Predador ou presa?

190 11 0
                                    

POV Reggie

Coragem e medo. O que poderia significar uma pessoa corajosa? Alguém destemido e valente que não pensa duas vezes? Alguém que age por impulso, um irresponsável e inconsequente?

Não sei definir essa palavra, nem mesmo dar o conceito dela, porque nunca fui de fato corajoso, meu medo tirou essa virtude de mim.

Vim ao mundo sendo uma aberração e partirei sendo uma. Nos meus primeiros meses de vida, não recebi uma identidade a qual poderia chamar de minha, chamavam-me de "garoto", e acho que Lorenzo teria mantido esse "nome" se não fosse a lei pegando em seu pé.

Na escola que frequentava nunca fui o garoto inteligente que todos zoavam, nem o bad boy que todos temiam, não era um atleta, nem mesmo o esquisitão que todos repugnavam. Não tinha talento para nada disso. Eu era apenas Reggie Hacker, o número 26 da chamada que se sentava próximo às janelas.

Não tive pais presentes, amigos ou influências sejam elas boas ou ruins, que me levaram a ter algum tipo de personalidade, eu era apenas um corpo o qual a alma vazia de um garoto perdido se encontrava. Eu não era ninguém, até ele...

Felizmente em uma das noites que meus pais se suportavam o bastante para se deitarem juntos, o fruto de outro erro inconsequente veio ao mundo. Senhoras e senhores, Vinnie Hacker, meu irmão mais novo.

Até o dia de seu nascimento, não sentia nada em meu peito, lembro-me de quando o trouxeram para casa. A mais nova pestinha não parava de chorar, meu pai estava chapado demais para qualquer reação, e minha mãe gritava de dor devido aos terríveis métodos de dar à luz por esses lados, ele nasceu no corredor do hospital. Com o tempo, percebi que aquela máquina berrante morreria logo, seus pais não cuidavam nem da própria vida, quem dirá a de um pobre neném.

Porém, pela primeira vez em muito tempo, algo se despertou em meu coração. E não, não era amor, era inveja. 'Porquê ele chora tanto?' Era o que eu pensava. Sentia inveja simplesmente pelo fato de que um mero serzinho conseguia sentir coisas e eu não, ele conseguiu um nome e eu não, ele poderia morrer para se ver livre dessa vida de sofrimentos, e eu não, por que?

Então, a partir daqueles questionamentos a minha relação com meu irmão se acendeu pela primeira vez, me sentei bem ao lado de seu berço e prometi que iria fazê-lo viver, e sua parte do trato era me ensinar a viver.

Sempre fomos o apoio um do outro, éramos nós contra ele, protegendo ela. Sempre foi assim. Porém o medo veio a acalentar meu coração para uma realidade diferente.

Vinnie era uma criança extraordinária, em seus primeiros anos de vida aprendera a ler e a escrever, ele era criativo, e nos almoços de domingo conseguia acalmar a besta de nossas vidas. E eu? Jamais fui isso. Sei que meu irmão tem inveja de mim por eu ter conseguido sair da cidade, se ele soubesse que foi porque sou uma medroso de merda, e ele valente...

O sentimento mais perigoso que o amor e ódio juntos em uma chama ardente? O medo.

— REGGIE, SE ACALMA! - ele berrava enquanto via seu rosto ficar roxo, eu apertava seu pescoço com tanta força, que não a media

— NOSSA MÃE, VINNIE! Você matou ela caralho! Ela era a única coisa que eu tinha e você tirou ela de mim!! - eu gritava

— Eu não matei... - falou em um fio de voz, perdendo a força pela falta de oxigênio

— Você é um babaca! Não sabe essa dor que estou sentindo, porque diferente de mim, você tem uma caralhada de gente que se importa com você, que tiram das próprias veias sangue para colocar em VOCÊ! - solto-o - Você sempre tem tudo, EU NUNCA TIVE NADA, E VOCÊ CONSEGUIU TUDO! - falo com a voz embargada dando soluços

South Side - Vinnie HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora