Inconveniência

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Eu tinha a absoluta certeza de que estava no fundo da mala e o achei, para a minha sorte. O vestido que eu havia ganhado de Edith ano passado no meu aniversário. Em uma tarde de compras no shopping havíamos passado por uma vitrine e desde a primeira vez que pus os olhos nele me apaixonei. Seu comprimento vai até três dedos antes do joelho, a saia contém pregas bem espaçadas, a cintura é delicadamente demarcada, o decote é mínimo e comportado mesclado com as alças grossas. O tecido é macio e espesso contendo um zíper discreto nas costas, tudo isto banhado em um azul marinho tão escuro que pode facilmente ser confundido com preto à noite.

Penteei meu cabelo e passei um bom tempo tentando criar algo decente, quando minha paciência expirou fiz um rabo de cavalo na parte baixa da cabeça, desfiei alguns fios para não deixá-lo muito formal. Maquiagem simples e natural, e desta vez, a ocasião pedia um salto alto. O'Conner disse que me buscaria em casa então não saí do quarto até que tia Joyce me chamasse.

- Aurora! - ela berrou do andar de baixo. Desci as escadas com cuidado, não seria agradável passar o resto da noite em um hospital. - Dean acabou de chegar. Entre, querido.

- Obrigado senhorita... - ele esperou.

- Joyce - respondeu ela quase corando.

- Quem está aí? - perguntou tio Roger, arrogante e curioso.

- É Dean, filho dos O'Conner! - ela gritou de volta.

- Não faço ideia de quem é!

- Com licença, é melhor eu ir falar com ele. Oh, Aurora, você está linda - elogiou tia Joyce ao me ver - Divirtam-se.

- Obrigado - respondeu Dean - Vamos?

A noite estava calma apenas no céu, as ruas do Brooklyn continuavam com seu movimento constante. O'Conner fez questão de segurar minha mão desde que cruzamos a esquina da casa e aquela sensação boa se repetiu.

- À propósito, você está linda - ele disse sorrindo.

- Já me acostumei com seus elogios - devolvi o sorriso. - Não é tao ruim assim.

Chegamos ao restaurante e dizemos nossos nomes na recepção, um homem de trajes formais nos guiou até uma mesa ao lado da janela de vidro do estabelecimento. Brad ainda não estava lá, o hostess ofereceu alguma bebida, porém decidimos esperar um pouco. O ambiente era sofisticado, as pessoas trajavam vestes caras, mas fiquei feliz em ver que Dean e eu nos vestimos conforme a ocasião.

- Eu não teria tanto dinheiro para trazer você a um lugar assim. - houve um pouco de decepção em sua voz.

- Quem disse que eu gosto de lugares assim? Preferiria que eu e você fôssemos tomar um café e comer um sanduíche com recheio de mostarda.

Ele deu uma gargalhada cômica por isto.

- O Brad sempre levou você a lugares tão... chiques?

- Levava - corrigi - Ele sempre gostou de ostentar embora o dinheiro e o carro fosse do pai dele. Sempre foi muito egocêntrico também.

- Falando no egocêntrico - ele olhou para alguma coisa que vinha atrás de mim.

- Boa noite - Brad apareceu ao meu lado.

- Boa noite - eu e Dean respondemos em uníssono.

O'Conner logo se levantou da cadeira à minha frente para que Brad sentasse e depois se pôs no assento ao meu lado.

- Desculpem o atraso - ele disse se sentando - É que eu estava em uma merda de reunião com meu pai.

O tom e o modo com que a voz dele soava não enganou minha audição ou muito menos meus conhecimentos sobre ele.

O lugar que nunca dormeOnde histórias criam vida. Descubra agora