisa, porém quando chegamos à casa dos O'Conner tudo estava fechado, não havia ninguém.
- Eles devem ter levado ela para visitar nossa avó - insinuou Dean. - Podemos ir tomar um sorvete se você quiser.
- Não, podemos assistir a um filme, pelo tempo a chuva não vai demorar a cair - não seria bom eu contrair uma gripe, tenho facilidade para isso.
- Tudo bem - assentiu ele.
Fizemos pipoca e começamos a assistir um filme de mistério, era do meu tipo preferido. O tempo estava esfriando, Dean trouxe um cobertor e ficamos enroscados debaixo dele. Funcionou por um tempo até ficar insuportavelmente quente.
- Você já sentiu como se sua vida estivesse completa? - perguntei em um momento.
- Agora, neste segundo, ela está - ele depositou um beijo em minha testa.
- Eu pensei que nunca me sentiria assim - há algum tempo eu vivia à toa, sem a mínima noção de como dar o primeiro passo para o futuro, então me veio Dean, e com ele um sentimento que jamais cogitei ser capaz de possuir tão intensamente. - Eu te amo.
- Eu também te amo, Aurora - ele murmurou antes de enconstar os lábios nos meus.
Aprofundei o beijo, emaranhei os dedos nos cabelos ascastanhados de O'Conner puxando-o para mais perto. Suas mãos agarraram em minha cintura colocando-me em seu colo e de repente estávamos nos movendo fervorosamente no sofá.
- Quarto? - ele perguntou ofegante.
Apenas assenti, corremos escadas acima e fomos para o cômodo de Dean, tendo o cuidado de trancar a porta. Tirei sua blusa e joguei-a em algum canto do quarto, reparei que seu corpo era atraente aos meus olhos como nunca antes havia sido. As mãos de O'Conner entraram por dentro de minha blusa na intenção de tirá-la, repentinamente tive o impulso de me afastar.
- O que foi? - ele perguntou - Fiz alguma coisa errada?
- Não, não é você, sou eu - dei alguns passos para trás.
- Você está com medo? - sua voz soou compreensiva.
- Eu nunca fiz isso, Dean. Para ser sincera estou sim. Brad sempre quis que isso acontecesse, mas eu não achava que ele era o cara certo para a minha primeira vez. - Expliquei. - Você é o cara certo, sabe disso. Mas sou insegura, nunca fiquei nua na frente de ninguém, e se você não me achar... bonita e atraente? Eu tenho defeitos como todas as outras, mas-
- Shhh - ele tomou meu rosto entre as mãos - Eu não me apaixonei só pelo que vi, Aurora. Mesmo que eu fosse cego ainda sim acharia você linda, e só me faria amá-la ainda mais.
- Desculpa por estragar tudo.
- Você não estragou - fui puxada para um abraço- Eu não tenho pressa para isso. Vai acontecer quando você se sentir pronta.
- Mas eu estou pronta, Dean. - contestei - Eu quero você e nunca tive tanta certeza de alguma coisa até agora.
Ele se afastou e fitou meus olhos veemente, dei-lhe o consentimento para continuar e suavemente suas mãos levantaram minha blusa revelando um corpo que de modo algum se mostrou a outros olhos senão, agora, os dele. Meu constrangimento se tornou um pouco evidente, isso não passou despercebido para Dean.
- Perfeita - seus dedos afagaram meu rosto - Esse é um momento especial para mim também, e eu só podia compartilhá-lo com você.
O momento fluiu tão naturalmente, como se cada segundo tivesse sido premeditado, dispensamos o uso da luz, a claridade que provinha da janela não era tão intensa graças ao céu nublado e isso criou uma atmosfera mais confortável para nós. Não poderia ser mais inesquecível, a sensação de entrega foi uma coisa nova, mas Dean fez com que tudo se tornasse singular e memorável para o resto de nossos dias.
Os pais de O'Conner juntamente com Lisa chegaram no fim da tarde. A pequena irmã de Dean se alegrou com a minha presença, brincamos juntas por um bom tempo antes de eu decidir ir embora, mas com a insistência de seus pais resolvi ficar para o jantar. Quando vi a família toda reunida senti falta dos tempos em que tudo era normal em minha casa, perguntei-me, pela primeira vez, o que meu pai estaria pensando de nossas vidas agora. A minha, de Rachel, Edith e Grace. De onde quer que John estivesse, só desejei que aquele sorriso orgulhoso existisse em seu rosto neste momento.
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O lugar que nunca dorme
RandomAurora termina o segundo grau e se vê perdida quanto ao rumo de sua vida. Morando em Lexington com a família e cansada de lidar com os problemas de sua mãe ela decide ir para a casa de seus tios em Nova York. Lá conhece Dean, que muda sua visão sobr...